CIENTISTAS EXPLICAM ENIGMÁTICA ASSIMETRIA DE LAGOS EM TITÃ

Investigadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos EUA, do JPL (Jet Propulsion Laboratory) da NASA, e de outros institutos, sugerem que a excentricidade da órbita de Saturno em torno do Sol possa ser responsável pela distribuição invulgarmente assimétrica de lagos nas regiões polares sul e norte da maior lua do planeta, Titã. Um artigo descrevendo a teoria aparece na edição de 29 de Novembro da revista Nature Geoscience.
A órbita alongada de Saturno em torno do Sol expõe partes diferentes de Titã a diferentes quantidades de luz solar, o que afecta os ciclos de precipitação e evaporação nessas áreas. As variações semelhantes na órbita da Terra também leva a ciclos de idades do gelo a longo-termo no nosso planeta.
Como revelado por dados do instrumento SAR (Synthetic Aperture Radar) a bordo da sonda Cassini, os lagos de metano líquido e etano nas altas latitudes norte de Titã, cobrem uma área 20 vezes maior que a dos lagos nas altas latitudes a sul. Os dados da Cassini também mostram que existem mais lagos significativamente parcialmente cheios e agora vazios no norte (nos dados de radar, as características lisas -- como superfícies de lagos -- aparecem como áreas escuras, enquanto características mais irregulares -- como o fundo de um lago vazio -- aparecem brilhantes). A assimetria não é provavelmente um acaso estatístico devido à grande quantidade de dados recolhidos pela Cassini ao longo da sua missão já com cinco anos.
Os cientistas consideraram de início a ideia de que "há algo inerentemente diferente na região polar norte da sul, em termos de topografia, tal como precipitação, drenos ou infiltrações," afirma Oded Aharonson do Caltech, autor principal do artigo da Nature Geoscience.
No entanto, Aharonson nota que não existem diferenças substanciais conhecidas entre as regiões norte e sul para suportar esta possibilidade. Alternativamente, o mecanismo responsável por esta dicotomia regional poderá ser sazonal. Um ano em Titã dura 29,5 anos terrestres. A cada 15 anos terrestres, as estações em Titã invertem-se: chega o Verão num hemisfério e Inverno no outro. De acordo com esta hipótese de variação sazonal, a precipitação e a evaporação do metano varia em diferentes estações -- os lagos enchem-se a norte enquanto lagos esvaziam-se a sul.
O problema com esta ideia, disse Aharonson, é que explica o decréscimo de cerca de um metro por ano nas profundidades dos lagos no hemisfério de Verão. Mas os lagos de Titã têm profundidades médias na ordem das várias centenas de metros, e não ficariam vazios (ou cheios) em apenas 15 anos. Além do mais, a variação sazonal não pode explicar a disparidade entre os hemisférios no que toca ao número de lagos vazios. A região polar norte tem aproximadamente três vezes mais bacias de lagos vazias que a região sul e sete vezes mais lagos parcialmente cheios.
"O mecanismo sazonal pode ser responsável por parte do transporte global de líquido metano, mas não é a história toda." Uma explicação mais plausível, diz Aharonson e seus colegas, está relacionada com a excentricidade da órbita de Saturno -- e por isso de Titã, seu satélite -- em torno do Sol.
Investigadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos EUA, do JPL (Jet Propulsion Laboratory) da NASA, e de outros institutos, sugerem que a excentricidade da órbita de Saturno em torno do Sol possa ser responsável pela distribuição invulgarmente assimétrica de lagos nas regiões polares sul e norte da maior lua do planeta, Titã. Um artigo descrevendo a teoria aparece na edição de 29 de Novembro da revista Nature Geoscience.
A órbita alongada de Saturno em torno do Sol expõe partes diferentes de Titã a diferentes quantidades de luz solar, o que afecta os ciclos de precipitação e evaporação nessas áreas. As variações semelhantes na órbita da Terra também leva a ciclos de idades do gelo a longo-termo no nosso planeta.
Os hemisférios norte e sul de Titã, que mostram a grande disparidade entre a abundância de lagos no norte e a sua escassez no sul. A hipótese apresentada favorece o fluxo longo-termo de hidrocarbonetos voláteis, predominantemente metano, de hemisfério para hemisfério. Recentemente, a direcção do transporte tem sido de sul para norte, mas o efeito foi o inverso há dezenas de milhares de anos atrás.
Crédito: NASA/JPL/Caltech/UA/SSI
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Como revelado por dados do instrumento SAR (Synthetic Aperture Radar) a bordo da sonda Cassini, os lagos de metano líquido e etano nas altas latitudes norte de Titã, cobrem uma área 20 vezes maior que a dos lagos nas altas latitudes a sul. Os dados da Cassini também mostram que existem mais lagos significativamente parcialmente cheios e agora vazios no norte (nos dados de radar, as características lisas -- como superfícies de lagos -- aparecem como áreas escuras, enquanto características mais irregulares -- como o fundo de um lago vazio -- aparecem brilhantes). A assimetria não é provavelmente um acaso estatístico devido à grande quantidade de dados recolhidos pela Cassini ao longo da sua missão já com cinco anos.
Os cientistas consideraram de início a ideia de que "há algo inerentemente diferente na região polar norte da sul, em termos de topografia, tal como precipitação, drenos ou infiltrações," afirma Oded Aharonson do Caltech, autor principal do artigo da Nature Geoscience.
No entanto, Aharonson nota que não existem diferenças substanciais conhecidas entre as regiões norte e sul para suportar esta possibilidade. Alternativamente, o mecanismo responsável por esta dicotomia regional poderá ser sazonal. Um ano em Titã dura 29,5 anos terrestres. A cada 15 anos terrestres, as estações em Titã invertem-se: chega o Verão num hemisfério e Inverno no outro. De acordo com esta hipótese de variação sazonal, a precipitação e a evaporação do metano varia em diferentes estações -- os lagos enchem-se a norte enquanto lagos esvaziam-se a sul.
O problema com esta ideia, disse Aharonson, é que explica o decréscimo de cerca de um metro por ano nas profundidades dos lagos no hemisfério de Verão. Mas os lagos de Titã têm profundidades médias na ordem das várias centenas de metros, e não ficariam vazios (ou cheios) em apenas 15 anos. Além do mais, a variação sazonal não pode explicar a disparidade entre os hemisférios no que toca ao número de lagos vazios. A região polar norte tem aproximadamente três vezes mais bacias de lagos vazias que a região sul e sete vezes mais lagos parcialmente cheios.
"O mecanismo sazonal pode ser responsável por parte do transporte global de líquido metano, mas não é a história toda." Uma explicação mais plausível, diz Aharonson e seus colegas, está relacionada com a excentricidade da órbita de Saturno -- e por isso de Titã, seu satélite -- em torno do Sol.
Tal como a Terra e outros planetas, a órbita de Saturno não é perfeitamente circular, sendo ao invés algo elíptica e oblíqua. Por causa disto, durante o Verão no hemisfério sul, Titã está 12% mais perto do Sol do que durante o Verão no hemisfério norte. Como resultado, os Verões no norte são longos e subjugados; os Verões no sul são curtos e intensos.
"Nós propomos que, nesta configuração orbital, a diferença entre a evaporação e a precipitação não é igual nas estações opostas, o que significa que existe um transporte de metano líquido do sul para o norte," disse Aharonson. Este desequilíbrio levaria a uma acumulação de metano -- e por isso à formação de muitos mais lagos -- no hemisfério norte.
Esta situação é apenas verdadeira de momento, ao que parece. Ao longo de escalas de tempo de dezenas de milhares de anos, os parâmetros orbitais de Saturno variam, por vezes aproximando Titã do Sol durante o Verão no norte, e mais longe durante o Verão no sul, e produzindo um transporte de metano inverso. Isto deveria levar a um aumento de hidrocarbonetos -- e uma abundância de lagos -- no hemisfério sul.
"Tal como a Terra, Titã tem variações climáticas que duram dezenas de milhares de anos, produzidas por movimentos orbitais," disse Aharonson. Na Terra, estas variações, conhecidas como ciclos de Milankovitch, estão ligadas a mudanças na radiação solar, que afectam a redistribuição global de água na forma de glaciares, e que se pensa ser responsável por idades do gelo. "Em Titã, existem ciclos climáticos a longo-termo no movimento global do metano, que produzem lagos e esculpem bacias de lagos. Em ambos os casos descobrimos um registo do processo embebido na geologia," acrescenta.
"Podemos ter descoberto um exemplo de mudança climática de longo-termo, análoga aos ciclos climáticos de Milankovitch na Terra, ou a outro objecto no Sistema Solar," conclui.
Sol e Terra da ISS
Esta é apenas uma das muitas vistas espectaculares da Estação Espacial Internacional. O Sol, uma Terra crescente, e o longo braço de um painel solar, foram visíveis de uma janela quando o vaivém espacial Atlantis visitou o posto espacial a semana passada. Os reflexos da janela e os clarões hexagonais da câmara estão superpostos. O vaivém espacial aterrou na Sexta-feira, após uma missão de 10 dias para expandir e reabastecer a ISS. Com o número STS-129, a missão do vaivém espacial também foi o meio de transporte para trazer a astronauta Nicole Stott de volta à Terra, da sua estadia na ISS como Engenheira de Voo nas tripulações da Expedition 20 e 21.
PHOBOS PODERÁ SER O PRÓXIMO GRANDE SALTO DA HUMANIDADE

Phobos é um nome que irá começar a ouvir bastante nos próximos anos. Pode ser pouco mais que um asteróide - com apenas dois mil milionésimos da massa do nosso planeta, sem atmosfera e quase sem gravidade -, mas a maior das duas luas de Marte está destinada a tornar-se no nosso próximo posto no espaço, a nossa segunda casa.
Embora a nossa própria Lua esteja aqui bem perto, a sua gravidade implica o uso de foguetões relativamente grandes de modo a levar os astronautas para e da sua superfície. O mesmo se aplica a Marte, o que torna o lançamento de missões ao Planeta Vermelho também algo dispendioso - talvez até proibitivamente caro, a acreditar na revisão da política de exploração espacial da NASA pelo Presidente Barack Obama. Em Outubro passado, um comité de especialistas independentes, liderado pelo industrialista Norman Augustine, concluíu que a NASA necessitaria de cerca de 3 mil milhões de dólares por ano, a mais, se quisesse realmente enviar astronautas de volta à Lua - já sem falar de Marte - até 2020. Mas isso não quer dizer que os seres humanos não têm mais lugares para onde ir.
Uma opção que o relatório Augustine sugeriu levaria tripulações da NASA até asteróides vizinhos e até aos satélites de Marte. "O custo bruto de uma missão a Marte está em fazer chegar e trazer os astronautas da superfície," diz Pascal Lee, presidente do Instituto de Marte em Moffett Field, Califórnia, EUA. "Se esperarmos até que tudo esteja pronto, passar-se-ão décadas. Phobos oferece-nos uma maneira de chegar à porta de Marte."
Dado que Phobos é tão pequeno, o campo gravitacional que gera é muito fraco, tão fraco que uma vez que alcançássemos órbita marciana, necessitaríamos apenas de poucos impulsos para aterrar e descolar de Phobos. Isto significa que é mais barato e fácil enviar naves até à distante lua Phobos, do que à superfície da nossa própria Lua.
A partir de Phobos podíamos facilmente explorar a superfície de Marte usando telescópios ou rovers controlados remotamente, antes de fazer a descida final até à superfície do planeta quando houvesse dinheiro.
Mas Phobos tem mais que se lhe diga: não é apenas um ponto de paragem conveniente - é muito mais. Phobos é um mistério espacial gigante. "Sabemos como são todos os corpos do Sistema Solar, à excepção de Phobos," afirma Lee. "Não sabemos como é que se formou."
Phobos foi descoberto, conjuntamente com a sua irmã mais pequena, Deimos, em 1877 pelo astrónomo americano Asaph Hall no Observatório Naval dos Estados Unidos em Washington, DC. Durante grande parte dos anos que seguiram, os pequenos tamanhos das luas relegaram-nas para meras notas de rodapé nos livros de Astronomia. Phobos é uma rocha irregular com menos de 28 km de diâmetro, e Deimos é ainda mais pequena. Por isso têm sido ignoradas como pequenas rochas espaciais que se aproximaram demasiado de Marte e tiveram o azar de ser capturadas pela sua gravidade.
Esta visão foi amparada pelas primeiras medições da composição de Phobos, obtidas pelas sondas Mariner 9 e Vikings 1 e 2 nos anos 70. A luz solar reflectida da superfície mostrou que Phobos era escura, absorvendo mais de 90% da luz solar, e que se assemelhava com meteoritos condritos-carbonáceos. Pensa-se que estes antigos objectos celestes sejam originários das partes mais longínquas da cintura de asteróides, ao dobro da distância de Marte ao Sol. As medições mais recentes de Phobos revelaram uma parecença mais íntima com asteróides ainda mais antigos, descobertos apenas no Sistema Solar exterior, bem para lá da cintura de asteróides principal. O mesmo se verificou com Deimos.
São então asteróides capturados? Não é bem assim. As órbitas que estas luas seguem não são o que seria de esperar para corpos capturados. Em vez de orbitarem numa órbita aleatoriamente inclinada, como aconteceria se tivessem sido capturadas em alturas diferentes, tanto Phobos como Deimos seguem percursos que se situam perto do plano equatorial de Marte. O que se passa?
As órbitas equatoriais implicam que as luas se formaram no mesmo local e da mesma nuvem que coalesceu para formar Marte. Mas se isto for verdade, então a composição das luas não faz sentido; Phobos e Deimos deveriam ser parecidas com as rochas marcianas, e não com asteróides condritos-carbonáceos. Num esforço de compreender a composição e assim a origem de Phobos, a sonda Mars Express da ESA fez uma corajosa sequência de passagens rasantes, a um mínimo de 460 km da lua, em 2006, e 270 km em 2008.
A esta distância, a minúscula gravidade de Phobos alterou a velocidade da sonda por apenas alguns milímetros por segundo. Não obstante, os controladores da missão cá na Terra conseguiram identificar o seu efeito no seguimento do seu sinal de rádio - uma variação no sinal de apenas uma parte em um bilião.
"Foi um feito incrível, da parte de quem esteve envolvido," afirmou Martin Pätzold da Univeridade de Cologne na Alemanha e líder da experiência científica de rádio da Mars Express. Isto permitiu com que a massa de Phobos fosse medida com 100 vezes a precisão anterior, e também levantou a possibilidade da lua se tornar numa "sonda fiduciária" para melhor estudar a estrutura interna de Marte.
Durante os voos rasantes, a câmara HRSC a bordo da Mars Express mapeou a superfície de Phobos, o que levou à construção do modelo tridimensional mais preciso da lua jamais obtido e à medição do seu volume. Embora seja muito menos preciso que a sua massa, a determinação do volume permite a determinação da densidade média usando o valor ultra-preciso da massa. O que daqui emerge é um dos paradoxos mais interessantes da lua.
"A densidade média é inesperadamente baixa. Deve ser um corpo poroso," afirma Pätzold. Por isso em vez de ser um simples bocado de rocha sólida, deve ter provavelmente vastas cavernas no seu interior, o que pode proteger os futuros astronautas dos malefícios da radiação espacial.
No entanto, sem amostras do satélite, a sua composição permanece largamente desconhecida. Se for um asteróide capturado, o material de que é feito será menos denso que uma rocha vulgar, e a fracção oca rondará os 15%. Se a lua tiver uma composição equivalente à das rochas marcianas, então o vazio interior de Phobos deve ser maior: à volta de 45%.
Estas ideias dão dores de cabeça aos cientistas planetários. Se Phobos for constituído por rochas tipo-Marte, o tamanho deste vazio significa que a probabilidade da lua se ter formado a partir dos pequenos grãos de poeira em órbita de Marte, enquanto este se formava por baixo, é baixa, pois isto levaria à formação de um corpo sólido. Como alternativa, Pätzold e Pascal Rosenblatt do Observatório Real da Bélgica em Bruxelas, favorecem uma sequência de eventos na qual um impacto gigante em Marte expeliu grandes quantidades de detritos para órbita. Estes então coalesceram em ângulos fortuitos para formar o aglomerado que agora chamamos de Phobos.
Para testar esta sugestão, a Mars Express irá revisitar a lua em Março para o seu "flyby" mais rasante de sempre. A sonda passará a uns meros 60 km da superfície, fornecendo à equipa os primeiros vestígios do campo gravítico de Phobos.
"O campo gravitacional está relacionado com a distribuição interna da massa," afirma Rosenblatt. Por isso, quando a Mars Express estiver por cima de um vazio interior, não será tão influenciada como quando estiver por cima de rocha sólida.
Os investigadores irão também usar o instrumento MARSIS (Mars Advanced Radar for Subsurface and Ionospheric Sounding) para estudar o interior de Phobos. Durante os voos rasantes anteriores, a equipa do MARSIS descobriu como ressaltar o seu radar da lua. Agora esperam usar este radar penetrante para observar o seu interior. "Estamos confiantes em observar estruturas subsuperficiais em Março, mas aqui entram em jogo muitos factores," afirma Andrea Cicchetti do Instituto Italiano de Física de Ciência Interplanetária em Roma, que pertence à equipa do MARSIS.
A equipa é especialmente dotada para determinar a composição da lua cujo espectro sugere a hipótese de asteróide capturado. Rosenblatt pensa, no entanto, que existe uma clásula de fuga. "O espectro superficial pode ser o resultado da influência de milhares de milhões de anos de clima espacial," afirma. Sem uma atmosfera para as proteger, as rochas marcianas que coalesceram para formar Phobos podem ter sido alteradas superficialmente pelas partículas carregadas libertadas pelo Sol ao longo de milhares de milhões de anos, mascarando a sua verdadeira identidade e enganando os espectómetros. A solução? Aterrar em Phobos e trazer amostras para estudo cá na Terra.
Isto é exactamente o que a Rússia planeia fazer no final de 2011 com a sonda Phobos-Grunt (Phobos-solo em russo). "Não podemos compreender a origem de Phobos sem saber a composição da lua, e a Phobos-Grunt dir-nos-á isso mesmo," afirma Rosenblatt.
A Phobos-Grunt poderá até providenciar aos cientistas planetários informações cruciais acerca do próprio Planeta Vermelho. Durante os últimos quatro mil milhões de anos, os impactos de meteoritos em Marte devem ter expelido detritos para órbita. Phobos deve ter "arado" através destas correntes de detritos, algumas das quais deviam conter grandes bocados de rocha, como demonstrado pela cratera com 9 quilómetros de diâmetro em Phobos, a Stickney.
A maioria dos impactos teriam sido bem mais pequenos, o que provavelmente explica as "estrias" que abundam na superfície de Phobos. O mapa recente pela Mars Express mostrou que estas linhas são originárias do apogeu principal de Phobos, o ponto que está sempre virado na direcção do movimento da lua e é por isso o alvo natural para estes detritos.
O facto excitante é que a Natureza tem recolhido amostras de Marte há já milhares de milhões de anos e armazenou-as em Phobos - um dos locais mais fáceis de alcançar em todo o Sistema Solar. O que apenas precisamos de fazer é ir lá buscá-las. "Phobos é a Biblioteca de Alexandria de Marte," afirma Lee. "As amostras do jovem planeta Marte podem estar muito melhor preservadas em Phobos do que em Marte propriamente dito." Podem até conter a assinatura química de vida marciana, embora Lee realce fortemente o "pode" na afirmação.
E a Phobos-Grunt pode ser apenas a primeira numa linha de missões cada vez mais ambiciosas à maior lua de Marte. "Marte deve permanecer o destino final para a exploração tripulada," diz Leroy Chiao, antigo astronauta e membro do comité Augustine. "Mas se nós [o comité] tivéssemos pedido directamente o dinheiro necessário para aterrar em Marte, teríamos perdido credibilidade."
Para criar uma ponte, Lee encara Phobos como uma paragem ideal enquanto as técnicas e equipamentos necessários para aterrar em Marte são desenvolvidos pela NASA. Ele já estudou a viabilidade de uma hipotética missão canadiana a Phobos. Ele argumentou o seu caso tão bem que Lee está agora envolvido num estudo parecido para a NASA.
Ele realça que só o ir a Phobos permitiria aos astronautas praticar técnicas-chave para alcançar órbita marciana, como a aerotravagem, na qual uma nave perde velocidade ao "surfar" a atmosfera do planeta.
E mais: a lua poderia ter um armazém de peças de foguetão e outros equipamentos, construídos com o passar do tempo por missões robóticas. Quando os astronautas aí chegassem, equipamentos gastos ou avariados poderiam ser facilmente substituídos.
Se a missão da NASA seguir em frente, teria como alvo uma espectacular estrutura em Phobos conhecida como o Monolito. Esta plataforma rochosa sólida eleva-se da superfície até 90 metros.
A sonda aterraria perto do monolito, e poderia estudar a rocha exposta, e depois viajar até outra parte da lua e recolher mais amostras. Levantaria depois voo e viajaria até Deimos, para recolher amostras da lua mais pequena. Finalmente, regressaria à Terra. "Seria uma missão excitante," afirma Lee. "A missão poderia descolar da Terra cinco anos após a obtenção de um orçamento."
Está agora nas mãos da Casa Branca, enquanto estudam o Relatório Augustine. Nem mesmo Chiao sabe o resultado provável destas deliberações. "Tal como todos nós, estou apenas à espera que o governo decida como quer agir," afirma.
Aterrar em Phobos é uma maneira de ficar mais perto de Marte. Mas decerto que seria como viajar até um destino e não ter a coragem de bater à porta? Segundo Lee, não. "Existem imensas pessoas que quereriam ir nesta viagem espacial, incluíndo eu," afirma. "Só a vista de Marte seria de cortar a respiração."
Chiao, no entanto, afirma que seria duro fazer parte de uma viagem apenas a Phobos. "Para mim, é difícil imaginar percorrer todo este caminho e não alcançar a superfície de Marte," acrescenta. "Mas se tivesse que escolher entre Phobos e nada, escolhia sempre Phobos!"
RETROSPECTIVA ASTRONÓMICA DE 2009

O ano de 2009 deu-nos muitos momentos cósmicos impressionantes, tanto para astrónomos como para observadores casuais. Planetas vizinhos, como Mercúrio e Júpiter, receberam transformações, tanto no sentido científico como literalmente. A descoberta de água na Lua e em Marte providenciou pistas do passado, bem como sugestões para a exploração espacial do futuro. E uma classe de recém-detectadas "super-Terras" em torno de outras estrelas podem, em última análise, revelar-se mais habitáveis que a própria Terra. Aqui ficam as histórias que mais sobressaíram durante este ano que agora termina.
Chuvas de meteoros e objectos excêntricos
A Terra ficou num lugar privilegiado para a observação de objectos espaciais em 2009, com chuvas de meteoros, passagens de rochas espaciais, e estranhas luzes no céu - tanto naturais como feitas pelo Homem.
Espectáculos anuais, como as Leónidas, continuaram a maravilhar os observadores, mas algumas rochas espaciais aproximaram-se demasiado do nosso planeta. Um asteróide explodiu por cima da Indonésia, com a força de várias bombas de Hiroshima, no dia 8 de Outubro de 2009, e tornou-se na maior rocha espacial a atingir a Terra em mais de uma década.
Luzes estranhas e lindas, feitas pelo Homem, também se juntaram aos festejos este ano. A NASA lançou um foguetão experimental que recreou brevemente nuvens misteriosas que brilham à noite durante o passado mês de Setembro. Mas o espectáculo mais estranho veio de uma forma espiral que apareceu por cima da Noruega em Dezembro, e que despoletou uma enorme especulação acerca de extraterrestres e de meteoros - antes do Ministério da Defesa da Rússia ter confirmado que era o lançamento falhado de um míssil, míssil este que ficou fora de contolo.
Mercúrio revelado
O planeta Mercúrio recebeu uma grande transformação científica em 2009, quando a sonda MESSENGER da NASA completou o seu terceiro e último "flyby" em Setembro de 2009, que a ajudará a atingir órbita de Mercúrio em 2011.
Um terceiro encontro com Mercúrio não só ajudou a mapear até 98% da superfície do planeta, mas também mostrou que a superfície contém grandes quantidades de metais pesados, como o ferro e titânio. A surpresa forçou os cientistas a repensar a evolução do pequeno planeta.
Esta última passagem também revelou mudanças sazonais no planeta mais próximo do Sol. Tais mudanças tomam a forma de alterações na composição química da fina atmosfera de Mercúrio.
O buraco negro mais massivo
Ele há o grande, e depois o grande galáctico. Um buraco negro supermassivo tornou-se no campeão dos pesos pesados este ano, com 6,4 mil milhões de vezes a massa do Sol, após os astrofísicos terem revisto estimativas anteriores do tamanho do monstro, através de modelos computacionais e observações telescópicas.
Este colosso cósmico situa-se no coração da gigante galáxia M87, tal como o buraco negro massivo da nossa própria Via Láctea. Outros buracos negros em grandes galáxias vizinhas poderão agora também vir a receber um segundo olhar, por isso não ponha de parte um novo detentor deste recorde nos próximos anos.
O ano do Telescópio Espacial
Em 2009 foi lançada uma nova geração de telescópios espaciais, para descobrir novos mundos ou revelar antigos mistérios do Cosmos. Provavelmente nenhum recebeu mais mediatismo que o novo caçador de planetas extrasolares da NASA, o Kepler, que pode detectar mundos distantes com base na tantalizante diminuição da luz criada por um planeta à medida que passa em frente da sua estrela, visto da perspectiva da Terra. Entre os outros recém-chegados destacam-se os observatórios espaciais Herschel e Planck da ESA, que vislumbraram o Universo pela primeira vez já este ano. O Herschel é o telescópio infravermelho mais poderoso já lançado para o espaço, enquanto o Planck tem o objectivo de estudar a "primeira luz" do Universo, que emergiu pouco tempo depois do Big Bang.
Por último mas não menos importante, a sonda WISE da NASA foi lançada em Dezembro, com o objectivo de estudar o céu infravermelho uma vez e meia durante o seu tempo de vida.
Estes telescópios de próxima geração juntam-se a um grupo mais antigo que inclui o Chandra (NASA) e o XMM Newton da ESA. Ambos comemoraram este ano o seu 10.º aniversário.
Água gelada em Marte
O caso de um passado molhado em Marte nunca foi tão favorável como em 2009. As rochas espaciais deram uma ajuda à Ciência, ao criar crateras na superfície marciana que revelaram quase 99% de pura água gelada perto da superfície - possíveis restos de camadas geladas, que podem cobrir até metade do planeta.
Os cientistas afirmam que um extenso mapa dos vales que cruzam Marte aponta para um possível oceano no passado do planeta. O intrépido rover Opportunity da NASA continuou também a fornecer provas de que a água poderá ter ajudado a esculpir a superfície marciana.
Uma das questões mais duradouras que se prolonga para 2010 é se ainda existe água líquida à superfície de Marte. Um conjunto de glóbulos ligados às pernas da sonda Phoenix da NASA reprenta provas possíveis mas controversas de água líquida marciana, de acordo com os cientistas da NASA que reveram a missão, restringida a cinco meses, no ano passado.
Primeiro planeta rochoso em torno de outra estrela
Duas das maiores descobertas exoplanetárias até à data ocorreram em 2009, à medida que os caçadores de planetas extrasolares deram os primeiros passos na descoberta de planetas tipo-Terra para lá do nosso Sistema Solar. Ambos os casos envolveram a observação de mundos distantes passando em frente das suas estrelas-mãe, em vez de inferir meramente a existência de planetas com base na oscilação gravitacional que provocariam nas estrelas.
Primeiro, os astrónomos confirmaram o primeiro mundo rochoso avistado em órbita de outra estrela. Denominado CoRoT-7b, representa o primeiro planeta extrasolar com uma densidade parecida à da Terra - mesmo que a sua superfície se pareça muito menos com a do nosso planeta, onde as temperaturas ultrapassam os 1000 graus Celsius.
Um segundo mundo rochoso, rico em água, denominado GJ 1214b, também se tornou na primeira "super-Terra" a ter uma atmosfera confirmada.
O punhado cada vez maior de super-Terras, ou planetas com massas entre a da Terra e a de Neptuno, pode agora sobressaír entre as centenas de gigantes gasosos parecidos a Júpiter já detectados em órbita de outras estrelas. Alguns cientistas acreditam que tais super-Terras poderão, em última análise, ser potencialmente mais habitáveis que a Terra.
Telescópio Hubble observa as profundezas do Universo
O telescópio mais famoso do mundo, o Hubble, sobreviveu a uma cirurgia no espaço e emergiu na sua melhor forma de sempre em 2009. O telescópio, já com 19 anos, celebrou o seu renascimento ao observar o que poderão ser as galáxias mais distantes e antigas já descobertas.
A nova câmara WFC3 do Hubble observou, no infravermelho, galáxias que se formaram 600 milhões depois do teórico Big Bang, ou há cerca de 13,1 mil milhões de anos. A ser confirmada, esta descoberta pode substituir as detentoras actuais deste recorde de galáxias mais distantes e antigas do Universo.
Para além dos recordes, o Hubble também teve tempo para observar um inesperado impacto em Júpiter.
Júpiter debaixo de fogo
O que um astrónomo amador anunciou pela primeira vez como uma nova mancha escura em Júpiter, revelou-se uma grande ferida planetária com o tamanho do Oceano Pacífico, deixada para trás por um asteróide ou um cometa no verão de 2009. O massivo impacto cósmico rivalizou facilmente com outro ocorrido há 15 anos, quando o Cometa Shoemaker-Levy 9 colidiu com o rei do planetas.
Os astrónomos estimaram que o culpado por trás do impacto não tinha mais que meio quilómetro em diâmetro. Mesmo assim, tal objecto cósmico teria que ter contido milhares de vezes a energia do impacto de Tunguska na Terra, que explodiu por cima da Sibéria em 1908 e arrasou uma área tão grande como uma cidade.
Um impacto de tamanho similar na Terra teria sido provavelmente catastrófico. Mas os observadores da Terra podem dar graças por Júpiter, que atrai rochas espaciais perigosas devido ao seu gigantesco tamanho e puxo gravitacional.
Água na Lua
Talvez nenhuma outra revelação espacial este ano tenha sido tão importante como a descoberta de água na Lua. Um satélite há muito descrito como estéril e seco, agora ostenta a tantalizante possibilidade de colónias lunares, já sem falar de um ponto de lançamento para uma exploração espacial mais longínqua.
Os cientistas confirmaram pela primeira vez traços de água nas camadas superiores da superfície lunar, com base em detecções de água ou de um grupo de hidróxilo (oxigénio e hidrogénio ligados quimicamente) obtidas pela sonda Chandrayaan-1 da Índia, pela sonda Deep Impact e pela Cassini. Mas as suas descobertas, anunciadas num artigo publicado na edição de 25 de Setembro da revista Science, apenas arranharam a superfície.
Depois, a sonda LCROSS da NASA colidiu com o pólo sul da Lua em Outubro, e tudo mudou ainda mais. A pluma de detritos libertados pelo impacto da sonda revelou água gelada, e em grandes quantidades. Este gelo pode servir como água potável para futuros astronautas e colonos, ou com hidrogénio para o combustível das naves.
Saber que a água aguarda a chegada de seres humanos à Lua é uma espécie de validação para um dos objectivos principais da NASA, o de colocar novamente botas no solo lunar. E pode também providenciar um impulso bastante necessário para as próximas gerações de cientistas e exploradores espaciais, desbravando o desconhecido para além de 2010.
PARABÉNS, HUBBLE: 20 ANOS A DESVENDAR O COSMOS E A DESLUMBRAR O PÚBLICO

Ao longo dos últimos 20 anos, o Telescópio Espacial Hubble revolucionou o modo como a Humanidade vê o Universo. Em muitos aspectos, é o telescópio mais importante desde que Galileu apontou a sua luneta para o céu há quatro séculos atrás.
A NASA lançou o Telescópio Espacial Hubble, um esforço conjunto da NASA e da ESA, no dia 24 de Abril de 1990 a bordo do vaivém Discovery, num evento envolto em grande fanfarra que depressa haveria de cessar. Uma pequeníssima mas importante falha nas suas ópticas fazia-o ver desfocado. Este problema bem que poderia ter transformado o icónico telescópio espacial num potencial fiasco orbital com uma factura de 1,5 mil milhões de dólares.
Mas o Hubble foi construído para ser actualizado no espaço, por astronautas a bordo dos vaivéns da NASA. Em 1993, a primeira tripulação de mecânicos espaciais corrigiu a visão nublada do Hubble, e mais quatro missões de manutenção e reparação seguiram-se.
A última viagem da NASA ao Hubble decorreu em Maio de 2009, quando a tripulação do vaivém Atlantis prestou ao observatório orbital o seu serviço final. Substituíram as velhas baterias do Hubble e peças já gastas, reavivaram câmaras avariadas nunca desenhadas para serem reparadas no espaço e acrescentaram dois novos instrumentos. O resultado: o Telescópio Hubble mais poderoso de sempre.
Os grandes conhecimentos normalmente fazem o mundo parecer maior do que na realidade é. No caso do Hubble, a mais importante e talvez a mais impressionante descoberta que ajudou a encontrar, alcançou isso mesmo, ao revelar que o Universo crescia mais depressa do que pensávamos.
A maior descoberta do Hubble
Os cientistas apelidaram o suspeito por trás desta expansão acelerada de "energia escura", que agora se pensa constituir 74% da massa-energia combinada do Universo. Em comparação, a matéria comum corresponde a apenas 4,6%. A descoberta da energia escura foi totalmente inesperada, e ainda não sabemos com exactidão o que é. A natureza desta energia escura é de certo modo o maior problema da Física actualmente.
E o Hubble não só fez o Universo parecer maior mostrando-nos que estava a crescer - o telescópio espacial também sugere que há muito mais a aprender. Através do Hubble, vemos que compreendemos muito pouco do Universo, desde a energia escura até à matéria escura, passando pela história das galáxias ao longo de 13 mil milhões de anos. Mudou completamente a nossa perspectiva do Universo.
Um achado surpreendente
Quando o Hubble foi lançado, uma das suas missões principais era descobrir quando o Universo tinha nascido. Nesta altura, a sua idade era bastante incerta, o que poderia levar a possibilidades ridículas, como estrelas mais velhas que o próprio Universo.
Ao medir a posição de galáxias distantes com uma precisão avassaladora e quão depressa se moviam, o Hubble refinou drasticamente a velocidade de expansão do Universo, ajudando a estimar a idade do Universo até mais ou menos 13,75 mil milhões de anos. No entanto, ao resolver o mistério da idade do Universo, inesperadamente revelou um enigma ainda mais profundo - a expansão do Universo está inexplicavelmente a acelerar, em vez de diminuir como seria de esperar devido ao puxo da gravidade das galáxias.
Haviam sugestões anteriores acerca da existência de uma "constante cosmológica" que agia como uma força repulsiva contra a interacção gravitacional da matéria, sendo a proposta mais famosa a de Einstein. Antes do Hubble, sem observações, ninguém levou estas especulações particularmente a sério.
A promessa da energia escura
A resolução do mistério da energia escura poderá revolucionar a Física. Levantou novas teorias acerca da origem do Universo, como por exemplo a que refere a existência de membranas da realidade que despoletam ciclos infinitos de morte e renascimento cósmico. Também alimentou a especulação acerca do destino do Universo, levantando a possibilidade da energia escura terminar o Universo num Big Rip.
Mesmo assim, muito acerca da energia escura permanece desconhecido. Uma ideia afirma que literalmente vem do espaço vazio - de energia que a mecânica quântica teoriza existir no vácuo. O problema é que os cálculos preliminares da força da energia escura, caso fosse consequência da energia no vácuo, são 120 ordens de magnitude mais do que vemos actualmente com a energia escura. É um 1 com 120 zeros atrás.
Mesmo com estimativas mais refinadas, ainda estaríamos nas 50 ordens de magnitude. Outra possibilidade teoriza que é uma espécie de campo, mas não se sabe o porquê de aí estar, e se está de algum modo relacionado com a expansão do Universo desde o seu início. Uma terceira hipótese afirma que não há nenhuma energia escura, e que temos que mudar a nossa teoria da gravidade, que a teoria da relatividade geral de Einstein não está correcta quando passamos para escalas maiores do Universo.
Em cada destes casos, estamos a falar de uma mudança fundamental no nosso conhecimento da Física, a teoria física mais básica que governa o Universo.
Aqui ficam outros dos grandes feitos astronómicos do Hubble:
Plutão e seus companheiros: o Hubble descobriu duas novas luas de Plutão, Nix e Hidra, e recentemente mapeou mudanças sazonais na sua superfície. Ao ajudar a estimar a massa de Éris, um corpo 27% mais massivo que o próprio Plutão, veio a ideia de que corpos semelhantes possam existir na Cintura de Kuiper e até mais longe, o que ajudou a despromover Plutão e objectos semelhantes para a categoria de planeta-anão. As observações futuras destes objectos distantes poderão ajudar os cientistas a melhor compreender como o Sistema Solar evoluíu.
Discos protoplanetários: Ao observar regiões de formação estelar, como a famosa Nebulosa de Orionte, o Hubble foi capaz de mostrar que os discos protoplanetários de gás e poeira são ubíquos em torno de muitas jovens estrelas. Isto reforça a ideia que os mundos extrasolares são comuns no Universo.
GRBs: Estas explosões de raios-gama são as explosões mais poderosas do Universo, tipicamente libertando mais energia em segundos do que o Sol em toda a sua vida de 10 mil milhões de anos. A origem destas explosões permaneceu um mistério durante décadas. O Hubble ajudou a descobrir que estas explosões normalmente ocorrem em galáxias que activamente formavam estrelas e que eram baixas em metalicidade - isto é, baixas em elementos mais pesados que o hélio. Isto sugeriu que os GRBs emergiam como estrelas massivas colapsadas para formar buracos negros - galáxias activas em formação estelar são normalmente ricas em estrelas massivas que colapsam rapidamente, e as estrelas com baixa metalicidade são mais prováveis de reter a sua massa e formar buracos negros.
Cometa Shoemaker-Levy 9: O Cometa Shoemaker-Levy 9 colidiu espectacularmente com Júpiter em 1994, um impacto que o Hubble capturou em toda a sua glória. A atracção gravitacional do planeta gigante despedaçou o cometa em fragmentos, resultando em 21 impactos visíveis. A maior destas colisões criou uma bola de fogo que cresceu até 3.000 km para cima do topo das nuvens jovianas, bem como uma mancha escura com 12.000 km de diâmetro - aproximadamente o tamanho da Terra - num evento que se estima ter tido a força de 6.000 gigatoneladas de TNT. As observações do Hubble não só reforçaram o interesse do público nos efeitos dos impactos cósmicos, como também forneceram dados sobre a atmosfera de Júpiter.
Buracos negros: O Hubble descobriu que os buracos negros supermassivos provavelmente existem nas galáxias que têm um bojo de estrelas no seu centro. A ligação bastante íntima entre o tamanho destes buracos negros centrais e o tamanho das suas galáxias também indica uma evolução em sintonia, o que por sua vez fornece informações acerca da evolução do Universo com o passar do tempo.
Mundos extrasolares: Até agora conhecem-se mais de 400 planetas extrasolares, e na realidade foram descobertos por telescópios terrestres. Mesmo assim, o Hubble fez importantes avanços na busca de mundos extrasolares, como na determinação da composição atmosférica de um exoplaneta pela primeira vez, e até ao observar directamente a luz visível de Fomalhaut b.
Desde Galileu
Podemos dizer que ao olhar para a História, o Hubble terá tido o mesmo impacto que o telescópio de Galileu. Nenhum telescópio foi tão apelativo para o público como o Hubble tem sido ao longo de 20 anos. Este impacto revolucionário do Hubble deriva do seu poder de permanência. Foi reparado cinco vezes, e em cada missão foi capaz de se renovar com novos instrumentos que o transformaram num novo telescópio.
Espera-se que o Hubble, após esta última missão de serviço, dure pelo menos mais cinco anos. Se tivermos sorte e formos espertos, podemos ser bem capazes de comemorar o seu 30.º aniversário.
ÁGUA PODE AGARRAR-SE À SUPERFÍCIE DA LUA

Uma grande porção da superfície da Lua pode estar coberta com água. Esta foi a surpreendente descoberta de um trio de sondas, que acharam traços da substância no solo lunar.
Muitos cientistas suspeitam que água gelada se encontra em crateras permanentemente à sombra nos pólos da Lua, que são também algumas das regiões mais frias do Sistema Solar.
Mas novos achados sugerem que uma pequena quantidade de água ainda existe no solo lunar por toda a superfície da Lua. A primeira detecção foi feita pela sonda Chandrayaan-1 da Índia. A sonda, que falhou em Agosto após menos de 10 meses em órbita, foi a primeira sonda lunar a transportar um instrumento capaz de medir quanta luz é absorvida por minerais que contenham água.
"Só pode ser água," diz Carle Pieters da Universidade de Brown em Providence, Rhode Island, EUA, líder do intrumento do Chandrayaan-1 que fez a detecção.
A sonda Chandrayaan-1 descobriu pistas de água pela superfície lunar quando mediu uma queda na luz reflectida num comprimento de onda absorvido apenas por água e por hidróxilo, uma molécula que contém um átomo de hidrogénio e um átomo de oxigénio.
Mas a equipa não ficou convencida que tinha descoberto água. "Levámos literalmente meses a estudar tudo o que poderia explicar esta característica, simplesmente porque não pensávamos que pudesse existir à superfície," afirma Pieters.
Para ajudar a verificar a assinatura, os membros da equipa viraram-se para os dados recolhidos pela sonda Cassini da NASA, que passou pela Lua em 1999 enquanto se dirigia para Saturno, e pela sonda Deep Impact, também da NASA, que passou pela Lua em Junho de 2009, a caminho do cometa Hartley 2. Ambas as sondas também mostraram evidências de água e hidróxilo, moléculas que provavelmente existem na Lua.
Mas apenas em não grandes quantidades. A recolha de água de uma área de solo com o tamanho de um campo de futebol daria-nos apenas "um bom copo de água," afirma Pieters. No entanto, poderá ser um importante recurso para os futuros exploradores lunares.
A descoberta de água na superfície muda a seca imagem da Lua, que tem sido desenhada desde os dias das missões Apollo. "Se tivesse dito a alguém há três semanas atrás que havia, nem que fosse uma minúscula quantidade de água na Lua, teriam-se rido," diz Jennifer Sunshine da Universidade de Maryland em College Park e investigadora principal da missão prolongada da Deep Impact.
As medições do Chandrayaan-1 sugerem que a água situa-se nos milímetros superiores da superfície lunar. Como resultado, Pieters e seus colegas favorecem um cenário no qual a água é criada quando átomos de hidrogénio transportados pelo vento solar colidem com materiais ricos em oxigénio na superfície da Lua, combinando-se para formar hidróxilo e água.
"É um resultado fascinante, interessante e útil," diz Paul Spudis do Instituto Lunar e Planetário em Houston, Texas, EUA. "Basicamente abriu um novo campo de estudo... que tem muitas mais perguntas que respostas."
Também existem provas que sugerem que a água possa estar em movimento. As observações da Deep Impact sugerem que a água possa ser mais prevalente durante as regiões mais frias do dia lunar que tem a duração de um mês, perto do nascer-do-Sol e do pôr-do-Sol. Isto indica que a água pode estar efectivamente a ser criada e destruída, ou que migra à medida que a luz solar a aquece o suficiente para a libertar dos minerais a que estava anteriormente ligada.
Se a água à superfície é móvel, poderá providenciar uma diferente fonte de água para as crateras polares permanentemente à sombra, cuja fonte principal de água pensa-se que seja cometas com água que colidiram com a Lua.
"Mesmo que leve uns quantos saltos, ou até mil ou um milhão, por fim [a água] pode acumular-se num bom local como estas áreas sempre à sombra, e uma vez que aí esteja já não vai a lado nenhum," diz Pieters.
Mas existe ainda um aceso debate acerca da existência de água nas escuras crateras da Lua. Os sinais de radar reflectidos das crateras polares mostraram alguns sinais tipo-gelo. E os neutrões detectados pela Lunar Prospector da NASA em 1998 sugeriram a presença de hidrogénio, embora não fosse claro se os átomos estavam fechados em água gelada ou sob outra qualquer forma.
A Lunar Reconnaissance Orbiter da NASA, que foi lançada em Junho, está agora à procura de assinaturas semelhantes.
A LCROSS da NASA, que irá colidir com uma cratera no pólo sul da Lua no dia 9 de Outubro, poderá potencialmente ajudar a resolver a questão. A sonda e o estágio de foguetão já gasto actualmente com ela, irão libertar plumas de detritos que a LRO e os telescópios terrestres irão estudar em busca de sinais de água gelada.
ASTRONAUTAS PODEM ALCANÇAR MARTE NA DÉCADA DE 2020, AFIRMA PAINEL

Segundo um painel nomeado pela Casa Branca, a Humanidade poderá orbitar Marte na década de 2020 - mas só se o orçamento da NASA for maior. De acordo com um sumário do relatório do painel, anunciado na Terça-feira, à sua quantia actual, a agência será incapaz de deixar a baixa órbita terrestre durante pelo menos duas décadas.
Durante o mandato do presidente George W. Bush, foi ordenado à NASA que pusesse astronautas na Lua até 2020. Mas em Maio, a administração do presidente Obama nomeou um painel de especialistas espaciais para rever os planos das viagens tripuladas da agência espacial. O painel é liderado pelo antigo administrador da Lockheed Martin, Norman Augustine.
Embora o seu relatório final esteja ainda em vias de acabamento, na Terça-feira o comité enviou um sumário das suas conclusões para a Casa Branca e para a NASA. Uma decisão final sobre a direcção futura da NASA depende da Casa Branca e do Congresso americano.
O sumário contém uma lista de cinco possíveis maneiras de avançar o programa de voo espacial tripulado da NASA, sem preferir uma a qualquer das outras.
Uma destas opções, denominada Percurso Flexível, levaria os astronautas a uma série de destinos cada vez mais distantes, começando com uma missão para orbitar a Lua. Uma missão a um asteróide seguir-se-ia mais tarde, e o plano culminaria então numa missão a Marte, que o painel afirma que poderia ser alcançada na segunda metade da década de 2020.
Para evitar problemas financeiros, esta opção adiaria o desenvolvimento de quaisquer veículos de aterragem e outro hardware necessário para realmente colocar astronautas na superfície do planeta.
Ao invés, orbitariam Marte, encontrando-se com uma das suas luas. O relatório não explica se a nave realmente aí aterraria ou se apenas orbitaria em torno dela.
O comité já tinha discutido previamente a ideia do Percurso Flexível numa das suas reuniões públicas, mas as conclusões do seu relatório são mais específicas no que respeita a quando esta missão a Marte deveria ocorrer.
Tal missão não levaria astronautas a visitar a superfície marciana directamente. Mas permitiria que a explorassem usando robots controlados remotamente, que potencialmente poderiam recolher amostras de rochas, amostras estas que poderiam ser trazidas para a Terra para um estudo mais detalhado.
Robots na superfície marciana, como os rovers Spirit e Opportunity, não podem ser controlados em tempo real da Terra. Isto porque existe um atraso de 20 minutos em cada lado devido ao tempo que os sinais de rádio demoram a viajar entre os dois planetas. Quando os problemas aparecem, há um grande intervalo de tempo antes que consigamos enviar novos comandos aos robots, atrasando o seu progresso.
"Humanos ou humanos ajudados por robots, podem levar a cabo a exploração científica de superfícies planetárias, particularmente as complexas, mais efectivamente que robots sozinhos," disse Steven Squyres, da Universidade de Cornell e líder da missão dos rovers, ao comité em Agosto, citando a possibilidade de controlar rovers a partir de órbita em torno do Planeta Vermelho.
Mas o comité avisa que sem mais dinheiro, a NASA ficaria-se apenas pela baixa órbita terrestre até pelo menos à decada de 2030. "O comité conclui que a inexistência de um plano compatível com o orçamento do Ano Fiscal de 2010 não permitirá a continuação da exploração humana de um modo significativo," afirma o sumário do relatório. Levar a cabo o programa do Percurso Flexível ou levar astronautas à Lua antes da década de 2030 necessitaria de mais 3 mil milhões de dólares por ano, para lá dos 18,7 mil milhões planeados para a agência, diz o relatório.
Das cinco grandes opções anunciadas no relatório, duas não requerem um aumento do orçamento:
- Programa de registo: a NASA continuaria a construír os foguetões Ares I e V, e a cápsula tripulada Orion, desenhada para missões humanas à Lua. Mas não teria dinheiro para o equipamento de aterragem lunar, e para o suporte da estação espacial a partir de 2015.
- ISS + Lua: este prolongaria a vida da estação espacial até 2020 e usaria veículos comerciais para levar as tripulações até uma órbita terrestre baixa em vez do foguetão Ares I. A NASA construiria uma versão mais leve do Ares V e não teria dinheiro para o equipamento de aterragem lunar.
O relatório sublinha outras três opções que a agência poderia perseguir se conseguisse receber mais 3 mil milhões de dólares extra por ano:
- Lua primeiro/base: o suporte da ISS acabaria em 2015. A NASA continuaria os seus planos de enviar astronautas de novo à Lua, incluindo a construção do Ares V, Ares I e Orion. As missões lunares humanas aconteceriam na segunda metade da década de 2020.
- Variante Lua primeiro: o suporte da ISS seria prolongado até 2020. Os veículos comerciais fariam o acesso até órbita terrestre baixa. A NASA desenvolveria uma versão mais leve do Ares V ou um veículo derivado do vaivém espacial para suportar as missões lunares.
- Percurso flexível: os astronautas orbitariam a Lua e Marte, e visitariam um ou mais asteróides. Estas missões poderiam usar uma versão mais leve do Ares V, um veículo baseado no vaivém espacial, ou versões modificadas dos actuais foguetões comerciais Atlas V ou Delta IV. O suporte da estação espacial seria prolongado até 2020. Os veículos comerciais fariam o acesso até baixa órbita terrestre.
O comité também recomendou:
- A existência de concorrência entre companhias de lançamento espacial, para providenciar serviços de lançamento para tripulações da NASA até baixa órbita terrestre;
- O uso de recursos da NASA para prolongar a vida da Estação Espacial Internacional até pelo menos 2020, em ordem a maximizar o retorno de milhares de milhões de dólares investidos na sua construção;
- A exploração do espaço para lá da órbita terrestre, cooperativamente com outros países, espalhando o esforço financeiro entre outros participantes;
- O estudo da possibilidade de prolongar a operação do vaivém espacial até 2015 - actualmente previsto para se reformar em 2010.
Site do ESO em português

O telescópio espacial Herschel enviou para a Terra várias imagens espetaculares de nuvens de gás frio próximas do plano da Via Láctea, revelando uma actividade intensa e completamente inesperada . A região escura e fria é pontilhada com imensas fábricas estelares, que surgem como pérolas numa corda cósmica.
A 3 de Setembro, o telescópio Herschel apontou para um reservatório de gás frio na constelação do Cruzeiro do Sul perto do plano galáctico. À medida que o telescópio varria o céu, o seu receptor e espectrógrafo de infravermelhos, SPIRE, e os instrumentos de fotovarrimento e espectrometria PACS obtinham imagens digitalizadas desta região. A região está localizada a cerca de 60° a partir do Centro Galáctico, a milhares de anos-luz da Terra.
As cinco imagens originais no infravermelho têm sofrido modificações de cor para permitir que os cientistas diferenciem material extremamente frio (vermelho) do material envolvente, um pouco mais quente (azul).
As imagens revelam a estrutura do material frio da nossa galáxia, de um modo nunca antes visto, e mesmo antes de uma análise detalhada, os cientistas têm recolhido informação sobre a quantidade de material, a sua massa, a sua temperatura, a sua composição e se a matéria está em colapso para formar novas estrelas.
Que uma área escura e fria como essa pudesse ter uma actividade tão evidente, foi inesperado. Mas as imagens revelam uma surpreendente quantidade de turbulência: o material interestelar está a condensar-se em filamentos contínuos e interligados que brilham com a luz emitida por estrelas recém-nascidas em diferentes fases de desenvolvimento. A nossa galáxia parece incansável continuamente a forjar novas gerações de estrelas.
As estrelas formam-se em ambientes frios e densos e nestas imagens é fácil localizar as estrelas, formando-se em filamentos que seriam muito difíceis de isolar através uma imagem singular resultante de um comprimento de onda único.
Tradicionalmente, n uma região muito povoada como esta, que está situada no plano da nossa galáxia e que contém muitas nuvens moleculares ao longo da linha de visão, os astrónomos têm tido muitas dificuldades em resolver os detalhes. Mas o telescópio Herschel e os seus sofisticados instrumentos de aquisição no infravermelho não tiveram muito trabalho com esta tarefa de observar através da poeira que é opaca à luz visível, um tipo de observação astronómica impossível a partir do solo. O resultado obtido pelo Herschel é o de uma incrível rede de estruturas filamentosas, que indicam uma cadeia de quasi-estrelas com eventos de formação simultâneos, e que brilham como colares de pérolas no fundo da nossa Galáxia.
COMO OS ASTRONAUTAS PODERIAM "RECOLHER" ÁGUA NA LUA

Água recém-confirmada na Lua poderá ajudar os astronautas lunares a sobreviver e até a impulsionar missões para Marte, se a sua recolha se tornar prática. Um dispositivo que emite microondas, desenvolvido pela NASA, poderá fazer isso mesmo.
Três sondas - a Chandrayaan-1 da Índia e as sondas Cassini e Deep Impact da NASA - detectaram a absorção de radiação infravermelha num comprimento de onda que indica a presença de água ou hidróxilo, uma molécula composta por um átomo de hidrogénio e um átomo de oxigénio. Todas descobriram que a assinatura é mais forte nos pólos do que em latitudes mais baixas.
Algumas destas moléculas podem estar a ser criadas continuamente quando os protões do vento solar - iões de hidrogénio - se ligam aos átomos de oxigénio no solo lunar. Os impactos de cometas poderão também ter trazido a água para a Lua.
Esta água trazida por cometas ou gerada pelo vento solar pode espalhar-se aleatoriamente com o passar do tempo em crateras permanentemente à sombra nos pólos lunares, que recentemente se descobriu serem mais frias que Plutão.
"Uma vez que aí chegue, não sai," afirma Carle Pieters da Universidade de Brown em Providence, Rhode Island, EUA, cientista principal do instrumento construído pela NASA a bordo da Chandrayaan-1 que fez as medições.
Até agora, a água não parece ser muito abundante - a recolha de água de uma área de solo com o tamanho de um campo de futebol daria-nos apenas "um bom copo de água," disse Pieters.
Mas se a água puder ser colhida, os astronautas lunares poderão usá-la para beber ou dividi-la em oxigénio e hidrogénio para fazer combustível para as suas viagens até casa. Isto cortaria os custos de lançamento, dado que ia diminuir a quantidade de combustível que teriam que levar da Terra.
O combustível produzido na Lua poderá até ajudar a montar uma missão humana a Marte. Graças à gravidade mais fraca da Lua, precisaríamos de menos energia para levar uma nave para o espaço a partir da superfície lunar do que na Terra.
"Muda completamente o paradigma do voo espacial," diz Paul Spudis do Instituto Lunar e Planetário em Houston, Texas. "É como construír um caminho-de-ferro transcontinental até ao espaço."
Mas como é que se pode extraír a água que está provavelmente fechada em muito pequenas concentrações de gelo no solo lunar? As microondas poderão ser a chave, de acordo com os estudos levados a cabo por Edwin Ethridge do Centro Aeroespacial Marshall da NASA e William Kaukler da Universidade do Alabama, os primeiros a demonstrar esta técnica em 2006.
Os cientistas usaram um forno microondas comum com solo lunar simulado que tinha sido arrefecido até temperaturas tipo-Lua, aproximadamente -150º C.
Mantendo o solo num vácuo para simular as condições lunares, descobriram que ao aquecê-lo apenas até -50º C com microondas, a água gelada sublimou, ou transformou-se directamente de sólida a vapor. O vapor então espalhou-se a partir de poros a mais alta pressão no solo até à câmara de vácuo a mais baixa pressão, por cima.
Na Lua, o vapor pode ser recolhido ao manter uma placa de metal por cima do solo. O vapor de água condensaria então como geada e teríamos então que a extraír da placa, afirma Kaukler.
O aquecimento e processamento de solo lunar seco a altas temperaturas também poderia libertar oxigénio e hidrogénio para combustível ou outros usos. Mas isso necessitaria de 100 vezes mais energia do que a extracção de água lunar nativa, afirma Spudis: "Tudo se torna mais fácil, barato e rápido."
CHOVEM ROCHAS EM COROT-7B

Tão habituados estamos nós à luz do Sol, à chuva, ao nevoeiro e à neve do nosso planeta que nos é quase impossível imaginar uma atmosfera diferente e outras formas de precipitação.
Este é o caso da atmosfera de CoRoT-7b, um planeta extrasolar descoberto no passado mês de Fevereiro pelo telescópio espacial CoRoT, lançado pelas agências espaciais francesa e europeia.
De acordo com modelos científicos desenvolvidos na Universidade de Washington em St. Louis, EUA, a atmosfera de CoRoT-7b é composta por ingredientes rochosos e "quando uma frente se desenvolve," rochas condensam-se no ar e caem para lagos de lava à superfície.
O trabalho, por Laura Schaefer, assistente de pesquisa no Laboratório de Química Planetária, e Bruce Fegley Jr. doutorado e professor de Ciências Terrestres e Planetárias, aparece na edição de 1 de Outubro do Astrophysical Journal.
Os astrónomos já descobriram quase 400 planetas extrasolares, ou exoplanetas, nos últimos 20 anos. Mas devido às limitações dos meios indirectos pelos quais são descobertos, a maioria são "Júpiteres Quentes", gigantes gasosos que orbitam muito perto das suas estrelas. (cabem dentro de Júpiter mais de 1300 Terras, que tem 300 vezes a massa da Terra)
CoRoT-7b, por outro lado, tem menos do dobro do tamanho da Terra e apenas cinco vezes a sua massa.
Foi o primeiro planeta descoberto em órbita da estrela CoRoT-7, uma anã laranja na constelação de Unicórnio (a prioridade é dada pela letra b).
Em Agosto de 2009 um consórcio de observatórios europeus, liderado por suiços, anunciou a descoberta de CoRoT-7c, um segundo planeta em órbita de CoRoT-7.
Usando os dados de ambos os planetas, foram capazes de calcular que CoRoT-7b tem uma densidade média muito próxima da da Terra. Isto significa que é quase de certeza um planeta rochoso composto por rochas de silicato como aquelas na crosta da Terra, afirma Fegley.
Mas é tudo menos tipo-Terra, pois não é nada hospitaleiro à vida. O planeta e a sua estrela estão separados por apenas 2,5 milhões de quilómetros, 23 vezes menos que a distância entre o infernal Mercúrio e o nosso Sol.
Dado que o planeta está tão próximo da estrela, sofre do mesmo efeito de acoplamento de maré que a Lua em relação à Terra. O planeta mostra sempre a mesma face à estrela, tal como a Lua mostra sempre a mesma face à Terra.
Este lado "diurno" tem uma temperatura de aproximadamente 2600 Kelvin (2326,85º C). Isto é infernalmente quente - quente o suficiente para vaporizar rocha. A temperatura média global da superfície da Terra, por contraste, é de apenas 288 Kelvin (14,85º C).
O lado em sobra perpétua, pelo contrário, é extremamente frio, a 50 K (223,15º C).
Talvez devido a terem sido cozidos, a atmosfera de CoRoT-7b não tem nenhum dos elementos voláteis ou compostos que perfazem a atmosfera da Terra, tal como a água, nitrogénio e dióxido de carbono.
"A única atmosfera que este objecto tem é produzida por vapor oriundo de silicatos quentes e derretidos num lago ou oceano de lava," realça Fegley.
Como será essa atmosfera? Para descobrir a resposta, Schaefer e Fegley usaram cálculos de equilíbrio termoquímico para modelar a atmosfera de CoRoT-7b.
Os cálculos, que revelam quais os conjuntos de minerais estáveis sobre tais condições extremas, foram feitos com o programa MAGMA, desenvolvido em 1986 por Fegley e por A.G.W. Cameron (já falecido), professor de astrofísica na Universidade de Harvard.
Schaefer e Fegley modificaram o programa MAGMA em 2004 em ordem a estudar o vulcanismo a alta-temperatura em Io, a lua galileana mais interior de Júpiter. Esta versão modificada foi usada no seu presente trabalho.
Porque os cientistas não sabiam a composição exacta do planeta, correram a simulação com quatro diferentes composições. "Obtivémos essencialmente o mesmo resultado para todos os quatro casos," afirma Fegley.
"Sódio, potássio, monóxido de silicone e depois oxigénio - ou oxigénio atómico ou molecular - são os componentes principais da atmosfera." Mas também existem quantidades mais pequenas de outros elementos nas rochas de silicato, tais como magnésio, alumínio, cálcio e ferro.
Porque é que existe oxigénio num planeta morto, quando não fazia parte da atmosfera da Terra até há 2,4 mil milhões de anos, quando as plantas começaram a produzi-lo?
"O oxigénio é o elemento mais abundante nas rochas," diz Fegley, "por isso quando vaporizamos rocha produzimos muito oxigénio."
Esta peculiar atmosfera tem a sua própria e rara meteorologia. "À medida que subimos na atmosfera, fica mais frio e eventualmente ficamos saturados com diferentes tipos de 'rocha', da mesma maneira que ficamos saturados com água na atmosfera da Terra," explica Fegley. "Mas em vez de se formar uma nuvem de água e chover gotas, ficamos com uma 'nuvem rochosa' que precipita pequenos calhaus de diferentes tipos de rocha."
Ainda mais estranho, o tipo de rocha que se condensa da nuvem depende da altitude. A atmosfera funciona da mesma maneira que colunas fraccionadas, aquelas grandes colunas que tornam as petroquímicas tão reconhecíveis de longe. Numa coluna fraccionada, o crude é aquecido e os seus componentes condensam numa série de tabuleiros, o mais pesado (com o mais ponto de ebulição) situado em baixo, e o mais leve (e mais volátil) situado no topo.
Em vez de condensar hidrocarbonetos como asfalto, petróleo, querosene e gasolina, a atmosfera do planeta condensa materiais como enstatite, coríndon, espinélio e volastonite. Em ambos os casos as fracções caem em ordem ao ponto de ebulição.
O sódio e o potássio, que têm pontos de ebulição muito baixos em comparação com as rochas, não são precipitados e ficam na atmosfera, onde formariam nuvens altas de gás atingidas pelo vento estelar de CoRoT-7.
Estas enormes nuvens podem ser detectáveis por telescópios terrestres. O sódio, por exemplo, deverá brilhar na parte laranja do espectro, como uma lâmpada de vapor de sódio que iluminam as nossas ruas à noite.
Os observadores recentemente avistaram sódio na atmosfera de outros dois planetas extrasolares.
A atmosfera de CoRoT-7b pode não ser respirável, mas certamente entretém.
ROSETTA FAZ ÚLTIMO "FLYBY" PELA TERRA A 13 DE NOVEMBRO

A sonda Rosetta, caçadora de cometas, fará o seu terceiro e último voo rasante pela Terra no próximo dia 13 de Novembro, adquirindo mais velocidade para a última parte da sua viagem de 10 anos. A sua missão é colocar um "lander" no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko e segui-lo durante uma órbita em torno do Sol. A sonda será visível para os observadores terrestres em certos locais da Terra. Este último flyby vai aumentar a velocidade da sonda por 3,6 km/s em relação ao Sol, dando à Rosetta a energia necessária para alcançar as regiões exteriores do Sistema Solar.
A Rosetta foi lançada no dia 2 de Março de 2004, e vai visitar vários alvos a caminho do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Já visitou o asteróide 2867 Steins em Setembro de 2008. Vai chegar ao cometa 21 Lutetia a 10 de Junho de 2010, após o qual entrará em modo hibernação até que alcance o seu destino final em Maio de 2014.
Uma vez que a Rosetta chegue ao 67P/Churyumov-Gerasimenko, libertará o seu "lander" Philae na direcção do núcleo do cometa, e continuará a orbitar e a estudar o cometa durante um ano, ao longo do seu percurso orbital mais próximo do Sol. Esta é a primeira missão a orbitar e a aterrar num cometa, e promete devolver imensos dados sobre a interacção cometária com o Sol. Os cometas também contêm na sua maiora materiais imperturbados da formação do Sistema Solar no seu núcleo, por isso o estudo da sua composição dá aos cientistas um olhar sobre o desenvolvimento do Sistema Solar.
Durante a passagem rasante pela Terra em Novembro de 2007, a Rosetta tirou esta espectacular imagem da Terra. O próximo "flyby" vai dar aos observadores na Terra uma hipótese de observar a Rosetta. A maior aproximação terá lugar no dia 13 de Novembro, pelas 07:45, Hora Universal.
A sonda será visível apenas em partes da Europa, América do Sul e África, como o mapa mostra. Se estiver nalguma destas regiões durante a aproximação, e tiver condições favoráveis, pode consultar o blog da Rosetta, onde se encontram mais informações e dicas sobre a sua observação.
Para Portugal, a melhor altura para observação é entre as primeiras horas de dia 13 e as que antecedem o nascer do dia. Infelizmente, será antes da sua maior aproximação e estará baixa a Sudoeste (dando a impressão de viajar lentamente na direcção contrária à rotação da Terra), com uma magnitude que poderá variar entre os 12,5 e os 10,3 (altura em que se põe, por volta das 05:27). Com um telescópio amador de grande abertura (12 polegadas) consegue-se observar a sonda.
GIGANTESCA EXPLOSÃO REVELA A MAIS MASSIVA ESTRELA CONHECIDA

Novos cálculos sugerem que uma enorme explosão observada em 2007 terá assinalado a morte de uma das mais massivas estrelas conhecidas no Universo. Explosões semelhantes podem ter poluído o jovem Universo com elementos pesados, alterando a sua evolução.
Uma equipa de astrónomos liderada por Avishay Gal-Yam do Instituto Weizman de Ciência em Rehovot, Israel, detectou a explosão numa galáxia anã no dia 6 de Abril de 2007.
As medições do espectro da supernova e do enfraquecimento do brilho ao longo dos 18 meses seguintes, sugerem que a explosão, denominada SN 2007bi, destruíu uma estrela com 100 vezes a massa do Sol. A estrela deve ter sido mais pesada à nascença, porque as estrelas massivas perdem muito do seu material à medida que envelhecem. Com base na sua massa durante a morte, a estrela provavelmente nasceu com cerca de 200 vezes a massa do Sol, afirma a equipa.
Hoje em dia, não se conhece nenhuma estrela com tanta massa. Entre as estrelas mais pesadas que foram medidas com precisão, está uma perto do centro da nossa Galáxia, com 114 vezes a massa do Sol.
SN 2007bi também se distingue como o melhor caso, até agora, de um tipo exótico de morte estelar denominada "supernova par-instabilidade" - um tipo de explosão que apenas afecta estrelas que nasceram com mais de 140 vezes a massa do Sol.
Estrelas ligeiramente abaixo deste limite colapsam para formar buracos negros ou estrelas de neutrões após esgotarem o seu combustível nuclear.
Mas estrelas mais pesadas não têm hipótese de gastar o seu combustível. À medida que envelhecem, as altas pressões e temperaturas nos seus núcleos levam os fotões energéticos a transformar-se em pares de electrões e nos seus homólogos de antimatéria, positrões. Esta conversão reduz a pressão da radiação que suporta a massa da estrela, despoletando uma explosão que rasga a estrela.
A grande quantidade de níquel radioactivo observado no espectro de SN 2007bi, que corresponde a mais de sete vezes a massa do Sol, é característica das supernovas par-instabilidade, afirma a equipa. Uma explosão em 2006, que se suspeita ser deste tipo de evento, não teve tal clara assinatura.
Volker Bromm da Universidade de Texas em Austin, que não é um membro da equipa de Gal-Yam, concorda. "2007bi é realmente o primeiro caso convincente," acrescenta.
RESOLVIDO MISTÉRIO NOS CONFINS DO SISTEMA SOLAR

Os astrónomos dizem que o nosso Sistema Solar está a passar por uma nuvem de material interestelar que não deveria aqui estar. As velhas sondas Voyager ajudaram a resolver o mistério.
A nuvem é denominada "Nuvem Interestelar Local". Tem cerca de 30 anos-luz de diâmetro e contém uma insignificante mistura de átomos de hidrogénio e hélio, de acordo com um comunicado de imprensa da NASA anunciado anteontem. Estrelas vizinhas, que explodiram há cerca de 10 milhões de anos atrás, deveriam ter esmagado ou dispersado esta nuvem.
Então o que está a manter esta nuvem no seu lugar?
"Usando dados das Voyager, descobrimos um forte campo magnético, mesmo para lá do Sistema Solar," explicou Merav Opher, Investigador Heliofísico convidado pela NASA, da Universidade George Mason. "Este campo magnético sustém a nuvem interestelar e resolve o antigo mistério da sua existência."
A nuvem é muito mais magnetizada do que se pensava anteriormente," afirma Opher. "Este campo magnético pode dar a pressão extra necessária para resistir à destruição."
Opher e seus colegas explicam a descoberta na edição de 24 de Dezembro da revista Nature.
As duas sondas Voyager da NASA já navegam para fora do Sistema Solar há mais de 30 anos. Estão agora bem para lá de órbita de Plutão e à beira do espaço interestelar. Durante a década de 90, a Voyager 1 tornou-se no objecto mais longínquo feito pelo Homem.
As duas Voyager, viajando em direcções opostas, revelaram, entre outras coisas, que a bolha em torno do nosso Sistema Solar é achatada.
"As Voyager não estão na realidade dentro desta nuvem interestelar," afirma Opher. "Mas estão lá perto e podemos sentir como é à medida que nos aproximamos."
A nuvem interestelar local está mesmo para lá dos confins do Sistema Solar e é contida pelo campo magnético do Sol, que é "inchado" pelo vento solar numa espécie de bolha magnética com mais de 10 mil milhões de quilómetros. Denominada "heliosfera", esta bolha protege o Sistema Solar interior dos raios cósmicos galácticos e das nuvens interestelares. As duas Voyager estão localizadas na camada exterior da helioesfera, em inglês denominada "heliosheath", onde o vento solar diminui de velocidade devido à pressão do gás interestelar.
A Voyager 1 entrou nesta "heliosheath" em Dezembro de 2004. A Voyager 2 seguiu-a em Agosto de 2007. Estas travessias providenciaram dados fundamentais para o novo estudo.
Outras nuvens interestelares podem também estar magnetizadas, assume Opher e seus colegas. E podemos eventualmente colidir com algumas.
"Os seus fortes campos magnéticos podem comprimir a helioesfera ainda mais do que está agora," afirma a NASA. "Uma maior compressão pode permitir com que um maior número de raios cósmicos alcancem o Sistema Solar interior, possivelmente afectando o clima terrestre e a capacidade dos astronautas viajarem em segurança pelo espaço."
ASTRÓNOMOS FAZEM-NOS OUTRA VEZ: DESCOBREM MOLÉCULAS ORGÂNICAS EM "JÚPITER-QUENTE" EXTRASOLAR

Observando bem para lá do nosso Sistema Solar, investigadores da NASA detectaram a química básica para a vida num segundo planeta gasoso, avançando os astrónomos para o objectivo de conseguir caracterizar planetas onde possa existir vida. O planeta não é habitável mas tem a mesma química que, a ser descoberta futuramente num planeta rochoso, poderá indicar a presença de vida.
"É o segundo planeta fora do nosso Sistema Solar onde já se descobriu água, metano e dióxido de carbono, potencialmente importantes para os processos biológicos em planetas habitáveis," disse Mark Swain do JPL da NASA, em Pasadena, Califórnia, EUA. "A detecção de compostos orgânicos em dois planetas extrasolares levanta agora a possibilidade de se tornar mais comum a descoberta de planetas com moléculas possivelmente ligadas à vida."
Swain e seus co-investigadores usaram dados de dois observatórios da NASA, o Telescópio Espacial Hubble e o Telescópio Espacial Spitzer, para estudar HD 209458b, um planeta quente e gasoso, maior que Júpiter, que orbita uma estrela tipo-Sol a cerca de 150 anos-luz de distância na direcção da constelação de Pégaso. Os novos achados sucedem-se à surpreendente descoberta, em Dezembro de 2008, de dióxido de carbono em torno de outro "Júpiter-quente", HD 189733b. Observações anteriores do Hubble e do Spitzer tinham também revelado vapor de água e metano.
As detecções foram feitas através de espectroscopia, que divide a luz nos seus componentes para revelar as distintas assinaturas espectrais dos diferentes elementos químicos. Os dados da câmara infravermelha e do espectómetro do Hubble revelaram a presença das moléculas, e os dados do fotómetro e do espectómetro infravermelho do Spitzer mediram as suas quantidades.
"Isto demonstra que podemos detectar as moléculas importantes para os processos da vida," afirma Swain. Os astrónomos podem agora começar a comparar as duas atmosferas planetárias em busca de semelhanças e diferenças. Por exemplo, as quantidades relativas de água e de dióxido de carbono nos dois planetas são similares, mas HD 209458b mostra uma abundância maior de metano do que HD 189733b. "A maior abundância de metano diz-nos qualquer coisa," disse Swain. "Pode denotar algo especial acerca da formação deste planeta."
Outros planetas, grandes e quentes, podem ser caracterizados e comparados usando instrumentos existentes, realça Swain. Este trabalho vai preparar as bases para o tipo de análise que os astrónomos irão eventualmente necessitar de realizar, para seleccionar quaisquer planetas rochosos tipo-Terra onde as assinaturas de químicos orgânicos possam indicar a presença de vida.
Esperam-se mais descobertas de mundos rochosos pela missão Kepler da NASA, lançada este ano, mas os astrónomos acreditam que ainda estamos mais ou menos a uma década de sermos capazes de detectar quaisquer sinais químicos de vida.
Se e quando tais planetas tipo-Terra forem descobertos no futuro, "a detecção de compostos orgânicos não irá necessariamente indicar vida num planeta, porque existem outros maneiras de gerar tais moléculas," acrescenta Swain. "Se detectarmos elementos orgânicos num planeta rochoso tipo-Terra, teremos que saber o suficiente sobre o planeta para excluir processos não-vida que poderão levar à existência de tais químicos."
"Estes objectos estão demasiado longe para enviar sondas, por isso a única maneira de alguma vez aprendermos algo sobre eles é apontando telescópios. A espectroscopia é uma poderosa ferramenta para determinar a sua química e dinâmica."
EXPLORANDO COM UMA FROTA DE ROBOTS AUTÓNOMOS

Uma frota de robots poderá um dia voar por cima de cumes de montanhas na lua de Saturno, Titã, atravessar as suas vastas dunas e navegar nos seus lagos líquidos.
Wolfgang Fink, do Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena, EUA, diz que estamos à beira de uma grande revolução científica na exploração planetária, e que a próxima geração de exploradores robóticos não será nada como a de actualmente.
"O modo como exploramos o amanhã será completamente diferente," disse Fink, recentemente nomeado como Professor Notável Edward e Maria Keonjian em Microelectrónica na Universidade do Arizona, em Tucson. "Estamos a saír das abordagens tradicionais de uma única sonda robótica sem redundância, comandada a partir da Terra, para uma abordagem que nos permite ter múltiplos robots, prescindíveis, de baixo-custo e autónomos, que se podem comandar a eles próprios e aos outros robots, em vários locais e ao mesmo tempo."
Uma frota de robots poderá um dia voar por cima de cumes de montanhas na lua de Saturno, Titã, atravessar as suas vastas dunas e navegar nos seus lagos líquidos.
Wolfgang Fink, do Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena, EUA, diz que estamos à beira de uma grande revolução científica na exploração planetária, e que a próxima geração de exploradores robóticos não será nada como a de actualmente.
"O modo como exploramos o amanhã será completamente diferente," disse Fink, recentemente nomeado como Professor Notável Edward e Maria Keonjian em Microelectrónica na Universidade do Arizona, em Tucson. "Estamos a saír das abordagens tradicionais de uma única sonda robótica sem redundância, comandada a partir da Terra, para uma abordagem que nos permite ter múltiplos robots, prescindíveis, de baixo-custo e autónomos, que se podem comandar a eles próprios e aos outros robots, em vários locais e ao mesmo tempo."
Impressão de artista de uma sonda, dirígveis, rovers e robots trabalhando em conjunto.
Crédito: NASA-JPL
Fink e os membros da sua equipa em Caltech, do USGS (U.S. Geological Survey) e da Universidade do Arizona, estão a desenvolver software autónomo e construíram uma plataforma de ensaio robótica que pode simular um geólogo ou um astronauta, capaz de trabalhar independentemente e como parte de uma equipa maior. Este software permitirá a um robot pensar por si próprio, identificar problemas e possíveis riscos, determinar áreas de interesse e priorizar alvos para estudos mais detalhados.
O modo como as coisas funcionam agora é: os engenheiros enviam um comando a um rover ou uma sonda, para executar certas tarefas e depois esperam que sejam executadas. Têm pouca ou nenhuma flexibilidade na mudança do seu "plano de jogo" à medida que os eventos se desenrolam; por exemplo, para observar um desmoronamento ou uma erupção criovulcânica à medida que acontece, ou investigar um evento de libertação de metano.
"No futuro, múltiplos robots estarão no lugar do condutor," afirma Fink. Estes robots partilhariam a informação quase em tempo real. Este tipo de exploração poderá um dia ser usada numa missão em Titã, Marte ou noutros corpos planetários. As propostas actuais para Titã incluem o uso de uma sonda, um balão de ar e rovers ou sondas aquáticas.
Neste cenário, uma sonda orbitaria Titã obtendo uma visão global da lua, um balão de ar ou dirigível flutuando nos céus providenciando um "olhar de pássaro" de cadeias montanhosas, lagos e desfiladeiros. No chão, um rover ou um "lander" aquático poderia explorar os cantos e recantos da lua. A sonda "falaria" directamente com o balão de ar e mandaria-o voar por cima de certas regiões para um melhor olhar. Este dirigível estaria em contacto com vários pequenos rovers no chão e enviaria ordens para os conduzir até áreas identificadas do céu.
"Este tipo de exploração é referida como reconhecimento escalável em camadas," acrescenta Fink. "É como comandar um pequeno exército de robots simultaneamente operando no espaço, no ar e no chão."
Um rover poderá relatar a observação de rochas macias nos seus arredores, enquanto o balão ou a sonda poderia confirmar que o rover se encontraria num antigo leito de rio - ao contrário das missões actuais, que se focam apenas numa visão global de órbita e não conseguem proporcionar informação numa escala local para dizer ao rover que está de facto situado no meio de um antigo leito de rio.
Um exemplo actual deste tipo de exploração é o de Marte, no qual os dados obtidos pelos rovers são enviados para as sondas em órbita e depois retransmitidos para a Terra. No entanto, essa informação é apenas retransmitida e não partilhada entre as sondas ou usada para os controlar directamente.
"Estamos basicamente a caminhar para a construção de robots que comandam outros robots," disse Fink, director do Laboratório de Pesquisa de Sistemas de Exploração Visual e Autónoma no Caltech, onde este trabalho tem sido desenvolvido.
"Um dia, uma frota de robots será comandada autonomamente de uma só vez. Esta armada de robots será os nossos olhos, ouvidos, braços e pernas no espaço, no ar, e no chão, capaz de responder ao seu ambiente sem nós, de explorar e compreender o desconhecido," realçou.
Os artigos que descrevem esta nova exploração foram publicados na revista "Computer Methods and Programs in Biomedicine" e nos Procedimentos do SPIE.
FERMI ACABA O SEU PRIMEIRO ANO COM UM VISLUMBRE NO ESPAÇO-TEMPO

Durante o seu primeiro ano de operações, o Telescópio Espacial de Raios-Gama Fermi da NASA mapeou o céu extremo com uma resolução e sensibilidade sem precedentes. Capturou mais de mil fontes discretas de raios-gama -- a forma mais energética de luz. Nivelando essas façanhas esteve uma medição que proporcionou evidências experimentais raras acerca da própria estrutura do espaço e do tempo, unificadas como espaço-tempo nas teorias de Einstein.
"Os físicos gostariam de substituír a visão da gravidade de Einstein -- tal como está expressada nas suas teorias da relatividade -- com algo que lida com todas as forças fundamentais," disse Peter Michelson, investigador principal do LAT (Large Area Telescope) do Fermi, na Universidade de Stanford em Palo Alto, Califórnia, EUA. "Existem muitas ideias, mas poucas maneiras de as testar."
Muitas abordagens de novas teorias da gravidade retratam o espaço-tempo como uma estrutura inconstante e superficial, a escalas físicas biliões de vezes mais pequenas que um electrão. Alguns modelos prevêm que o aspecto espumoso do espaço-tempo faz com que os raios-gama mais energéticos se movam ligeiramente mais devagar que os fotões menos energéticos.
Tal modelo violaria o édito de Einstein, que diz que toda a radiação electromagnética -- ondas de rádio, radiação infravermelha, luz visível, raios-X e raios-gama -- viaja pelo vácuo à mesma velocidade.
No passado dia 10 de Maio, o Fermi e outros satélites detectaram uma pequena explosão de raios-gama, designada GRB 090510. Os astrónomos pensam que este tipo de explosão acontece quando estrelas de neutrões colidem. Os estudos a partir da Terra mostram que o evento teve lugar numa galáxia a 7,3 mil milhões de anos-luz de distância. Dos muitos fotões de raios-gama que o instrumento LAT do Fermi detectou a partir da explosão, com a duração de 2,1 segundos, dois possuíam energias diferindo por um milhão de vezes. E mesmo viajando durante sete mil milhões de anos, o par chegou com apenas 9/10 de segundo de diferença.
"Esta medição elimina qualquer proposta de uma nova teoria da gravidade que prevê uma mudança muito energetico-dependente na velocidade da luz," afirma Michelson. "Para uma parte em 100 triliões, estes dois fotões viajaram à mesma velocidade. Einstein ainda domina."
O instrumento secundário do Fermi, o GRBM (Gamma-ray Burst Monitor), já observou raios-gama pouco energéticos em mais de 250 explosões. O LAT observou 12 destas mais detalhadamente, revelando três explosões-recorde.
GRB 090510 exibiu o movimento mais rápido já observado, com a matéria ejectada movendo-se a 99,99995% da velocidade da luz. A mais alta energia raios-gama já observada num GRB -- 33,4 mil milhões electrão-volt ou cerca de 13 mil milhões de vezes a energia da luz visível -- veio do GRB 090902B em Setembro. GRB 080916C, do ano passado, produziu a maior energia total, equivalente a 9000 supernovas comuns.
Observando todo o céu a cada três horas, o LAT está a proporcionar aos cientistas do Fermi um olhar cada vez mais detalhado do Universo extremo. "Descobrimos mais de mil fontes persistentes de raios-gama -- cinco vezes o número anteriormente conhecido," disse a cientista do projecto, Julie McEnery, do Centro Aeroespacial Goddard da NASA em Greenbelt, Maryland, EUA. "E associámos quase metade com objectos conhecidos noutros comprimentos de onda."
Os blazares -- galáxias distantes cujos buracos negros supermassivos emitem jactos de matéria a alta velocidade na nossa direcção -- são de longe a fonte mais prevalente, agora alcançando os mais de 500. Na nossa própria Galáxia, as fontes de raios-gama incluem 46 pulsares e dois sistemas binários onde uma estrela de neutrões orbita rapidamente uma estrela jovem e quente.
"A equipa do Fermi fez um grande trabalho comissionando o satélite e começando as suas observações científicas," disse Jon Morse, director da Divisão de Astrofísica da sede da NASA em Washington. "E agora o Fermi está mais que cumprindo a sua promessa científica única de fazer descobertas importantes e foram do comum acerca do Universo extremo e da estrutura do espaço-tempo."
EXPLOSÃO DO PASSADO PROPORCIONA PISTAS ACERCA DO UNIVERSO JOVEM

Astrónomos, usando o radiotelescópico VLA (Very Large Array) obtiveram novos conhecimentos tantalizantes acerca da natureza do mais distante objecto já observado -- uma gigantesca explosão estelar conhecida como uma explosão de raios-gama (GRB).
A explosão foi detectada a 23 de Abril pelo satélite Swift da NASA, e os cientistas cedo se aperceberam que estava a mais de 13 mil milhões de anos-luz da Terra. Representa um evento que ocorreu 630 milhões de anos após o Big Bang, quando o Universo tinha apenas 4% da sua idade actual, 13,7 mil milhões de anos.
"Esta explosão proporciona um olhar sem precedentes numa era quando o Universo era muito jovem e também sofria mudanças drásticas. A escuridão cósmica primitiva estava a ser perfurada pela luz das primeiras estrelas e as primeiras galáxias estavam a começar a formar-se. A estrela que explodiu neste evento era um membro destas primeiras gerações de estrelas," afirma Dale Frail do Observatório Nacional de Rádio-Astronomia dos EUA.
Os astrónomos viraram os telescópios de todo o mundo para estudar a explosão, denominada GRB 090423. O VLA olhou pela primeira vez para o objecto no dia seguinte à descoberta, detectou as primeiras ondas de rádio da explosão uma semana depois, e seguidamente registou mudanças no objecto até que se extinguiu mais de dois meses depois.
"É importante estudar estas explosões com muitos tipos de telescópios. A nossa equipa de pesquisa combinou dados do VLA com dados de telescópios de raios-X e infravermelho para reunir algumas das condições físicas da explosão," disse Derek Fox da Universidade Estatal da Pennsylvania. "O resultado é um olhar único sobre o princípio do Universo que não podíamos ter obtido de outra maneira," acrescentou.
Os cientistas concluíram que a explosão foi mais energética que a maioria dos GRBs, foi uma explosão quase esférica, e que se expandiu num meio gasoso relativamente uniforme e ténue que rodeava a estrela.
Os astrónomos suspeitam que as primeiras estrelas no Universo eram muito diferentes -- mais brilhantes, quentes e massivas -- daquelas que se formaram depois. Esperam descobrir provas destes gigantes ao observar objectos longínquos como GRB 090423 ou ainda mais distantes.
"A melhor maneira de distinguir estas estrelas distantes de gerações prematuras é através do estudo das suas mortes explosivas, como supernovas ou explosões de raios-gama," afirma Poonam Chandra, do Colégio Militar Real do Canadá, e líder da equipa de pesquisa. Embora os dados do GRB 090423 não indiquem que tenha resultado da morte de tal monstruosa estrela, novas ferramentas astronómicas estão para vir com capacidade para as revelar.
"O instrumento ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) permitir-nos-á descobrir estes GRBs muito distantes mais facilmente para que os possamos seleccionar para observações posteriores mais detalhadas e intensas. O EVLA (Expanded Very Large Array), com muito mais sensibilidade que o VLA actual, fará com que possamos seguir estas explosões durante muito tempo e aprender muito mais sobre as suas energias e ambientes. Seremos capazes de olhar ainda mais para o passado," afirma Frail. Tanto o ALMA como o EVLA têm acabamentos previstos para 2012.
NOVO TELESCÓPIO ESPACIAL IRÁ ESTUDAR TEMPESTADES SOLARES

Enquanto os astrónomos observam estrelas cada vez mais longínquas, alguns cientistas querem observar melhor a estrela mais próxima: o Sol.
A NASA planeia lançar uma nova sonda, a Solar Dynamics Observatory (SDO), para fazer as observações solares mais detalhadas de sempre e para compreender a sua complexa meteorologia e tempestades.
"O Sol muda de cada vez que olhamos para ele, nunca é o mesmo," disse Dean Pesnell, cientista do projecto SDO do Centro Aeroespacial Goddard da NASA em Greenbelt, Maryland, EUA, numa conferência de imprensa na passada Quinta-feira.
Os cientistas esperam que os dados da nova sonda os ajudem a melhor compreender as mudanças no campo magnético do Sol, que se torna mais e menos activo ao longo de um ciclo de 11 anos, libertando promeninências periódicas de partículas carregadas que podem avariar a tecnologia terrestre.
A sonda de 808 milhões de dólares tem lançamento previsto para 9 de Fevereiro, por volta das 15:36 (hora de Portugal), a bordo de um foguetão Atlas V, de Cabo Canaveral, Flórida.
A maioria da Terra está protegida contra estas partículas carregadas, a que chamamos vento solar, graças ao seu próprio campo magnético, que as repele. Mas durante uma tempestade solar, alguns destes desvastadores ataques podem chegar ao chão, provocando perturbações nos sistemas de navegação por satélite, às comunicações por rádio, às redes eléctricas e a outros sistemas.
"O nosso Sol afecta a nossa vida cada vez mais, à medida que ficamos cada vez mais dependentes da tecnologia," afirma Pesnell.
Os dados da SDO vão ajudar a melhor prever as proeminências solares, com o objectivo de evitar o pior dos estragos. Isto será particularmente importante quando os seres humanos começarem a viajar de volta à Lua e até Marte, onde não existe um casulo magnético para os proteger, a eles e às suas naves.
O observatório contém três instrumentos para capturar imagens do Sol em oito comprimentos de onda a cada 10 segundos. Os dados serão usados para estudar o processo que gera o campo magnético do Sol, denominado dínamo solar.
"A compreensão do dínamo e o sermos capaz de o prever, é o santo graal da física solar," acrescentou Madhulika Guhathakurta, cientista do programa SDO na sede da NASA em Washington, D.C.
Após alcançar órbita terrestre, a SDO fará alguns testes, e provavelmente será capaz de enviar os seus primeiros dados científicos cerca de 60 dias após o lançamento. Os cientistas do projecto dizem que ao longo da sua missão de cinco anos, a SDO vai revolucionar o nosso conhecimento da física solar.
DESCOBERTO NOVO TIPO DE SUPERNOVA PREVISTO POR FÍSICOS TEÓRICOS

Uma nova classe de supernova foi descoberta por cientistas da Universidade de Berkeley, Califórnia, EUA, e pode ser o primeiro exemplo de um novo tipo de explosão estelar. Uma equipa de astrofísicos da Universidade de Santa Barbara, também na Califórnia, previu este tipo de explosão no seu trabalho teórico.
Lars Bildsten, professor no Instituto Kavli para Física Teórica (KITP) da UCSB, e colegas, previram um novo tipo de supernova em galáxias distantes, que seriam mais ténues que a maioria e que aumentariam e diminuiriam de brilho em apenas poucas semanas.
A descoberta, liderada por Dovi Poznanski (pós-doutorado de Berkeley, que também pertence ao Laboratório Nacional Lawrence Berkeley), é anunciada na edição Express de 5 de Novembro da revista Science. Bildsten soube da descoberta de Poznanski no passado mês de Agosto, quando organizava uma conferência.
"À medida que falávamos do nosso trabalho ao longo dos últimos anos, a maioria dos astrónomos na audiência lembrou-nos que nunca tínhamos observado tal evento," disse Bildsten. "Nós dissémos para continuarem a tentar!"
Há pouco mais de 2 anos, Bildsten trabalhava com os seus colaboradores, quando se aperceberam que o resultado dos seus cálculos previa uma explosão observável, nunca vista no céu nocturno.
"Tendo o céu como limite, os observadores estão normalmente à frente da teoria," afirma Bildsten, "por isso estou feliz por termos feito uma previsão que nos permitiu uma rápida interpretação de um novo fenómeno. Embora a supernova tivesse sido observada em 2002, foi preciso o penetrante olho de Dovi Poznanski para apreciar a sua importância e relevância."
Bildsten explicou que a maioria das estrelas termina a sua vida gentilmente, formando anãs brancas com a massa do Sol embalada no raio da Terra. Embora sejam muito densos, estes objectos, constituídos ou por uma mistura de carbono e oxigénio ou por hélio quase puro, arrefecem até temperaturas tão baixas que as reacções de fusão já não podem ocorrer. No entanto, em casos raros, dois destes objectos orbitam-se tão de perto -- com um período orbital de poucos minutos -- que o hélio da anã branca mais leve é puxado para fora pelas forças de maré e acumula-se na anã branca mais massiva.
É esta ocorrência rara que leva a condições únicas da explosiva ignição termonuclear e a uma expulsão total do hélio acumulado. A abundância excessiva de elementos radioactivos invulgares, feitos nesta fusão rápida, origina um brilhante espectáculo de luz que dura algumas semanas.
Já há muitas décadas que se conhecem estes brilhantes eventos de plenas explosões termonucleares em anãs brancas, referidas como uma "supernova Tipo Ia". São mais brilhantes que o todo de uma galáxia durante mais de um mês e são muito úteis para os estudos cosmológicos.
A estrela em causa, denominada SN2002bj, foi observada há sete anos atrás na galáxia NGC 1821 por astrónomos amadores, mas foi erradamente classificada como uma supernova Tipo II. Mas SN2002bj tem uma assinatura diferente de todas as outras variações conhecidas nestes dois tipos. Em particular, aumentou e diminuiu de brilho em menos de 27 dias, tendo em conta que a maioria das supernovas aumentam e diminuem de brilho ao longo de três, quatro meses.
Os eventos previstos por Bildsten e colaboradores têm apenas um-décimo do brilho durante um-décimo do tempo, levando à inteligente denominação, por Chris Stubbs, professor da Universidade de Harvard, destes eventos, como uma supernova ".Ia" (ponto um a). Relativamente à publicação, em Junho de 2007, desta teoria na "Astrophysical Journal Letters", Bildsten disse: "Estava preocupado se a revista nos deixava nomear ou não um evento ainda não observado, mas deixaram -- e o nome pegou. O marketing é uma grande parte do sucesso de uma ideia, mesmo na Ciência."
Não obstante o sucesso aparente, ainda permanecem puzzles, e Bildsten e seu colaboradores, especialmente os estudantes Ken Shen e Kevin Moore, da UCSB, estão a trabalhar activamente neles. Estes incluem questões teóricas de como é que o hélio explode, e se a anã branca mais pequena fica para trás ou não. Shen afirmou: "nós estivémos sempre interessados nestas novas possibilidades, mas agora temos uma motivação real. Onde há uma, existem muitas, por isso as coisas vão tornar-se mais excitantes."
Lançamento Nocturno do Vaivém Endeavour

Por vezes, o vaivém espacial descola à noite. Na imagem, o vaivém Endeavour levanta voo nas primeiras horas de dia 8, a partir da plataforma de lançamento 39A no Centro Espacial Kennedy, na Flórida, EUA, com destino à ISS. Os lançamentos nocturnos são úteis, pois torna mais fácil alcançar a estação espacial durante certas alturas do ano, e frequentemente causa impacto a quem o observa. O vaivém encontra-se no meio da enorme pluma libertada pelos poderosos foguetões, que elevam o autocarro espacial com dois milhões de quilos até órbita. A missão do Endeavour, apelidada STS-130, inclui a entrega do módulo Tranquility. Este módulo trará mais espaço aos astronautas da estação e inclui um grande conjunto circular de janelas desenhadas para oferecer espectaculares vistas da Terra, do céu, e da própria estação espacial.
2010 - Núcleo de Astronomia do Centro Ciência Viva do Algarve. Compilado por Miguel Montes e Alexandre Costa. Os conteúdos das hiperligações encontram-se na sua esmagadora maioria em Inglês.
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EXOPLANETAS FORNECEM PISTAS PARA EXPLICAR A ESTRANHA QUÍMICA DO SOL

Com base num censo de 500 estrelas, 70 das quais conhecidas por possuírem planetas, estabeleceu-se uma relação entre o "mistério do lítio" observado no Sol e a presença de sistemas planetários. Utilizando o espectrógrafo do ESO, HARPS, uma equipa de astrónomos descobriu que estrelas do tipo do Sol que albergam planetas destroem o seu lítio com muito mais eficácia do que as estrelas sem planetas. Esta descoberta não só ajuda a compreender a falta de lítio na nossa estrela, como também fornece aos astrónomos um método muito eficaz para procurar estrelas com sistemas planetários.
"Durante quase 10 anos tentámos descobrir o que diferencia as estrelas que apresentam sistemas planetários das que não os possuem," diz Garik Israelian, primeiro autor do artigo que aparece esta semana na revista Nature. "Acabámos de descobrir que a quantidade de lítio em estrelas do tipo solar depende da existência ou não de planetas na sua órbita."
Desde há várias décadas que se tem vindo a observar níveis baixos deste elemento químico no Sol, quando comparados com outras estrelas do tipo solar, e os astrónomos têm sido incapazes de explicar esta discrepância. A descoberta de uma tendência para baixos valores de lítio em estrelas que albergam planetas explica de forma natural este mistério de longa data. "Para nós, a explicação deste mistério com mais de 60 anos é bastante simples," acrescenta Israelian. "O Sol tem lítio a menos porque tem planetas."
Esta conclusão baseia-se na análise de 500 estrelas, incluindo 70 que albergam planetas. A maioria destas estrelas foram monitorizadas durante vários anos com o instrumento do ESO, High Accuracy Radial Velocity Planet Searcher. Este espectrógrafo, conhecido como HARPS, está montado no telescópio de 3.6 metros do ESO e é o principal descobridor de exoplanetas do mundo. "Esta é a melhor amostra disponível até à data, que nos permite estudar o que torna únicas as estrelas que possuem sistemas planetários," diz o co-autor Michel Mayor.
Os astrónomos observaram particularmente estrelas do tipo do Sol, as quais perfazem quase um quarto da amostra. Descobriram que a maioria das estrelas que albergam planetas possuem menos de 1% da quantidade de lítio observado nas outras estrelas. "Tal como o nosso Sol, estas estrelas foram muito eficazes na destruição do lítio que tinham aquando da sua formação," diz Nuno Santos, membro da equipa. "Utilizando a nossa amostra, bastante extensa e única, podemos também demonstrar que o motivo desta redução de lítio não se relaciona com nenhuma outra propriedade da estrela, como por exemplo a sua idade."
Contrariamente à maioria dos elementos mais leves que o ferro, os núcleos leves de lítio, berílio e boro não são produzidos em grande quantidade nas estrelas. Com efeito, pensa-se que o lítio, composto por apenas três protões e quatro neutrões, foi produzido essencialmente depois do Big Bang, há cerca de 13.7 mil milhões de anos. A maioria das estrelas têm, por isso, a mesma quantidade de lítio, a não ser que este elemento tenha sido destruído no interior da estrela.
Este resultado proporciona igualmente aos astrónomos um novo método, bastante eficaz, na procura de sistemas planetários: ao verificar a quantidade de lítio presente numa estrela os astrónomos podem decidir quais as estrelas que terão provavelmente planetas e que por isso necessitarão de observações complementares.
Agora que a relação entre a presença de planetas e os curiosos baixos níveis de lítio se estabeleceu, o mecanismo físico por detrás deste efeito tem que ser estudado. "Existem vários processos pelos quais um planeta pode perturbar os movimentos internos da matéria no interior da estrela hospedeira, alterando a distribuição dos vários elementos químicos e possivelmente provocando a destruição de lítio. Cabe agora aos teóricos descobrir quais destes processos terão maior probabilidade de se produzir," conclui Mayor.
GRANDES QUANTIDADES DE ÁGUA DESCOBERTAS NA LUA

É oficial: há água na Lua, e muita. Quando derretida, a água pode potencialmente ser usada para consumo dos astronautas ou para extraír hidrogénio para combustível.
A sonda LCROSS da NASA descobriu camadas de água gelada no pólo sul da Lua quando aí colidiu no mês passado, anunciaram na semana passada os cientistas da missão. As descobertas confirmam as suspeitas anteriormente anunciadas, e em grande.
"É verdade, descobrimos água. E não foi pouca, descobrimos uma grande quantidade," disse Anthony Colaprete, cientista do projecto LCROSS e seu investigador principal, do Centro de Pesquisa Ames da NASA em Moffett Field, Califórnia, EUA.
A sonda LCROSS colidiu no pólo sul lunar, numa cratera chamada Cabeus, no passado dia 9 de Outubro. A sonda, que custou 79 milhões de dólares, e que foi precedida pelo estágio do foguetão Centaur, atingiu a superfície lunar num esforço de criar uma pluma de detritos para os cientistas analisarem em busca de sinais de água gelada.
Estes sinais foram visíveis nos dados de medições espectográficas (que medem a luz absorvida em diferentes comprimentos de onda, revelando diferentes elementos) da cratera do estágio Centaur e da pluma de detritos, bi-partida, que o impacto criou. A assinatura da água foi observada tanto em medições no infravermelho como no ultravioleta.
"Vemos evidência de água em dois instrumentos," afirma Colaprete. "E é isso que nos torna realmente confiantes nas nossas descobertas."
Com base nas medições dos seus instrumentos, a equipa estima ter observado cerca de 100 kg de água na área da cratera de impacto (com cerca de 20 metros de diâmetro) e no manto de detritos libertados (entre 60 e 80 metros de diâmetro), acrescenta Colaprete. "Estou impressionado com a quantidade de água que vimos na nossa pequena cratera com 20 metros".
"O que é realmente excitante é que atingimos apenas um local. É como procurar petróleo: uma vez que o descubramos num lugar, é muito provável que exista também nas redondezas," disse Peter Schultz, professor de ciências geológicas na Universidade de Brown e co-investigador da missão LCROSS.
Esta descoberta de água não significa que a Lua é molhada como a Terra, mas é provavelmente mais molhada que alguns dos desertos mais secos da Terra, afirma Colaprete. E mesmo esta pequena quantidade é valiosa para as possíveis missões futuras, realça Michael Wargo, cientista lunar para os Sistemas de Exploração na sede da NASA.
Os cientistas há muito que suspeitavam que as crateras em sombra perpétua no pólo sul da Lua poderiam ser frias o suficiente para manter água gelada à superfície, com base em detecções de hidrogénio por prévias missões lunares. A água já tinha sido detectada na Lua por um instrumento a bordo da agora defunta Chandrayaan-1, uma sonda da Índia, embora em muito pequenas quantidades e ligada à poeira da superfície lunar.
A água não foi o único composto observado na pluma de detritos do impacto LCROSS.
"Há ali muitas coisas". O que são exactamente esses compostos, ainda não se determinou, mas podem incluir materiais orgânicos que apontariam para impactos cometários no passado.
As descobertas mostram que "os pólos lunares são uma espécie de registo" da história lunar e da história do Sistema Solar, porque estas regiões permanentemente à sombra são muito frias "e isso significa que tendem a capturar e a manter coisas que aí se encontrem," disse Greg Delory, do Laboratório de Ciências Espaciais e do Centro de Ciências Planetárias Integrativas da Universidade da Califórnia, Berkeley. "Por isso contam uma história acerca do clima da Lua e do Sistema Solar."
A confirmação que há água na Lua não é o fim da história. Uma questão fundamental ainda por responder é de onde veio. Algumas teorias já foram propostas para explicar a origem da água, incluíndo detritos de impactos cometários, interacção da superfície lunar com o vento solar, e até mesmo gigantes nuvens moleculares passando perto do Sistema Solar, afirma Delory.
Os cientistas também querem continuar a examinar os dados para descobrir em que estado está esta água. Colaprete diz que com base em observações iniciais, é provável que a água gelada esteja intercalada entre partículas de poeira na superfície lunar.
Outras questões que os cientistas querem ver respondidas: que tipos de processos movem, destroem e criam a água à superfície e há quanto tempo lá está, acrescenta Delory.
Os cientistas também estão à procura de uma ligação entre a água observada pela LCROSS e a descoberta pela Chandrayaan-1.
PROJECTO RECORDE DE RADIOASTRONOMIA MEDE O CÉU COM EXTREMA PRECISÃO

Astrónomos irão juntar a maior colecção de radiotelescópios do mundo para trabalhar como uma única ferramenta de observação num projecto com o objectivo de melhorar a precisão do quadro de referência que os cientistas usam para medir posições no céu.
Durante 24 horas, começando hoje, 18 de Novembro, e acabando amanhã, Quinta, dia 19, 35 rádiotelescópios localizados em sete continentes irão observar 243 quasares distantes. Os quasares, galáxias com buracos negros supermassivos nos seus núcleos, são pródigos emissores de ondas de rádio, e estão também tão distantes que, apesar dos seus reais movimentos no espaço, parecem estacionários vistos da Terra. Esta falta de movimento aparente torna-os marcos celestes ideais para ancorar um sistema de rede, parecido à latitude e longitude terrestres, usado para marcar as posições dos objectos celestes.
Dados de todos os radiotelescópios serão combinados num todo para funcionarem como um único sistema capaz de medir posições celestes com uma precisão extremamente alta. A técnica usada, denomada VLBI (very long baseline interferometry ou interferometria astronómica), é já usada há décadas, tanto para a pesquisa geodésica como para a astronómica. No entanto, nenhuma prévia observação tinha usado tantos radiotelescópios ou observado tantos objectos numa única sessão. O recorde actual situa-se nos 23 telescópios.
Numa reunião no Brazil no passado mês de Agosto, a União Astronómica Internacional adoptou um novo quadro de referência para as posições celestes que entrará em uso a partir de 1 de Janeiro. Este novo quadro de referência usa um conjunto de 295 quasares para definir posições, tal como as marcas de referência de um perito numa subdivisão suburbana. Mesmo com os 35 radiotelescópios espalhados por todo o mundo, existem algumas falhas na cobertura do céu, e a observação de hoje irá observar 243 desses 295.
Ao observar tantos quasares numa única sessão de observação, podem ser evitados os problemas de ligação de posição de uma sessão de observação para outra, dizem os astrónomos. O resultado será uma grelha de referência muito mais forte e precisa. Irão participar nesta iniciativa telescópios na Ásia, Austrália, Europa, América do Norte, América do Sul, Antártica e no Pacífico.
O melhoramento da grelha celeste permitirá aos astrónomos melhor localizar as posições e medir os movimentos dos objectos no céu. À medida que os astrónomos estudam cada vez mais os objectos usando múltiplos telescópios e em diferentes comprimentos de onda, tal como no visível, no rádio, infravermelho, etc., o melhorado quadro de referência permitirá uma maior e mais precisa sobreposição de diferentes imagens.
Este novo quadro de referência celeste também fortalece um quadro de referência terrestre usado para as medições dos radiotelescópios que contribui para a pesquisa geofísica. As precisas medições geodésicas ajudam os geofísicos a melhor compreender fenómenos como as placas tectónicas, as marés, e os processos que afectam a orientação do nosso planeta no espaço.
A observação com múltiplos telescópios será acompanhada por actividades públicas em conjunto com a celebração do Ano Internacional da Astronomia. Uma página web dedicada à observação será alojada pelo Observatório de Bordeaux, e alguns dos telescópios participantes terão webcams disponíveis para consulta.
CASSINI SOBREVIVE ENCONTRO COM "ESTRELA DA MORTE"

No passado dia 13 de Fevereiro, a Cassini passou pela lua de Saturno, Mimas, a uma distância de 9500 km. Mimas é uma das luas interiores de Saturno, com um diâmetro médio de 396 km.
Passou directamente por cima da Herschel, uma cratera cuja criação quase destruíu a lua e que, graças à sua aparência, apelidou Mimas com a alcunha "Estrela da Morte", à semelhança da base do filme "Guerra das Estrelas". A cratera Herschel mede um-terço do diâmetro da lua. As suas paredes têm cerca de 5 km de altura, e partes do chão têm aproximadamente 10 km de profundidade.
A equipa da Cassini colocou à disposição do público em geral imagens não processadas da passagem rasante da Cassini. São as imagens mais detalhadas já obtidas deste satélite.
Esta passagem por Mimas envolveu algum esforço por parte da equipa porque a sonda passou por uma região de poeira e como tal precisava de ter protecção, usando para isso a sua antena de alto-ganho.
A Missão Equinócio da Cassini, da qual o "flyby" por Saturno é apenas uma pequena parte, é um esforço conjunto das agências espaciais americana e europeia. O JPL, em Pasadena, EUA, gere a missão para o Directorado de Missões Científicas da NASA em Washington. A sonda Cassini foi desenhada, desenvolvida e montada no JPL. A equipa de imagem consiste de cientistas dos EUA, Reino Unido, França e Alemanha. O seu centro de operações tem sede no SSI (Space Science Institute) em Boulder, no Colorado.
ÁGUA DESCOBERTA NA LUA VEIO PROVAVELMENTE DE COMETAS

O mistério de onde veio a água da Lua pode em breve ser resolvido. As evidências da missão LCROSS da NASA sugerem que muita foi entregue por cometas em vez de se ter formado à superfície através de uma interacção com o vento solar.
Em Outubro, dois objectos colidiram com a Lua - um estágio de foguetão e poucos minutos depois, a própria sonda LCROSS - numa cratera perto do pólo sul da Lua. A sonda capturou imagens e obteve dados espectográficos do detrito lunar expelidos pelo impacto do foguetão, descobrindo que continha inequívocos sinais de água.
As missões anteriores também tinham descoberto pistas de água lunar mas a sua fonte não era clara. Uma teoria afirma que se forma quando os átomos de hidrogénio no vento solar se ligam com os átomos de oxigénio no solo lunar, criando hidróxilo e água.
Mas agora, as evidências tendem a favor de uma explicação alternativa - impactos de cometa. Os dados foram discutidos esta semana na reunião do Grupo de Análise de Exploração Lunar, um encontro de 160 cientistas em Houston, Texas, EUA.
A primeira linha de provas vem de compostos que se vaporizam rapidamente, ou voláteis. A LCROSS descobriu sinais espectrais de compostos voláteis contendo carbono e hidrogénio - provavelmente metano e etanol - bem como outros como amónia e dióxido de carbono. "Parece que colidimos numa área muito rica em compostos voláteis," disse Tony Colaprete, cientista principal da LCROSS, numa conferência de imprensa.
Estes compostos, na sua maioria, já deveriam ter sido perdidos para o espaço há milhares de milhões de anos atrás, quando a Lua coalesceu dos detritos de um impacto entre a Terra e um objecto com o tamanho de Marte. A água formada através de uma interacção com o vento solar seria por isso relativamente pura - e livre de compostos voláteis.
Mas os cometas, que se pensa serem os responsáveis por muitas das cicatrizes de impacto na Lua, são "bolas de neve suja" que se sabe conterem compostos voláteis como o metano. "Se conseguirmos descobrir a fonte da água [na Lua], isso poderá dizer-nos muito mais acerca da história da Lua durante o último par de mil milhões de anos," diz Larry Taylor da Universidade do Tennessee.
A segunda linha de evidências que aponta para os cometas vem da quantidade de água detectada. Espera-se que o vento solar forme água em quantidades minúsculas, resultando em concentrações não maiores do que 1% do solo lunar.
Os membros da equipa LCROSS estão ainda a analisar os dados, mas os cálculos sugerem que a concentração de água é maior. "Os dados são consistentes com um conteúdo total de hidrogénio na ordem de alguns percento," disse Colaprete.
Para lá da sua ligação com os cometas, os elementos voláteis geraram excitação na reunião devido ao seu valor como recurso para o voo espacial. Apesar da água ser importante para sobreviver na Lua, é o hidrogénio na água que pode ser usado como combustível para foguetões.
A possibilidade de descobrir compostos como etanol e metano, que podem ser usados directamente como combustível, torna ainda mais doce a questão económica do ser humano regressar à Lua. "A LCROSS deu-nos o nosso bilhete de volta à Lua," acrescenta Noah Petro do Centro Aeroespacial Goddard da NASA em Greenbelt, Maryland, EUA.
NOVOS RESULTADOS DA MISSÃO STARDUST PINTAM IMAGEM CAÓTICA DO JOVEM SISTEMA SOLAR

Embora se pense que os cometas sejam dos corpos mais antigos e primitivos no Sistema Solar, novas investigações do Cometa Wild 2 indicam que material do Sistema Solar interior foi transportado até à região de formação cometária pelo menos 1,7 milhões de anos após a formação dos sólidos mais antigos do Sistema Solar.
A pesquisa, por cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Livermore e colegas, providencia a primeira restrição da idade do material cometária de um cometa conhecido. Os achados foram publicados na edição de 25 de Fevereiro da revista Science Express.
A missão Stardust da NASA ao Cometa Wild 2, lançada em 1999, foi desenhada em torno do pressuposto que os cometas preservam restos pristinos de materiais que ajudaram a formar o Sistema Solar. Em 2006, a Stardust enviou de volta as primeiras amostras de um cometa.
Embora se esperasse que a missão fornecesse um olhar único sobre o começo do Sistema Solar ao enviar amostras, grãos amorfos do meio interestelar e verdadeira poeira estelar (grãos cristalinos originários de estrelas distantes), os resultados iniciais pintaram uma imagem diferente. Ao invés, os materiais cometários consistiram de materiais de alta-temperatura, incluíndo inclusões ricas em cálcio-alumínio (CAI em inglês), os objectos mais antigos formados na nebulosa solar. Estes objectos formam-se nas regiões interiores da nebulosa solar e são comuns em meteoritos.
A presença de CAIs no cometa Wild 2 indica que a formação do Sistema Solar incluíu misturas em distâncias radiais muito maiores do que as reconhecidas pelos cientistas nos passado.
"O material do Sistema Solar interior no Wild 2 sublinha a importância do transporte radial do material a grandes distâncias na antiga nebulosa solar," afirma a autora principal do estudo, Jennifer Matzel, do laboratório do Instituto de Geofísica e Ciência Planetária e do Instituto Glenn T. Seaborg. "Estes achados também levantam importantes questões no que toca à escala de tempo da formação dos cometas e à relação entre o Wild 2 e outros objectos da nebulosa solar primitiva." As análises mostraram que os materiais do Sistema Solar interior formaram-se 1,7 milhões de anos depois do começo da formação das CAI.
TELESCÓPIO SPITZER OBSERVA ANÃ CASTANHA BEBÉ

O telescópio espacial Spitzer, da NASA, contribuíu para a descoberta da anã castanha mais jovem já observada -- um achado que, se confirmado, pode resolver o mistério astronómico de como estes objectos cósmicos são formados.
As anãs castanhas são um pouco proscritas porque caem algures entre os planetas e as estrelas, no que toca à sua temperatura e massa. São mais frias e leves que as estrelas e mais massivas (e normalmente mais quentes) que os planetas. Isto tem aquecido um debate entre os astrónomos: as anãs castanhas formam-se como os planetas ou como as estrelas?
As anãs castanhas nascem das mesmas nuvens densas que formam estrelas e planetas. Mas embora partilhem o mesmo berçário galáctico, as anãs castanhas são regularmente apelidadas de estrelas "falhadas" porque não têm a massa das suas irmãs estelares, mais quentes e brilhantes. Sem essa massa, o gás nos seus núcleos não fica quente o suficiente para despoletar a fusão nuclear que queima hidrogénio -- o componente principal destas nuvens moleculares -- em hélio. Incapazes de "acender" como estrelas, as anãs castanhas acabam como objectos mais frios e menos luminosos, mais difíceis de detectar -- um desafio ultrapassado, neste caso, pela visão infravermelha do Spitzer.
Para complicar ainda mais as coisas, as jovens anãs castanhas evoluem rapidamente, o que as torna difícil de detectar à nascença. A primeira anã castanha foi descoberta em 1995 e, embora desde aí já tenham sido descobertas centenas, os astrónomos não têm sido capazes, inequivocamente, de as descobrir num estágio de formação mais inicial. Até agora. Neste estudo, uma equipa internacional de astrónomos descobriu uma denominada "proto anã castanha" enquanto ainda abrigada pelo seu manto de nuvens moleculares. Guiados por dados recolhidos pelo Spitzer em 2005, focaram a sua pesquisa na nuvem escura Barnard 213, uma região do complexo de Touro-Cocheiro, bem conhecido pelos astrónomos como um "local de caça" de objectos jovens.
"Nós decidimos retroceder vários passos no processo, até quando [as anãs castanhas] estão realmente escondidas," disse David Barrado do Centro de Astrobiologia de Madrid, Espanha, autor principal do artigo, publicado na revista Astronomy & Astrophysics. "Durante esta etapa, teriam uma cobertura opaca, um casulo, e seriam mais fáceis de identificar devido aos seus fortes excessos no infravermelho. Usámos esta propriedade para as identificar. Aqui é que o Spitzer desempenha um importante papel, pois consegue observar o que se passa dentro destas nuvens. Sem ele o nosso estudo não teria sido possível."
A câmara infravermelha do Spitzer penetrou o berçário poeirento para observar uma anã castanha bebé, apelidada de SSTB213 J041757. Os dados, confirmados com observações no infravermelho pelo Observatório de Calar Alto na Espanha, revelaram não uma mas duas, que potencialmente poderão ser as anãs castanhas mais ténues e frias já observadas.
Barrado e a sua equipa embarcaram numa busca internacional por mais informação acerca dos dois objectos. O seu objectivo científico era observar e caracterizar a presença deste invólucro de poeira -- prova do "ventre celeste" que indicaria que estas anãs castanhas estariam, de facto, nos seus estágios evolucionários mais iniciais.
As gémeas foram observadas por todo o globo, e as suas propriedades foram medidas e analisadas usando um conjunto de poderosas ferramentas astronómicas. Uma das paragens dos astrónomos foi o Observatório Submilímetro do Caltech no Hawaii, EUA, que capturou a presença da cobertura em torno dos jovens objectos. Essa informação, em conjunto com o que tinham do Spitzer, permitiu aos astrónomos a construção de uma distribuição energética espectral -- um diagrama que mostra a quantidade de energia emitida pelos objectos em cada comprimento de onda.
A partir do Hawaii, os astrónomos fizeram outras paragens em observatórios espanhóis (Calar Alto), no Chile (VLT), e no Novo México (VLA). Também obtiveram dados com 10 anos, dos arquivos do Centro de Dados Astronómicos do Canadá, que permitiu medir comparativamente como os dois objectos se moviam no céu. Ao fim de mais de um ano de observações, retiraram as suas conclusões.
"Fomos capazes de estimar que estes dois obejctos são as anãs castanhas mais ténues e frias até agora descobertas," afirma Barrado. Barrado disse que estes achados potencialmente resolvem o mistério se as anãs castanhas se formam mais como estrelas ou planetas. A resposta? Formam-se como estrelas de baixa-massa. Esta ideia é a mais aceite porque a mudança no brilho dos objectos em diversos comprimentos de onda coincide com a de estrelas leves e muito jovens.
Embora estudos futuros venham confirmar se estes dois objectos celestes são de facto proto anãs castanhas, são até agora os melhores candidatos, acrescenta Barrado. Ele realça que a viagem da sua descoberta, por mais difícil que tenha sido, foi divertida. "É uma história que se tem desenrolado peça a peça. Por vezes a natureza leva tempo a ceder os seus segredos."
Estas observações foram feitas antes do Spitzer ficar sem líquido refrigerante em Maio de 2009, começando a sua missão "quente".
"ESCAVAÇÃO" CÓSMICA REVELA VESTÍGIOS DA ORIGEM DA VIA LÁCTEA

Espreitando através de espessas nuvens de poeira no bojo da nossa Galáxia (as miríades de estrelas que envolvem o seu centro) e revelando uma extraordinária quantidade de detalhes, uma equipa de astrónomos descobriu uma estranha mistura de estrelas no grupo estelar chamado Terzan 5. Nunca antes observado no bojo da Galáxia, este peculiar "cocktail" de estrelas sugere que Terzan 5 é de facto um dos blocos construtores do bojo, mais provavelmente uma relíquia de uma galáxia anã que se fundiu com a Via Láctea durante a sua fase inicial.
"A história da Via Láctea está codificada no interior nos seus fragmentos mais antigos, enxames globulares e outros sistemas de estrelas que foram testemunhas de toda a evolução da nossa galáxia," diz Francesco Ferraro, autor principal do artigo que aparece na edição desta semana da revista Nature. "O nosso estudo abre uma nova janela sobre mais uma parte do nosso passado galáctico."
Tal como os arqueólogos que escavam, por entre camadas de poeira, restos de civilizações passadas e desenterram peças cruciais da história da humanidade, também os astrónomos observaram por entre as grossas camadas de poeira interestelar que obscurecem o bojo da Via Láctea e revelaram uma relíquia cósmica extraordinária.
O alvo deste estudo é o enxame estelar Terzan 5. As novas observações mostram que este objecto ao contrário da maioria, com a excepção de alguns enxames globulares peculiares, não alberga estrelas nascidas todas ao mesmo tempo - a que os astrónomos chamam "população única" de estrelas. Em vez disso, a imensa quantidade de estrelas brilhantes no Terzan 5 vem de, pelo menos, duas épocas distintas, a mais antiga de há cerca de 12 mil milhões de anos e a outra de 6 mil milhões de anos.
"Apenas mais um enxame globular com uma história semelhante de formação estelar, bastante complexa, foi observado no halo da Via Láctea: Omega Centauri," diz o membro da equipa Emanuele Dalessandro. "Esta é, por isso, a primeira vez que observamos este fenómeno do bojo da Galáxia."
O bojo é a região da Galáxia mais inacessível, em termos de observações astronómicas: apenas a radiação infravermelha consegue penetrar as nuvens de poeira e revelar as suas miríades de estrelas. "É apenas devido aos soberbos instrumentos montados no Very Large Telescope do ESO," diz a co-autora Barbara Lanzoni, "que conseguimos finalmente, ‘penetrar o nevoeiro’ e obter uma perspectiva completamente nova da origem do próprio bojo galáctico."
Uma jóia da técnica encontra-se nos bastidores desta descoberta, o instrumento Multi-conjugate Adaptive Optics Demonstrator (MAD) que, na fronteira da tecnologia, permite ao VLT obter imagens altamente detalhadas no infravermelho. A óptica adaptativa é a técnica pela qual os astrónomos conseguem eliminar o efeito de manchas em fontes pontuais que a turbulência existente na atmosfera terrestre inflige às imagens astronómicas obtidas pelos telescópios no solo; MAD é um protótipo ainda mais poderoso de um instrumento de próxima geração de óptica adaptativa.
Com o apurado olho do VLT os astrónomos descobriram igualmente que Terzan 5 tem mais massa do que se pensava anteriormente: em conjunto com uma composição complexa e uma história de formação estelar agitada, este facto sugere que o sistema possa ser um resto sobrevivente de uma galáxia anã desfeita, que colidiu e consequentemente se fundiu com a Via Láctea durante a sua fase inicial, contribuindo assim para a formação do bojo galáctico.
"Esta pode ser a primeira de uma série de descobertas que permitirão compreender a origem dos bojos nas galáxias, algo que ainda é frequentemente debatido," conclui Ferraro. "Vários sistemas similares podem esconder-se por detrás da poeira do bojo: é nestes objectos que a história de formação da nossa Via Láctea está escrita."
MEDIDO O PRIMEIRO EXOPLANETA TEMPERADO

Combinando observações do satélite CoRoT e do instrumento HARPS do ESO, os astrónomos descobriram o primeiro exoplaneta "normal" que pode ser estudado em grande pormenor. Conhecido pelo nome de Corot-9b, o planeta passa regularmente em frente a uma estrela semelhante ao Sol, situada a cerca de 1500 anos-luz de distância, na direcção da constelação da Serpente.
"Este é um exoplaneta normal, temperado, tal como dúzias doutros já nossos conhecidos. No entanto, este é o primeiro para o qual podemos estudar as suas propriedades em grande detalhe," diz Claire Moutou, que faz parte da equipa internacional de 60 astrónomos, que fez a descoberta. "Tornar-se-á, muito provavelmente, na pedra de Rosetta da investigação exoplanetária."
"Corot-9b é o primeiro exoplaneta que se parece realmente com os planetas do nosso sistema solar," acrescenta Hans Deeg, autor principal do trabalho. "Tem o tamanho de Júpiter e uma órbita similar à de Mercúrio."
"Tal como os nossos planetas gigantes, Júpiter e Saturno, o exoplaneta é principalmente constituído por hidrogénio e hélio," diz Tristan Guillot, membro da equipa, "e pode conter até cerca de 20 massas terrestres de outros elementos, incluindo água e rochas a altas pressões e temperaturas."
Corot-9b passa em frente à sua estrela hospedeira a cada 95 dias, visto a partir da Terra. Este "trânsito" dura cerca de 8 horas, e fornece aos astrónomos muitas informações adicionais acerca do planeta. Este facto é, na realidade, um acaso feliz já que o gigante gasoso partilha muitas das características dos exoplanetas descobertos até agora.
"A nossa análise forneceu mais informação sobre Corot-9b do que sobre outros exoplanetas do mesmo tipo," diz o co-autor Didier Queloz. "Muito provavelmente, abrirá um novo campo de investigação sobre as atmosferas de planetas com temperaturas baixas e moderadas. Em particular, abrirá uma janela completamente nova sobre a nossa compreensão da química das baixas temperaturas."
Mais de 400 exoplanetas foram descobertos até agora, 70 dos quais pelo método de trânsito. Corot-9b é especial no sentido em que a distância à estrela hospedeira é cerca de dez vezes maior do que esta mesma distância para qualquer dos planetas descobertos pelo mesmo método. E, contrariamente a esses exoplanetas, o planeta tem um clima temperado. A temperatura da sua superfície gasosa parece situar-se entre 160º e -20º Celsius, com variações mínimas entre o dia e a noite. O valor exacto depende da possível presença de uma camada de nuvens altamente reflectoras.
O satélite CoRoT, operado pela agência espacial francesa CNES, identificou o planeta depois de 145 dias de observações, durante o Verão de 2008. Observações feitas pelo muito bem sucedido caçador de exoplanetas do ESO - o instrumento HARPS montado no telescópio de 3.6 metros em La Silla, Chile - permitiram aos astrónomos calcular a sua massa, confirmando assim que Corot-9b é realmente um exoplaneta, com uma massa de cerca de 80% da massa de Júpiter.
Esta descoberta foi publicada na edição de ontem da revista Nature.
DISCOS PROTOPLANETÁRIOS NA NEBULOSA DE ORIONTE

Uma colecção de 30 imagens, nunca-antes-vistas, de sistemas planetários embriónicos na Nebulosa de Orionte, são o ponto alto do projecto mais longo do Hubble já dedicado ao tópico da formação estelar e planetária. Também conhecidos como discos protoplanetários, estes modestos "borrões" rodeiam estrelas bebés e ajudam os astrónomos a perceber o mecanismo por trás da formação planetária. Apenas o Telescópio Hubble da NASA/ESA, com a sua altíssima resolução e sensibilidade, é capaz de obter imagens tão detalhadas de discos circunstelares em comprimentos de onda visíveis.
Parecida com uma graciosa aquarela, a Nebulosa de Orionte é um dos objectos mais fotogénicos do céu e um dos alvos favoritos do Hubble. À medida que estrelas recém-nascidas surgem da mistura de gás e poeira da nebulosa, discos protoplanetários, também conhecidos como "proplyds", formam-se em seu redor: o centro do disco em rotação aquece e torna-se numa nova estrela, mas os restos de material à sua volta atraem poeira e agregam-se. Pensa-se que os proplyds sejam jovens sistemas planetários em formação. Num ambicioso estudo da famosa nebulosa, usando a câmara ACS (Advanced Camera for Surveys) do Hubble, os cientistas descobriram 42 discos protoplanetários.
Visível a olho nu, a Nebulosa de Orionte é conhecida desde a Antiguidade, mas foi descrita pela primeira vez só em meados do século XVII pelo astrónomo francês Nicolas-Claude Fabri de Peiresc - que detém o crédito da sua descoberta. A 1500 anos-luz de distância, a nebulosa, também conhecida como M42, é a região de formação estelar mais próxima da Terra, e contém estrelas massivas o suficiente para aquecer o gás em redor, inflamando-o de cor, e fazendo com que a região sobressaia no céu.
Nos contornos gasosos de Orionte, os investigadores identificaram dois tipos diferentes de discos em torno de estrelas jovens e em formação: aqueles que se situam perto da estrela mais brilhante do enxame (Theta 1 Orionic C) e aqueles mais distantes. Esta brilhante estrela aquece o gás dos discos vizinhos, fazendo com que brilhem significativamente. Os discos mais longínquos não recebem radiação energética suficiente da estrela para aquecer o gás e por isso podem apenas ser detectados como silhuetas escuras contra o pano de fundo da brilhante nebulosa, pois a poeira que os rodeia absorve luz visível. Ao estudar este discos em silhueta, os astrónomos são capazes de melhor caracterizar as propriedades dos grãos de poeira, que se pensa unirem e possivelmente formarem planetas como o nosso.
Os discos mais brilhantes são indicados por uma extremidade brilhante no material excitado na direcção da estrela brilhante, mas que nós vemos numa orientação aleatória dentro da nebulosa, alguns de lado e outros de cima, por exemplo. Outras características interessantes realçam a aparência destes objectos cativantes, tais como jactos de matéria e ondas de choque. As dramáticas ondas de choque formam-se quando o vento estelar da massiva estrela vizinha colide com o gás na nebulosa, esculpindo "boomerangs", flechas, e até no caso de 181-825, uma medusa espacial!
A observação de proplyds no visível é extremamente rara, mas a alta resolução e sensibilidade do Hubble, em conjunto com a proximidade de M42, permite a captura de imagens detalhadas destes potenciais sistemas planetários.
Este atlas de discos protoplanetários é o primeiro resultado científico do Programa de Tesouro do Hubble, em relação à Nebulosa de Orionte. Estes programas são feitos para permitir aos cientistas estudos compreensivos ao longo de grandes períodos de tempo, dado que este recurso, altamente valioso no Hubble, é rigorosamente repartido. As imagens em alta-resolução de discos protoplanetários servem como o exemplo de uma descoberta científica que levou ao desenvolvimento de melhores tecnologias e é um dos estudos científicos principais do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), um dos maiores projectos de astronomia terrestre da próxima década. O ALMA irá observar a poeira em maiores comprimentos de onda, em emissão (em vez de absorção como vemos no visível) e com uma resolução angular 10 vezes melhor que a do Hubble.
MAIS AVALANCHES EM MARTE

Em 2008, a câmara HiRISE a bordo da sonda Mars Reconnaissance Orbiter estava a estudar uma certa região de Marte em busca de variações nos padrões de geada à medida que a Primavera progredia, e capturou uma avalanche em acção. Este ano, a equipa da HiRISE tem estado alerta, pronta para capturar mais avalanches no hemisfério norte de Marte.
Pois bem, a sua busca foi bem sucedida! Esta espectacular imagem foi capturada a 27 de Janeiro de 2010, mostra um íngreme desfiladeiro na região polar norte de Marte, e pelo menos três nuvens isoladas de partículas caíndo pelo desfiladeiro. A equipa diz que estas nuvens, rolando ou pairando perto do chão, provavelmente alcançaram dezenas de metros em altura.
As avalanches são o resultado de geada de dióxido de carbono que se agarra às escarpas na escuridão do Inverno, e quando a luz solar aí chega na Primavera, liberta a geada e cai. O desfiladeiro, com aproximadamente 700 metros de altura, é composto porAqui está outra avalanche capturada a 12 de Janeiro de 2010. A equipa da HiRISE afirma que ao observar todas estas avalanches individuais, está a juntar um mosaico de acontecimentos deste processo, desde o começo (material que cai pelo desiladeiro) até ao fim (vagarosas nuvens de poeira).
Com base nas observações deste ano, estes eventos acontecem sobretudo no meio da Primavera, mais ou menos o equivalente a Abril ou princípios de Maio cá na Terra. Ao que parece, este é um processo primaveril normal para o pólo norte de Marte e pode ser esperado todos os anos - a estação das avalanches! Estas informações, em conjunto com os resultados dos modelos de comportamento dos materiais envolvidos, vão ajudar-nos a saber mais sobre estes dramáticos eventos. várias camadas de água gelada com conteúdos diversos de poeira, mais ou menos semelhante às calotes polares na Terra.
NOVAS DESCOBERTAS PLANETÁRIAS SUGEREM QUE PLANETAS DE BAIXA-MASSA SÃO COMUNS EM ESTRELAS VIZINHAS

Uma equipa internacional de caçadores de planetas descobriu seis planetas de baixa-massa em torno de duas vizinhas estrelas tipo-Sol, incluíndo duas "super-Terras" com 5 e 7,5 vezes a massa da Terra. Os investigadores, liderados por Steven Vogt da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, EUA, e Paul Butler do Instituto Carnegie em Washington, afirmam que as duas "super-Terras" são as primeiras descobertas em torno de estrelas tipo-Sol.
"Estas descobertas indicam que os planetas de baixa-massa são bastante comuns em torno de estrelas próximas. A descoberta de mundos vizinhos potencialmente habitáveis pode estar a meros anos," disse Vogt, professor de Astronomia e Astrofísica na Universidade da Califórnia.
A equipa descobriu os novos sistemas planetários através da combinação de dados recolhidos pelo Observatório Keck no Hawaii e pelo Telescópio Anglo-Australiano em Nova Gales do Sul, Austrália. Dois artigos científicos descrevendo os planetas foram aceites para publicação no Astrophysical Journal.
Três dos novos planetas orbitam a brilhante estrela 61 Virginis, que pode ser observada à vista desarmada sob céus escuros, na constelação primaveril de Virgem. Os astrónomos e astrobiólogos há muito que se sentiam fascinados por esta estrela em particular, que está a apenas 28 anos-luz de distância. Entre as centenas de vizinhos estelares, 61 Vir sobressai como sendo a mais parecida com o Sol em termos de idade, massa e outras propriedades essenciais. Vogt e seus colaboradores descobriram que 61 Vir contém pelo menos três planetas, com massas que variam entre as 5 e as 25 massas da Terra.
Recentemente, uma outra equipa de astrónomos usou o Telescópio Espacial Spitzer da NASA para descobrir que 61 Vir também contém um espesso anel de poeira a uma distância aproximadamente duas vezes a distância entre Plutão e o Sol. A poeira é aparentemente criada por colisões de corpos cometários nas frias e longínquas regiões do sistema.
"A detecção de poeira fria pelo Spitzer, em órbita de 61 Vir, indica a existência de uma afinidade real entre o Sol e 61 Vir," afirma Eugenio Rivera, investigador pósdoutoral da Universidade da Califórnia. Rivera estudou um grande conjunto de simulações numéricas para descobrir que um mundo tipo-Terra, habitável, poderia facilmente existir na região ainda inexplorada entre os planetas recém-descobertos e o disco exterior de poeira.
De acordo com Vogt, o sistema planetário 61 Vir é um excelente candidato para o estudo do novo Telecópio APF (Automated Planet Finder), recentemente construído no Observatório Lick em Mount Hamilton. "Escusado será dizer, estamos muito excitados por continuar a estudar este sistema com o APF," acrescenta Vogt, investigador principal para o APF, que está também a construír um espectómetro para o novo telescópio, optimizado para a descoberta de planetas.
O segundo sistema recém-descoberto pela equipa contém um planeta com 7,5 vezes a massa da Terra, em órbita de HD 1461, outro gémeo quase perfeito do Sol localizado a 76 anos-luz de distância. Pelo menos um e outros dois possíveis candidatos orbitam a estrela. Situada na constelação de Baleia, HD 1461 pode ser também oservada a olho nu sob condições escuras.
Este planeta, denominado HD 1461b, tem uma massa quase intermédia entre a Terra e Urano. Os investigadores dizem que não conseguem ainda determinar se HD 1461b é uma versão ampliada da Terra, composta na sua maioria por rocha e ferro, ou se tal como Urano e Neptuno, é composto sobretudo por água.
Butler diz que as novas detecções requerem instrumentos e técnicas topo-de-gama. "O planeta mais interior de 61 Vir está entre os dois ou três sinais planetários de menor amplitude, já identificados com níveis de confiança. Descobrimos que existe uma enorme vantagem em combinar dados do AAT e dos telescópios Keck, dois observatórios de classe mundial, e está claro que teremos uma excelente hipótese para identificar planetas potencialmente habitáveis em torno das estrelas mais próximas em apenas poucos anos."
As descobertas em 61 Vir e HD 1461 fazem parte de uma grande quantidade de descobertas recentes, que alteraram o pensamento convencional acerca da detecção planetária. No último ano, tornou-se evidente que planetas em órbita de vizinhos do Sol são extremamente comuns. De acordo com Butler, as indicações actuais dizem que metade das estrelas mais próximas têm um planeta detectável com massa igual ou menor à de Neptuno.
A equipa de estudo liderada por Vogt e Butler fez medições da velocidade radial com telescópios terrestres para detectar a "oscilação" induzida numa estrela pela força gravitacional de um planeta em órbita. As observações foram complementadas com medições precisas do brilho obtidas com telescópios robóticos no Arizona, por Gregory Henry da Universidade Estatal do Tennessee.
"Não vemos qualquer variabilidade no brilho das estrelas," afirma Henry. "Isto assegura-nos que as oscilações são realmente devidas a planetas e não a padrões alternantes, como manchas estelares."
De acordo com Gregory Laughlin, professor de astronomia e astrofísica da Universidade da Califórnia, graças ao melhoramento do equipamento e das técnicas de observação, estes métodos terrestres são agora capazes de descobrir objectos de massa terrestre em estrelas próximas do Sol.
"Estamos agora numa corrida renhida, no que respeita aos primeiros planetas potencialmente habitáveis serem descobertos no chão ou no espaço," afirma Laughlin. "Há alguns anos, tinha colocado o meu dinheiro nos métodos de detecção espacial, mas agora parece que há uma incerteza. O que é verdadeiramente excitante acerca do método de velocidade radial terrestre é que é capaz de localizar os planetas potencialmente habitáveis mais próximos."
ASTRÓNOMOS ENCONTRAM MUNDO COM ATMOSFERA DENSA, INÓSPITA E COM CORAÇÃO GELADO

Os astrónomos descobriram um segundo exoplaneta do tipo super-Terra, para o qual determinaram a massa e o raio, o que forneceu pistas vitais sobre a sua estrutura. É igualmente a primeira super-Terra onde foi encontrada uma atmosfera. O exoplaneta, que orbita uma pequena estrela a cerca de 40 anos-luz de distância, abre novas perspectivas na procura de mundos habitáveis. O planeta, GJ1214b, tem uma massa de cerca de seis vezes a massa terrestre e o seu interior é provavelmente constituído por gelo de água. A sua superfície parece ser relativamente quente e o planeta encontra-se envolvido por uma atmosfera densa, o que o torna inóspito para albergar formas de vida tais como as que conhecemos sobre a Terra.
No número desta semana da revista Nature, uma equipa de astrónomos anuncia a descoberta de um planeta em torno da estrela próxima de pequena massa GJ1214. É a segunda vez que uma super-Terra em trânsito é detectada, depois da recente descoberta do planeta Corot-7b. Um trânsito ocorre quando a órbita do planeta está alinhada da tal maneira que o vemos atravessar a face da sua estrela-mãe. O recentemente descoberto planeta tem uma massa de cerca de seis vezes a massa da nossa casa terrestre e 2.7 vezes o seu raio, ficando em termos de tamanho entre a Terra e os gigantes gelados do Sistema Solar, Urano e Neptuno.
Embora a massa de GJ1214b seja similar à do Corot-7b, o seu raio é muito maior, o que sugere que a composição dos dois planetas seja muito diferente. Enquanto que Corot-7b tem provavelmente um núcleo rochoso e poderá estar coberto de lava, os astrónomos pensam que três quartos do GJ1214b seja composto por gelo de água, sendo o restante constituído por silício e ferro.
GJ1214b orbita a sua estrela em cerca de 38 horas a uma distância de apenas dois milhões de quilómetros - 70 vezes mais próximo da sua estrela do que a Terra está do Sol. "Estando tão perto da estrela hospedeira, o planeta deve ter uma temperatura à superfície de cerca de 200º Celsius, quente demais para que a água se encontre no estado líquido," diz David Charbonneau, autor principal do artigo que apresenta esta descoberta.
Quando os astrónomos compararam o raio medido de GJ1214b com modelos teóricos de planetas, descobriram que o raio observado excede a predição dos modelos: existe algo mais do que a superfície sólida do planeta a bloquear a luz da estrela - uma atmosfera circundante, com 200 km de espessura. "Esta atmosfera é muito mais espessa do que a da Terra, por isso a alta pressão e a ausência de luz excluem a possibilidade de vida, tal como a conhecemos," diz Charbonneau, "mas estas condições são igualmente interessantes, uma vez que podem originar uma química bastante complexa."
"Uma vez que o planeta é quente demais para manter uma atmosfera durante muito tempo, GJ1214b dá-nos a primeira oportunidade de estudar uma atmosfera recentemente formada, envolvendo um planeta que orbita outra estrela," acrescenta o membro da equipa Xavier Bonfils. "Como o planeta se encontra bastante próximo de nós, será possível estudar a sua atmosfera mesmo com as infraestruturas de que dispomos actualmente."
O planeta foi descoberto inicialmente como um objecto em trânsito, no seio do projecto MEarth, que segue cerca de 2000 estrelas de pequena massa no sentido de procurar trânsitos de exoplanetas. Para confirmar a natureza planetária de GJ1214b e obter a sua massa (utilizando o chamado efeito Doppler), os astrónomos necessitaram de toda a precisão do espectrógrafo HARPS, montado no telescópio de 3,6 metros do ESO em La Silla. Sendo um instrumento com uma estabilidade sem precedentes e uma grande precisão, o HARPS é o mais bem sucedido descobridor de pequenos exoplanetas de todo o mundo.
"Esta é a segunda super-Terra para a qual a massa e o raio foram calculados, permitindo assim determinar a densidade e daí inferir sobre a sua estrutura interna," acrescenta o co-autor Stephane Udry. "Em ambos os casos, os dados do HARPS foram essenciais para caracterizar o planeta."
"As diferenças em composição entre estes dois planetas são relevantes na procura de mundos habitáveis," conclui Charbonneau. Se os planetas super-Terra estão, em geral, envolvidos por uma atmosfera similar à de GJ1214b, poderá bem acontecer que sejam inóspitos ao desenvolvimento da vida, tal como a conhecemos sobre o nosso próprio planeta.
HERSCHEL ENCONTRA UM BURACO NO ESPAÇO

O telescópio espacial infravermelho da ESA, Herschel, fez uma descoberta inesperada: um buraco no espaço. O buraco deu aos astrónomos um surpreendente vislumbre do final do processo de formação de estrelas.
As estrelas nascem em nuvens densas de pó e gás que podem ser estudadas com detalhe graças ao Herschel. Apesar de já terem sido vistos jactos e ventos de gás vindos de estrelas novas, foi sempre um mistério a forma exacta como uma estrela usa isso para afastar o envolvente e emergir das sua nuvem de nascimento. Agora, pela primeira vez, o Herschel pode estar a observar um passo inesperado neste processo.
Uma nuvem de gás brilhante e a reflectir, conhecida como NGC 1999, está ao lado de uma parte preta do céu. Durante grande parte do século XX, estas manchas negras foram conhecidas como nuvens densas de gás e poeira que bloqueiam a passagem da luz.
Quando o Herschel foi apontado nesta direcção para estudar as estrelas novas vizinhas, a nuvem continuou a parecer preta. Mas isto não devia acontecer. Os olhos infravermelhos do Herschel foram desenhados para ver por dentro das nuvens. Ou a nuvem era muito densa ou então alguma coisa estava errada.
Investigando mais ainda, usando telescópios terrestres, os astrónomos depararam-se com o mesmo, mas pensaram: esta mancha parece preta não por ser um denso amontoado de gás mas porque está verdadeiramente vazia. Alguma coisa fez uma buraco na nuvem. «Nunca tinha sido visto um buraco destes», diz Tom Megeath, da Universidade de Toledo, Estados Unidos. «É tão surpreendente como sabermos que temos buracos de minhocas no jardim e descobrir numa manhã que estes se transformaram num gigantesco buraco.»
Os astrónomos pensam que o buraco deve ter-se aberto quando os jactos de gás de algumas das estrelas jovens na região furaram o lençol de pó e gás que formam NGC 1999. A radiação poderosa de uma estrela madura vizinha pode também ter ajudado a limpar o buraco. Qualquer que seja a cadeia precisa de eventos, pode ser um importante vislumbre acerca da forma como as estrelas recém-nascidas dispersam as suas nuvens de nascimento.
HUBBLE DESCOBRE MAIS PEQUENO KBO CONHECIDO

O Telescópio Espacial Hubble da NASA descobriu o mais pequeno objecto visível na Cintura de Kuiper, um vasto anel de detritos gelados que rodeia o exterior do Sistema Solar para lá de Neptuno.
O objecto, tal como uma agulha num palheiro, descoberto pelo Hubble, mede apenas 975 metros e está a 6,7 mil milhões de quilómetros. O KBO (Objecto da Cintura de Kuiper) mais pequeno anteriormente observado no visível, media 48 km, ou quase 50 vezes mais.
Esta é a primeira prova observacional de uma população de corpos com o tamanho de cometas na Cintura de Kuiper, dilacerados através de colisões. A Cintura de Kuiper está por isso em contínua evolução, o que significa que o conteúdo gelado da região tem sido modificado ao longo dos últimos 4,5 mil milhões de anos.
O objecto detectado pelo Hubble é extremamente ténue - magnitude 35 -, 100 vezes mais que a sua capacidade de observação directa.
Então como é que o telescópio espacial descobriu um corpo tão pequeno?
Num artigo publicado na edição de 17 de Dezembro da revista Nature, Hilke Schlichting do Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena, Califórnia, EUA, e seus colaboradores, anunciam que a tantalizante assinatura do pequeno vagabundo foi extraída dos dados de calibração do Hubble, e não por observação directa.
O Hubble tem três instrumentos ópticos com a sigla FGS (Fine Guidance Sensors). Os FGSs providenciam informações navigacionais de alta-precisão para os sistemas de controlo do observatório espacial através da observação de estrelas-guia para calibração. Os sensores exploram a natureza ondulatória da luz para fazer medições precisas da localização das estrelas.
Schlichting e seus investigadores determinaram que os instrumentos FGS são tão bons que podem observar os efeitos de um pequeno objecto passando em frente da estrela. Isto provoca uma breve assinatura de ocultação e difração nos dados FGS à medida que a luz da estrela-guia de fundo é distorcida em torno do KBO à sua frente.
Eles seleccionaram 4 anos e meio de observações dos FGS para análise. O Hubble passou já um total de 12.000 horas durante este período, a observar uma faixa do céu até 20 graus do plano da eclíptica do Sistema Solar, onde habita a maioria dos KBOs. A equipa analisou as observações dos FGS, num total de 50.000 estrelas-guia.
Ao vasculhar pela gigantesca base de dados, Schlichting e a sua equipa descobriram um único evento de ocultação que durou 0,3 segundos. Isto foi apenas possível porque a amostra dos instrumentos FGS muda 40 vezes por segundo. A ocultação foi de curta duração devido em grande parte ao movimento orbital da Terra em torno do Sol.
A equipa assumiu que o KBO se encontrava numa órbita circular e inclinado 14 graus em relação à eclíptica. A distância do KBO foi estimada a partir da duração da ocultação, e a quantidade de atenuamento de luz da estrela-guia foi usada para calcular o tamanho do objecto. "Fiquei muito surpresa ao descobri-lo nos dados," afirma Schlichting.
As observações do Hubble, de estrelas vizinhas, mostra que um determinado número delas tem discos tipo-Cintura de Kuiper em seu redor. Estes discos são os restos da formação planetária. A previsão é que ao longo de milhares de milhões de anos, os detritos colidem, despedaçando os objectos tipo-KBO em objectos mais pequenos, que não faziam parte da população original da Cintura de Kuiper.
A descoberta é uma poderosa ilustração da capacidade dos dados arquivados do Hubble em produzir importantes novas descobertas. Num esforço de revelar outros KBOs pequenos, a equipa planeia alagar o seu estudo aos restantes dados dos FGS, para a quase totalidade da duração das operações do Hubble, desde o seu lançamento em 1990.
NOVA TEORIA PODE EXPLICAR SUPERROTAÇÃO DE VÉNUS

Um dos mistérios do nosso Sistema Solar é a superrotação, um fenómeno conhecido desde os finais dos anos 60, no qual os ventos de Vénus sopram mais depressa que a velocidade de rotação do planeta. Os cientistas propuseram já várias teorias, mas nenhuma foi completamente satisfatória. Agora cientistas do México sugeriram, pela primeira vez, um mecanismo viável pelo qual um vento ainda mais rápido, por cima do planeta, alimenta a superrotação.
Uma rotação completa do planeta Vénus demora 243 dias terrestres, mas a atmosfera, viajando a velocidades de aproximadamente 200 m/s, demora apenas quatro dias terrestres a completar uma volta. O outro único local no Sistema Solar onde a superrotação atmosférica é comum é na lua de Saturno, Titã.
Cientistas da Universidade Nacional Autónoma do México, liderados por Héctor Javier Durand-Manterola, têm estudado as velocidades supersónicas dos ventos na ionosfera entre 150 e 800 km por cima da superfície. Os ventos, conhecidos como o fluxo "transterminador", viajam a vários quilómetros por segundo. Foram descobertos nos anos 80 pela sonda americana Pioneer Venus e pensa-se que sejam alimentados pela interacção com o vento solar.
Durand-Manterola e a sua equipa propõem que o fluxo transterminador na criosfera possa transferir momento de fluxo para a atmosfera por baixo na forma de ondas de pressão à medida que se dissipam. Propõem que a interacção do lado nocturno entre o fluxo no lado do amanhecer e o fluxo do lado do anoitecer gera ondas porque fluem a velocidades diferentes, sendo o lado do anoitecer muito mais rápido.
As ondas viajam desde a ionosfera, através da termosfera e mesosfera até à troposfera depositando a maioria do momento e dissipando-se na camada de nuvens, movendo a atmosfera numa direcção retrógrada e alimentando a superrotação.
A equipa calculou o fluxo energético que transporta o fluxo transterminador e comparou com a energia calculada perdida pela viscosidade da atmosfera. Estes cálculos mostram que existe energia suficiente no fluxo transterminador para contrariar a viscosidade e alimentar a superrotação. Depois calcularam a amplitude que as ondas precisariam de ter para induzir a superrotação e descobriram que a amplitude necessária produziria 84 dB no lado nocturno, o suficiente para manter um "rugido" nas nuvens do lado nocturno - semelhante a uma orquestra tocando em "fortissimo".
Os investigadores testaram as suas teorias de transferência energética numa experiência usando água. Dirigiram um jacto de água para um lado de uma camada de poliestireno a partir de uma altura de 0,2 m, o que criou um fluxo que irradiava para fora a 2 m/s. Depois, dirigiram um segundo jacto de água para o outro lado da camada, desta vez a 0,02m, e isto criou um fluxo radial de 0,63 m/s. Ocorreu turbulência na área onde os dois fluxos interagiam e foram observadas ondas superficiais que se moviam do fluxo mais rápido para o fluxo mais lento, o que demonstrou que nesta analogia o momento das ondas viaja na direcção prevista.
O satélite meteorológico Akatsuki, que foi lançado pelo Japão a semana passada, deverá chegar a Vénus em Dezembro e poderá esclarecer um pouco mais estas questões.
NATAL E NEVE: OS LUGARES MAIS FRIOS DO SISTEMA SOLAR

A cada vez mais pequena calote polar em torno do pólo norte da Terra pode muito bem ser o território do Pai Natal, mas existem muitos outros territórios frios no Sistema Solar onde ele pode viver. Aqui ficam alguns dos locais mais frios do Sistema Solar.
Marte
Se o Pai Natal está à procura de outra zona com neve para a oficina onde constrói os presentes, as regiões polares norte de Marte oferecem uma opção do outro mundo. O ano passado, a sonda Phoenix da NASA observou neve a caír na região Vastitas Borealis, onde aterrou a 25 Maio de 2008, para escavar a superfície em busca de água gelada. As trincheiras escavadas pela sonda revelaram gelo subsuperficial, providenciando mais informações acerca da história da água no Planeta Vermelho. Além da queda de neve, a Phoenix observou a formação de geada na superfície marciana, à medida que o Inverno começava no hemisfério norte - pensa-se que a Phoenix ficou coberta de gelo e de geada, desde que a NASA perdeu contacto com ela em Novembro de 2008.
Titã
Pensa-se que lagos de metano e etano líquido polvilhem a paisagem desta lua saturniana, num ambiente mais frio que o da Antárctica. Mas apesar do seu estado mais frio, o vento, as chuvas e os processos tectónicos em Titã, segundo os cientistas, tornam-no numa das analogias mais parecidas com a Terra, no Sistema Solar. Embora a temperatura média à superfície do satélite, -180º C, mantenha a água gelada, o metano e etano existem no estado líquido e podem oferecer um porto de abrigo para a vida.
Encelado
Em vez de precipitação à superfície, a gelada lua de Saturno tem geysers de vapor de água que entram em erupção à sua superfície - um processo denominado criovulcanismo. Decorre actualmente um aceso debate acerca da composição exacta do planeta e das plumas expelidas da sua superfície. Há quem afirme que a lua contém uma camada superficial gelada por cima de uma região de água líquida, enquanto outros dizem que é um corpo gelado, composto por gelo e rocha.
Europa
A lua de Júpiter, Europa, é também um mundo gelado, que se pensa ter uma camada superficial de água gelada (a uma temperatura de -184º C), com um possível oceano de água líquida por baixo. A sua superfície gelada é adequada para a patinagem no gelo, pois é um dos locais mais lisos do Sistema Solar, marcado por algumas falhas e riscas, mas com relativamente poucas crateras. Mas apesar da sua crosta gelada e das suas frias temperaturas superficiais, alguns cientistas pensam que o calor do dínamo interior da lua e dos efeitos de marés de Júpiter possam manter o oceano quente o suficiente para suportar vida.
Cometas
Se o trenó não for suficiente, o Pai Natal pode sempre vir à boleia num cometa. Estes corpos do Sistema Solar podem não parecer frios à medida que viajam periodicamente pelo céu, mas são na realidade colecções de poeira, água gelada e bocados de rocha. Estas "bolas de neve sujas", como são por vezes denominadas, são oriundas dos limites mais longínquos do Sistema Solar - a Cintura de Kuiper e a Nuvem de Oort. Desenvolvem as suas tantalizantes caudas quando a sua órbita os aproxima do Sol e os materiais voláteis se vaporizam graças à radiação solar - mas no Sistema Solar exterior, os cometas permanecem aglomerados de material gelado, restícios da formação do Sistema Solar.
Urano
O sétimo planeta a contar do Sol e um dos quatro gigantes gasosos do Sistema Solar, Urano é por vezes colocado numa categoria denominada de "gigantes gelados," bem como o seu vizinho Neptuno. A atmosfera de Urano - composta por hidrogénio, hélio, água, gelo de amónia e metano - é a mais fria de todas as atmosferas do Sistema Solar, com uma temperatura mínima de -224º C.
Plutão
No início deste ano, os cientistas determinaram que a atmosfera de Plutão é mais quente do que se pensava, "quente" sendo um termo relativo. O "ar" por cima da superfície do planeta anão mede ainda -180º C, enquanto a sua superfície -220º C. Desde a sua demoção como planeta principal em 2006, que Plutão está agrupado numa classe de corpos conhecidos como Objectos da Cintura de Kuiper (KBO), que se encontram até uma distância 100 vezes maior que a distância entre a Terra e o Sol.
O próprio espaço
Embora todos estes mundos acima sejam muito mais frios que qualquer local na Terra, um dos locais mais frios do espaço é ele próprio. A radiação cósmica de fundo que permeia o Universo (restício teórico do Big Bang) tem uma temperatura de -270º C. É melhor o Pai Natal instalar um aquecedor no seu trenó.
O Telescópio Planck
O lugar mais frio do Sistema Solar não é um cometa, nem o próprio espaço, mas algo feito pelo Homem: é o telescópio Planck da ESA. Já perto da sua posição orbital final - onde irá observar a radiação cósmica de fundo - o telescópio está a ser arrefecido até uma temperatura operacional de -273,05º C. Esta temperatura é apenas 0,1º C acima do zero absoluto, a temperatura teoricamente mais fria, possível no nosso Universo.
Crateras polares na Lua
Paradoxalmente, o lugar (natural) mais frio do Sistema Solar não é um objecto distante na Cintura de Kuiper. Ao invés, fica muito mais perto do Sol. Em Setembro, a Lunar Reconnaissance Orbiter da NASA registou a temperatura das crateras permanentemente à sombra no pólo sul da Lua (onde a sua companheira LCROSS descobriu depósitos de água gelada após colidir numa destas crateras em Outubro). Os instrumentos da LRO descobriram que as crateras tinham uma temperatura de -238º - mais frias, até, que a superfície de Plutão. Pai Natal, é melhor levar consigo uns cobertores!
NASA ABANDONA TENTATIVAS DE FUGA PARA ROVER MARCIANO PRESO

Após seis anos de exploração sem precedentes no Planeta Vermelho, o rover Spirit da NASA deixa de ser um robot móvel. A NASA designou o explorador científico como uma plataforma científica estática depois de esforços infrutíferos, durante os últimos meses, para o libertar de uma armadilha de areia.
A tarefa principal do robot venerável durante as próximas semanas será a de colocar-se num ângulo apropriado para combater o severo inverno marciano. Se o Spirit sobreviver, continuará a recolher dados científicos a partir da sua localização final. A missão do Spirit poderá continuar durante vários meses ou anos.
"O Spirit não está morto; apenas entrou noutra fase da sua longa vida," disse Doug McCuistion, director do Programa de Exploração de Marte na sede da NASA em Washington. "Dissémos o ano passado ao mundo que as tentativas de libertar o adorado robot poderiam não ter sucesso. Parece que a localização actual do Spirit em Marte será também o seu local de repouso final."
Há dez meses atrás, à medida que o Spirit viajava para sul ao longo do limite Oeste de uma planície denominada Home Plate, as suas rodas partiram uma superfície quebradiça que revelou areia macia por baixo.
O Spirit caíu nesta armadilha, e a equipa do rover desenhou planos para tentar libertar o veículo de seis rodas usando as cinco rodas que ainda funcionavam - a sexta deixou de funcionar em 2006, limitando a mobilidade do Spirit. Os planos incluíam experiências com um rover de testes numa caixa de areia no JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, análises, modelos e estudos. Em Novembro, outra roda deixou de funcionar, o que tornou esta situação, já de si complicada, ainda pior.
As tentativas de deslocação mais recentes foram as que tiveram melhores resultados desde que o Spirit ficou preso. No entanto, o Inverno que se aproxima comanda uma mudança na estratégia. É Outono no lar do Spirit em Marte. O Inverno vai começar em Maio. A energia solar disponível está a diminuir e será insuficiente para fazer mover o rover em meados de Fevereiro. A equipa do rover planeia usar os movimentos potenciais que restam para melhorar a inclinação do veículo. O Spirit actualmente está inclinado para Sul. O Sol de Inverno fica no céu a Norte, por isso a diminuição da inclinação a Sul aumentaria a quantidade de luz solar nos painéis solares do rover.
"Precisamos de levantar a parte de trás do rover, ou o seu lado esquerdo, ou ambos," afirma Ashley Stroupe, condutora do rover no JPL. "Levantar as rodas traseiras ao andar para trás numa subida já ajuda. Se necessário, podemos tentar baixar a parte direita da frente do rover baixando a roda direita dianteira, escavando com ela um buraco."
No seu ângulo actual, o Spirit provavelmente não terá energia suficiente para continuar a comunicar com a Terra durante o Inverno marciano. Mesmo uns poucos graus de melhoramento na inclinação fazem já a diferença para permitir a comunicação a cada alguns dias."
"A sobrevivência do Spirit durante o Inverno dependerá da temperatura e de quão frios estarão os componentes electrónicos do veículo," disse John Callas, gestor do projecto Spirit no JPL e do seu rover gémeo, Opportunity. "Cada pequena quantidade de energia produzida pelos painéis solares do Spirit será utilizada para aquecer os componentes principais do rover, quer seja através da sua utilização ou do uso de aquecedores essenciais."
Mesmo num estado estacionário, o Spirit vai continuar a fazer pesquisas científicas.
"Existe um tipo de ciência que só podemos fazer com um veículo estacionário, e que tivémos que adiar durante os anos de mobilidade," disse Steve Squyres, investigador da Universidade de Cornell e investigador principal do Spirit e Opportunity. "A mobilidade reduzida não implica necessariamente o fim abrupto da missão. Ao invés, permite-nos mudar para ciência estacionária."
Uma destas experiências estacionárias implica o estudo de pequenas oscilações na rotação de Marte, para melhor compreender o núcleo do planeta. Esta experiência requer meses de seguimento, via rádio, do movimento de um ponto à superfície de Marte para calcular o movimento a longo-prazo com uma precisão de apenas alguns centímetros.
"Se a missão científica final do Spirit for a determinação do estado do núcleo de Marte (sólido ou líquido), então isso seria maravilhoso -- é muito diferente de qualquer outro conhecimento que obtivémos do Spirit," afirma Squyres.
As ferramentas no braço robótico do Spirit podem estudar as variações na composição do solo vizinho, que foi afectado por água. A ciência estacionária também inclui a observação de como os ventos movem as partículas do solo e a monitorização da atmosfera marciana.
O Spirit e o Opportunity aterraram em Marte em Janeiro de 2004. Exploram o nosso vizinho planetário há já seis anos, muito, muito mais do que o planeado (uma missão com 90 dias). O rover Opportunity está actualmente a viajar na direcção de uma grande cratera denominada Endeavour e continua a fazer descobertas científicas. Já percorreu aproximadamente 19 quilómetros e enviou de volta mais de 133.000 imagens.
NASA PROLONGA MISSÃO DA CASSINI ATÉ 2017

A NASA vai prolongar a missão internacional Cassini-Huygens, a Saturno e às suas luas, até 2017. O orçamento de 2011 da agência espacial providencia uma extensão de 60 milhões de dólares por ano para o estudo continuado do "Senhor dos Anéis".
"Esta é uma missão que nunca pára de nos surpreender com resultados científicos e imagens de cortar a respiração," afirma Jim Green, director da divisão de ciência planetária na sede da NASA em Washington. "As descobertas e imagens espectaculares deste viajante histórico revolucionaram o nosso conhecimento de Saturno e das suas luas."
A Cassini foi lançada em Outubro de 1997, em conjunto com a sonda Huygens da ESA. Chegaram a Saturno em 2004. A Huygens estava equipada com seis instrumentos para estudar Titã, a maior lua de Saturno. Os 12 instrumentos da Cassini há já quase seis anos que enviam dados diários do sistema saturniano. O projecto tinha fim planeado para 2008, mas a missão recebeu um prolongamento de 27 meses, até Setembro de 2010.
"A extensão proporciona uma oportunidade única para seguir as mudanças sazonais de um planeta do sistema solar exterior, desde o Inverno até ao Verão," afirma Bob Pappalardo, cientista do projecto Cassini no JPL da NASA em Pasadena, Califórnia. "Algumas das descobertas mais excitantes da Cassini ainda estão para vir."
Este segundo alargamento, denominado Missão Solstício da Cassini, permite aos cientistas estudar as mudanças sazonais e a longo-prazo do planeta e das suas luas. A Cassini chegou a Saturno pouco depois do solstício de Inverno no hemisfério norte de Saturno, e esta extensão continua até poucos meses depois do solstício de Verão no mesmo hemisfério, em Maio de 2017. O solstício de Verão no hemisfério norte de Saturno marca o início dessa estação e o começo do Inverno no hemisfério sul.
Um período sazonal completo de Saturno nunca tinha sido estudado a este nível de detalhe. O calendário da missão requer 155 órbitas adicionais em torno do planeta, 54 voos rasantes por Titã e 11 pela lua gelada Encelado.
O alargamento da missão também permitirá aos cientistas continuar as observações dos anéis de Saturno e da bolha magnética em torno do planeta conhecida como magnetosfera. A sonda fará mergulhos repetidos entre Saturno e os seus anéis para obter um conhecimento íntimo do gigante gasoso. Durante estes mergulhos, a Cassini irá estudar a estrutura interna de Saturno, as suas flutuações magnéticas e a massa anular.
A missão será avaliada periodicamente para garantir que a sonda tem a capacidade de alcançar os novos objectivos científicos delineados para a segunda extensão.
"A sonda encontra-se em muito bom estado, mesmo tolerando os efeitos esperados da idade e após ter ultrapassado os 4,1 mil milhões de quilómetros no seu odómetro," afirma Bob Mitchell, gestor do programa Cassini no JPL. "Esta extensão é importante porque há ainda muito a aprender acerca de Saturno. O planeta está recheado de segredos, e não os desvenda facilmente."
O álbum de viagem da Cassini inclui mais de 210.000 imagens; informações recolhidas durante mais de 125 revoluções em torno de Saturno; 67 "flybys" por Titã e oito por Encelado. A Cassini revelou detalhes inesperados na assinatura dos anéis do planeta, e observações de Titã forneceram aos cientistas um olhar do que a Terra poderá ter sido antes do desenvolvimento da vida.
Os cientistas esperam ver respondidas as suas imensas questões que nasceram ao longo da missão, entre elas o porquê de Saturno parecer ter uma rotação inconsistente e como é que um provável oceano subsuperficial alimenta os jactos de Encelado.
JOGADA TRIPLA: VÉNUS, MARTE E SATURNO

Se vive no hemisfério Norte, saia à rua numa qualquer noite destas, mais ou menos uma hora depois do pôr-do-Sol, e olhe para Oeste. Encontrará três planetas: Vénus, Saturno e Vénus.
A primeira coisa que os observadores vêm - se o tempo permitir - é o brilhante planeta Vénus, a Oeste-Noroeste, na constelação de Gémeos. Procure as estrelas gémeas da constelação, Pollux e Castor, mesmo por cima de Vénus.
Enquanto anoitece, o planeta Marte pode ser avistado para a esquerda de Vénus à medida que aparece na constelação de Leão, muito perto da estrela de primeira magnitude, Régulo. Ainda mais para a esquerda está Saturno, brilhando na secção Oeste da constelação de Virgem.
Este mapa mostra todos os três planetas à medida que aparecem numa área de 70 graus. Em comparação, o seu punho fechado à distância do braço esticado cobre cerca de 5 graus no céu.
Vénus, Marte e Saturno estão todos um pouco para Norte da eclíptica, o percurso que o Sol parece seguir ao longo do ano.
Note as posições destes três planetas em relação às brilhantes estrelas de fundo, dado que estão a começar uma viagem interessante que conseguirá seguir durante os próximos dois meses.
No início de Julho, Vénus estará mais para a esquerda, atravessando Caranguejo até Leão e situando-se próximo de Régulo. Marte, entretanto, estará também um pouco mais para a esquerda. Saturno nem parece ter-se movido.
Nessa altura, os três planetas cobrem apenas 37 graus no céu, metade do que cobriam no início de Junho.
Um mês depois, na primeira semana de Agosto, os planetas estão apenas numa área de 7 graus, e Marte estará para a esquerda de Saturno em Virgem. Vénus também ter-se-á movido para Virgem.
Todos os três cabem confortavelmente no campo de visão de um pequeno par de binóculos.
Em Agosto, Vénus estará ainda brilhante, mas tanto Saturno como Marte diminuem de brilho até um pouco acima de primeira magnitude. Isto acontece porque Saturno e Marte afastam-se da Terra, enquanto Vénus aproxima-se.
Do hemisfério Sul, os planetas aparecem nas mesmas posições relativamente uns aos outros, mas a eclíptica estará quase na vertical, e os planetas perpendiculares ao horizonte em vez de formarem um ângulo oblíquo.
Esta será uma boa oportunidade para observar o movimento relativo de três planetas brilhantes contra as estrelas de fundo, e para ver as diferentes velocidades a que se movem: Vénus atravessa quatro constelações e Marte duas, com Saturno quase nem se movendo.
NOVA TÉCNICA PARA DETECTAR PLANETAS EXTRASOLARES TIPO-TERRA

Astrónomos descobriram uma nova técnica terrestre para estudar as atmosferas de planetas para lá do nosso Sistema Solar, acelerando a nossa busca por planetas tipo-Terra com moléculas relacionadas com a vida. O seu trabalho foi anunciado anteontem (3 de Fevereiro de 2010) na revista Nature.
Os cientistas desenvolveram a nova técnica ao usar um telescópio infravermelho da NASA, terrestre, para identificar uma molécula orgânica na atmosfera de um planeta com o tamanho de Júpiter a quase 63 anos-luz de distância. Usando um novo método de calibração para remover erros de observação sistemáticos, eles obtiveram uma medição que revela detalhes da composição atmosférica e das condições do exoplaneta, um feito sem precedentes a partir de um observatório terrestre.
A Dra. Giovanna Tinetti, da Universidade de Londres, cujo trabalho no projecto foi suportado pelo STFC (Science and Technology Facilities Council), afirma: "O objectivo final é observar a atmosfera de um planeta com a capacidade de suportar vida. Ainda não chegámos lá, mas a possibilidade de usar telescópios terrestres em combinação com observatórios espaciais, vai acelerar o estudo das atmosferas de planetas extrasolares."
O autor principal, Mark Swain, astrónomo no JPL da NASA, acrescenta: "O facto de termos usado um telescópio terrestre relativamente pequeno, é excitante porque implica que os maiores telescópios no chão, usando esta técnica, poderão ser capazes de caracterizar os alvos terrestres exoplanetários."
Actualmente, conhecem-se mais de 400 planetas extrasolares. A maioria deles são gasosos como Júpiter, mas pensa-se que algumas "super-Terras" sejam grandes mundos terrestres ou rochosos. Um verdadeiro planeta tipo-Terra, do tamanho do nosso e à mesma distância da sua estrela-mãe, ainda não foi descoberto. A missão Kepler da NASA está agora no espaço à procura, e espera-se que encontre alguns destes mundos terrestres.
A 11 de Agosto de 2007, Swain e a sua equipa usaram o telescópio infravermelho para observar o planeta HD 189733b, com o tamanho de Júpiter, na constelação de Raposa. A cada 2,2 dias, o planeta orbita uma estrela do tipo-K, ligeiramente mais fria e pequena que o nosso Sol. HD 189733b já proporcinou importantes descobertas na ciência exoplanetária, incluíndo detecções de vapor de água, metano e dióxido de carbono através de telescópios espaciais. Usando a nova técnica, os astrónomos conseguiram detectar dióxido de carbono e metano na atmosfera de HD 189733b com um espectógrafo, que quebra a luz nos seus componentes para revelar as assinaturas espectrais dos diferentes químicos. O seu trabalho principal foi o desenvolvimento de um novo método de calibração para remover os erros sistemáticos de observação provocados pela variabilidade da atmosfera da Terra e pela instabilidade devida ao movimento do sistema telescópico à medida que segue o alvo.
"Como consequência deste trabalho, temos agora a possibilidade excitante que outros telescópios terrestres relativamente pequenos, mas também razoavelmente equipados, sejam capazes de caracterizar exoplanetas," afirma John Rayner, o cientista do ITF (Infrared Telescope Facility) da NASA que construíu o espectógrafo SpeX usado nestas medições. "Nalguns dias não conseguimos sequer observar o Sol com o telescópio, e o facto de noutros conseguirmos obter o espectro de um exoplaneta a 63 anos-luz de distância, é impressionante."
Ao longo das suas observações, a equipa descobriu brilhantes e inesperadas emissões, no infravermelho, de metano, que sobressai no lado diurno de HD 198733b. Isto poderá indicar algum tpo de actividade na atmosfera do planeta, que poderá estar relacionada com o efeito da radiação ultravioleta da estrela-mãe ao atingir a atmosfera superior do planeta. No entanto, serão precisos estudos mais detalhados.
"Um objectivo imediato do uso desta técnica é caracterizar com mais precisão a atmosfera deste e de outros planetas extrasolares, incluíndo a detecção de moléculas orgânicas e até possivelmente prebióticas - como aquelas que precederam a evolução da vida na Terra, afirma Swain". Estamos prontos para levar a cabo esta tarefa. "Alguns dos primeiros alvos serão super-Terras. Usada em conjunto com observações do Hubble, do Spitzer e do futuro Telescópio Espacial James Webb, a nova técnica "dar-nos-á um modo absolutamente brilhante de caracterizar super-Terras," conclui Swain.
HAYABUSA REGRESSA!

A pequena e resistente sonda japonesa Hayabusa regressou finalmente à Terra após sete longos anos! A sua chegada foi espectacular, iluminando o céu do "Outback" australiano à medida que reentrava pela atmosfera.
A cápsula da Hayabusa aterrou pelas 15:00 horas (hora de Portugal) de dia 13 na Área Proibida de Woomera no Sul da Austrália. Um avião especialmente enviado pela NASA registou a espectacular entrada e o espectáculo de luzes dos detritos aquecidos devido à fricção com a atmosfera da Terra.
Nesta imagem, a própria sonda desfaz-se em bocados, enquanto o ponto mais pequeno para baixo e à direita é a cápsula que se separou da sonda 3 horas antes de alcançar a Terra e que posteriormente aterrou de pára-quedas. Espera-se que a cápsula contenha amostras do asteróide Itokawa.
A cápsula já foi recolhida e aparenta estar em bom estado. Será enviada para o Japão onde os cientistas a vão abrir e descobrir se realmente contém amostras ou não.
A Hayabusa, lançada em 2003, atravessou uma série de problemas técnicos ao longo da sua viagem de 5 mil milhões de quilómetros até ao asteróide Itokawa. Os cientistas da missão estavam muito ansiosos porque a sonda estava desenhada para apenas durar quatro anos e havia a preocupação da sua bateria durar o tempo extra ou do seu sistema de controlo avariar.
A agência espacial japonesa (JAXA) disse que mesmo apenas um grão de material do asteróide pode ser cortado em 100 ou mais amostras e que podem ser distribuídas globalmente para análise.
Para evitar qualquer contaminação das amostras por material cá na Terra, a cápsula permanecerá fechada até que chegue ao complexo Sagamihara da JAXA, perto de Tóquio. Será então vista a raios-X e limpa antes de ser aberta numa câmara especialmente desenhada, em vácuo. Estes testes poderão demorar semanas.
Ficaremos atentos a mais novidades da missão.
FORMANDO AS GALÁXIAS ESPIRAIS DE HOJE EM DIA

Usando dados do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, os astrónomos criaram pela primeira vez um censo demográfico dos tipos e formas de galáxias desde um tempo anterior ao Sol e à Terra, até ao presente dia. Os resultados mostram que, contrariamente ao pensamento contemporâneo, mais de metade das galáxias espirais de hoje em dia tinham formas peculiares há apenas 6 mil milhões de anos atrás, o que, a ser confirmado, realça a importância das colisões e fusões no passado recente de muitas galáxias. Também fornece pistas para o estado invulgar da nossa Galáxia, a Via Láctea.
A morfologia galáctica, ou o estudo das formas e da formação das galáxias, é um tópico importante e muito debatido na Astronomia. Uma ferramenta importante deste tema é a Classificação de Hubble, um esquema inventado em 1926 pelo próprio Edwin Hubble. O famoso telescópio espacial tem a honra de ter o seu nome.
Uma equipa de astrónomos europeus, liderada por François Hammer do Observatório de Paris, completou pela primeira vez um censo demográfico dos tipos de galáxias em dois pontos diferentes na história do Universo - em efeito, criando duas sequências de Hubble - que ajuda a explicar a formação das galáxias. Neste estudo, os investigadores estudaram 116 galáxias locais e 148 galáxias distantes.
Contrariamente ao que se pensava, os astrónomos mostraram que a sequência de Hubble há seis mil milhões de anos era muito diferente da que os astrónomos observam actualmente.
Usando dados do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, os astrónomos criaram pela primeira vez um censo demográfico dos tipos e formas de galáxias desde um tempo anterior ao Sol e à Terra, até ao presente dia. Os resultados mostram que, contrariamente ao pensamento contemporâneo, mais de metade das galáxias espirais de hoje em dia tinham formas peculiares há apenas 6 mil milhões de anos atrás, o que, a ser confirmado, realça a importância das colisões e fusões no passado recente de muitas galáxias. Também fornece pistas para o estado invulgar da nossa Galáxia, a Via Láctea.
A morfologia galáctica, ou o estudo das formas e da formação das galáxias, é um tópico importante e muito debatido na Astronomia. Uma ferramenta importante deste tema é a Classificação de Hubble, um esquema inventado em 1926 pelo próprio Edwin Hubble. O famoso telescópio espacial tem a honra de ter o seu nome.
Uma equipa de astrónomos europeus, liderada por François Hammer do Observatório de Paris, completou pela primeira vez um censo demográfico dos tipos de galáxias em dois pontos diferentes na história do Universo - em efeito, criando duas sequências de Hubble - que ajuda a explicar a formação das galáxias. Neste estudo, os investigadores estudaram 116 galáxias locais e 148 galáxias distantes.
Contrariamente ao que se pensava, os astrónomos mostraram que a sequência de Hubble há seis mil milhões de anos era muito diferente da que os astrónomos observam actualmente.
A sequência de Hubble há seis mil milhões de anos era muito diferente da que os astrónomos vêm hoje em dia. As duas secções mostram muitas mais galáxias peculiares (marcadas Pec) no conjunto de galáxias mais distantes, do que dentro do grupo de galáxias locais. A organização dos dados segue a classificação inventada por Edwin Hubble em 1926. A imagem do topo representa o Universo actual - ou local. A imagem de baixo representa a composição das galáxias distantes (há seis mil milhões de anos), e mostra uma fracção muito maior de galáxias peculiares. Isto implica que muitas das galáxias peculiares acabam por se tornar grandes espirais.
Crédito: NASA, ESA, SDSS, R. Delgado-Serrano e F. Hammer (Observatório de Paris)
(clique na imagem para ver versão maior)
"Há seis mil milhões de anos atrás, haviam muitas mais galáxias peculiares - um resultado surpreendente," afirma Rodney Delgado-Serrano, autor principal do trabalho recentemente publicado e que é capa da Astronomy & Astrophysics. "Isto significa que nos últimos seis mil milhões de anos, estas galáxias peculiares devem ter-se tornado em galáxias espirais normais, dando-nos uma imagem [do Universo recente] mais dramática do que tínhamos anteriormente."
Os astrónomos pensam que estas galáxias peculiares realmente tornaram-se em espirais através das colisões e das fusões. O estudo da história da formação galáctica leva-nos ao estado actual do Universo. Tal como no estudo de uma vida, existem tempos caóticos e tumultuosos, e outros períodos mais calmos. E, como muitos adolescentes, as galáxias em desenvolvimento colidem amíude com aquelas no seu caminho. As colisões entre galáxias originam novas galáxias e, embora se acredite que estas fusões galácticas diminuíram significativamente há oito mil milhões de anos atrás, o novo resultado implica que as fusões ainda estavam a ocorrer frequentemente após essa altura - até há cerca de 4 mil milhões de anos atrás.
"O nosso objectivo era descobrir um cenário que fazia a ponte entre a imagem actual do Universo e as morfologias de galáxias mais distantes e antigas - descobrir uma peça que encaixava nesta intrigante visão da evolução galáctica," afirma Hammer.
Também contrariamente à opinião largamente aceite que as fusões galácticas resultam na formação de galáxias elípticas, Hammer e a sua equipa suportam um cenário no qual estas colisões cósmicas resultam em galáxias espirais. Num trabalho em paralelo publicado na mesma revista, Hammer e a sua equipa investigam mais profundamente a sua hipótese de "reconstrução espiral", que propõe que as galáxias peculiares, afectadas por colisões ricas em gás, lentamente "renascem" como espirais gigantes com discos e bojos centrais.
Embora a nossa própria Via Láctea seja uma galáxia espiral, parece ter evitado muito deste drama adolescente; a sua história tem sido deveras calma e tem evitado colisões violentas em tempos astronomicamente recentes. No entanto, a grande vizinha Galáxia de Andrómeda não teve tanta sorte e encaixa-se bem neste cenário de "reconstrução espiral". Os investigadores continuam a procurar explicações para isto.
Hammer e a sua equipa usaram dados do SDSS (Sloan Digital Sky Survey) empreendidos pelo Observatório Apache Point, no Novo México, EUA, do campo GOODS, e do UDF (Ultra Deep Field) obtido pela câmara ACS a bordo do Hubble.
WISE ESPIA UM COMETA COM O SEU PODEROSO OLHO INFRAVERMELHO

O telescópio WISE da NASA (Wide-field Infrared Survey Explorer) descobriu o seu primeiro cometa, um dos muitos que se espera que a missão encontre por entre os milhões de outros objectos durante o seu estudo de todo o céu no infravermelho.
Oficialmente com o nome "P/2010 B2 (WISE)," mas simplesmente conhecido como WISE, o cometa é um corpo de gelo com mais de 2 km em diâmetro. Provavelmente foi formado por volta da mesma altura que o nosso Sistema Solar, há cerca de 4,5 mil milhões de anos atrás. O cometa WISE nasceu nos recantos mais longínquos e frios do Sistema Solar, mas após uma longa história de ser empurrado pelas forças gravitacionais de Júpiter, assentou numa órbita bem mais próxima do Sol. De momento, o cometa está a afastar-se do Sol e está a cerca de 175 milhões de quilómetros da Terra.
"Os cometas são antigos reservatórios de água. São dos poucos lugares além da Terra no Sistema Solar interior onde se sabe que existe água," afirma Amy Mainzer do JPL da NASA em Pasadena, Califórnia. Mainzer é a investigadora principal do NEOWISE, um projecto para descobrir e catalogar novos asteróides e cometas avistados pelo WISE (o acrónimo combina WISE com NEO, NEO sendo "near-Earth object").
"Com o WISE, temos uma ferramenta poderosa para descobrir novos cometas e aprender mais sobre esta população como um todo. A água é necessária para a vida como a conhecemos, e os cometas podem dizer-nos quanta água existe no nosso Sistema Solar."
Espera-se que o telescópio WISE, lançado para uma órbita polar em torno da Terra a 14 de Dezembro de 2009, descubra entre alguns e até dúzias de novos cometas, além de centenas de milhares de asteróides. Os cometas são mais difíceis de descobrir do que os asteróides porque são muito mais raros no Sistema Solar interior. Ao passo que os asteróides viajam na "cintura principal" entre as órbitas de Marte e Júpiter, a maioria dos cometas orbitam muito mais longe, nos recantos mais gelados do nosso Sistema Solar.
Tanto os asteróides como os cometas podem "caír" para órbitas que os aproximam do percurso da Terra em torno do Sol. A maioria destes objectos são asteróides mas alguns são cometas. Espera-se que o WISE descubra novos cometas vizinhos, e isto dar-nos-á uma melhor ideia de quão perigosos podem ser para a Terra.
"É muito improvável que um cometa atinja a Terra," realça James Bauer, cientista do JPL que trabalho no projecto WISE, "Mas, na rara hipótese que aconteça, pode ser muito perigoso. As novas descobertas do WISE vão dar-nos estatísticas mais precisas acerca da probabilidade de tal evento, e quão poderoso seria um destes impactos."
O telescópio espacial avistou o cometa durante o seu estudo rotineiro do céu no dia 22 de Janeiro. O seu software topo-de-gama "arrancou" o cometa da torrente de imagens enviadas do espaço ao observar objectos que se movem relativamente às estrelas de fundo. A descoberta do cometa foi seguida por uma combinação de astrónomos profissionais e amadores usando telescópios nos EUA.
Todos os dados são catalogados no Centro de Planetas Menores, em Cambridge, Massachusetts, o "escritório" global para todas as observações e órbitas de planetas menores e cometas.
O cometa WISE demora 4,7 anos a orbitar o Sol, estando o seu afélio a cerca de 4 UA de distância, e o seu periélio a 1,6 UA (perto da órbita de Marte). Uma UA (unidade astronómica) é a distância entre a Terra e o Sol. O calor do Sol faz com que os gases e poeiras sejam libertados do cometa, resultando numa cabeleira poeirenta e numa cauda.
Embora este corpo em particular esteja a libertar material activamente, o WISE também será capaz de descobrir cometas inactivos ou mortos. Nos cometas que já orbitaram muitas vezes o Sol, os seus componentes gelados sofrem erosão, deixando para trás apenas um núcleo escuro e rochoso. Não se sabe muito acerca destes objectos porque são difíceis de observar no visível. O olho infravermelho do WISE deverá ser capaz de observar o ténue brilho de alguns destes cometas escuros, respondendo a questões como onde e como se formam.
"Os cometas mortos podem ser mais escuros que o carvão," afirma Mainzer. "Mas no infravermelho, saltam à vista. Uma questão que esperamos ver respondida com o WISE é quantos cometas mortos constituem a população de NEOs."
A missão passará os próximos oito meses a mapear o céu uma vez e meia. A primeira parte dos seus dados estará disponível para o público na Primavera de 2011, e o catálogo final um ano depois. Imagens e descobertas importantes serão anunciadas durante a missão.
MOLÉCULAS ORGÂNICAS SUPER-COMPLEXAS DESCOBERTAS NO ESPAÇO INTERESTELAR

Uma equipa de cientistas do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC) e da Universidade do Texas, identificou com sucesso uma das moléculas orgânicas mais complexas já descobertas no material entre as estrelas, o denominado meio interestelar. A descoberta de antracina poderá ajudar a resolver um mistério astrofísico com décadas acerca da produção de moléculas orgânicas no espaço. Os investigadores anunciaram os seus achados na revista Monthly Notices da Sociedade Astronómica Real.
"Nós detectámos a presença de moléculas de antracina numa densa nuvem na direcção da estrela Cernis 52 em Perseu, a cerca de 700 anos-luz do Sol," explica Susana Iglesias Groth, investigadora do IAC que liderou o estudo.
Na sua opinião, o próximo passo é investigar a presença de aminoácidos. As moléculas como a antracina são prebióticas, por isso são quando sujeitas à radiação ultravioleta e combinadas com água e amónia, podem produzir aminoácidos e outros compostos essenciais para o desenvolvimento da vida.
"Há dois anos atrás," afirma Iglesias, "descobrimos provas da existência de outra molécula orgânica, naftalina, no mesmo lugar, por isso tudo indica que descobrimos uma região de formação estelar rica em química prebiótica". Até agora, a antracina tem sido apenas detectada em meteoritos e nunca no meio interestelar. As formas oxidadas desta molécula são comuns em sistemas vivos e são activas bioquimicamente. No nosso planeta, a antracina oxidada é um elemento básico da aloé e tem propriedades anti-inflamatórias.
As novas descobertas sugerem que uma boa parte destes componentes-chave da química prebiótica terrestre podem estar presentes na matéria interestelar.
É sabido desde os anos 80 que centenas de bandas descobertas no espectro do meio interestelar, conhecidas como bandas espectroscópicas difusas, estão associadas com a matéria interestelar, mas a sua origem não tinha sido identificada até agora. Esta descoberta indica que podem resultar de formas moleculares com base na antracina ou naftalina. Dado que estão largamente distribuídas no espaço interestelar, podem desempenhar um papel importante na produção de muitas das moléculas orgânicas presentes na altura da formação do Sistema Solar.
Os resultados são baseados em observações levadas a cabo pelo Telescópio William Herschel no Observatório Roque de los Muchachos em La Palma nas Ilhas Canárias e pelo Telescópio Hobby-Eberly no Texas, EUA.
MISSÃO WISE ANUNCIA AS SUAS PRIMEIRAS IMAGENS OFICIAIS

Um elenco diverso de personagens cósmicas foram apresentadas nas primeiras imagens do telescópio WISE (Wide-field Infrared Survey Explorer) que a NASA anunciou na passada Quarta-feira.
Desde que o WISE começou o seu estudo do céu no infravermelho a 14 de Janeiro, o telescópio espacial já enviou mais de um quarto de milhão de imagens não-processadas. Quatro novas imagens, já processadas, são bem representativas dos alvos da missão -- um poeirento cometa, uma nuvem repleta de formação estelar, a grande Galáxia de Andrómeda e um longínquo enxame de centenas de galáxias.
"O WISE está a funcionar soberbamente," afirma Ed Weiler, administrador associado do Directorado de Missões Científicas na sede da NASA em Washington. "Estas primeiras imagens provam que a missão secundária do telescópio, ajudar a seguir asteróides, cometas e outros objectos estelares, será tão importante como a sua missão primária de estudar todo o céu no infravermelho."
Uma imagem mostra a beleza de um cometa chamado "Siding Spring". À medida que o cometa desfila na direcção do Sol, liberta poeira que brilha no infravermelho, a "luz vísivel" do WISE. A cauda do cometa, que se prolonga por 16 milhões de quilómetros, parece-se com uma faixa de tinta vermelha. Uma estrela brilhante aparece por baixo a azul.
"Temos uma autêntica 'loja de doces' oriunda do espaço," afirma Edward (Ned) Wright da UCLA, o investigador principal do WISE. "Cada um de nós tem o seu sabor favorito, e existem todos os tipos de sabores."
Durante o seu estudo, espera-se que a missão descubra talvez dúzias de cometas, incluíndo alguns que viajam em órbitas que os aproximam da Terra. O WISE vai ajudar a desvendar pistas cometárias de como o nosso Sistema Solar se formou.
Outra imagem mostra uma região de formação estelar brilhante chamada NGC 3603, situada a 20.000 anos-luz de distância no braço espiral Carina da nossa Via Láctea. Este berçário estelar contém muitas estrelas recém-nascidas, algumas delas monstruosamente massivas e mais quentes que o Sol. As estrelas quentes aquecem as nuvens de poeira em redor, fazendo com que brilhem em comprimentos de onda infravermelhos.
O WISE irá observar centenas de regiões de formação estelar na nossa Galáxia, ajudando os astrónomos a montar uma imagem de como as estrelas nascem. As observações também vão providenciar uma ligação importante para a compreensão de episódios violentos de formação estelar em galáxias distantes. Dado que NGC 3603 está muito mais perto, os astrónomos vão usá-la como um laboratório para estudar o mesmo tipo de acção que está a ter lugar a milhares de milhões de anos-luz.
Viajando para lá da nossa Via Láctea, a terceira nova imagem mostra o nosso maior vizinho galáctico, a grande galáxia espiral de Andrómeda. Andrómeda é um pouco maior que a nossa Via Láctea e está a aproximadamente 2,5 milhões de anos-luz de distância. A nova imagem salienta o largo campo de visão do WISE -- cobre uma área maior que 100 luas cheias e até mostra outras galáxias mais pequenas perto de Andrómeda, todas pertencendo ao "grupo local" de mais de 50 galáxias. o WISE vai capturar imagens de todo o Grupo Local.
A quarta imagem do WISE vai ainda mais longe, a uma região de centenas de galáxias todas aglomeradas numa única família. Com o nome de enxame da Fornalha, estas galáxias estão a 60 milhões de anos-luz da Terra. As paisagens infravermelhas da missão revelam galáxias activas e estagnadas, fornecendo um censo de dados de uma inteira comunidade galáctica.
"Todas estas imagens contam uma história acerca das nossas origens e do nosso destino," afirma Peter Eisenhardt, cientista do projecto WISE no JPL da NASA em Pasadena, Califórnia. "O WISE vê cometas e asteróides e traça a formação e evolução do nosso Sistema Solar. Nós podemos mapear centenas de sistemas solares moribundos e em formação por toda a nossa Galáxia. Nós podemos ver padrões de formação estelar noutras galáxias, a milhões de anos-luz de distância."
Outros alvos da missão incluem cometas, asteróides e estrelas frias denominadas anãs castanhas. O WISE descobriu o seu primeiro asteróide perto da Terra no dia 12 de Janeiro, e o seu primeiro cometa a 22 de Janeiro. A missão vai estudar o céu inteiro uma vez e meia até Outubro. Nessa altura, o líquido refrigerante necessário para arrefecer os seus instrumentos acabará.
SEM LUGAR PARA SE ESCONDEREM: DESCOBERTAS ESTRELAS PRIMITIVAS DESAPARECIDAS EXTERIORES À VIA LÁCTEA

Durante anos as estrelas mais primitivas residentes fora da Via Láctea conseguiram esconder-se mas agora foram finalmente desmascaradas. Novas observações utilizando o Very Large Telescope do ESO solucionaram um importante problema astrofísico relativo às estrelas mais antigas na nossa vizinhança galáctica - o qual é crucial para compreender as estrelas que se formaram muito cedo no Universo.
"Na realidade, descobrimos uma falha nos métodos forenses utilizados até agora," diz Else Starkenburg, autora principal do artigo que apresenta este trabalho. "O nosso método mais desenvolvido permitiu-nos descobrir as estrelas primitivas escondidas no meio de todas as outras estrelas mais comuns."
Pensa-se que as estrelas primitivas se formaram a partir de matéria forjada pouco depois do Big Bang, há 13,7 mil milhões de anos. Estas estrelas têm, tipicamente, menos que uma milésima parte da quantidade de elementos químicos mais pesados que o hidrogénio e o hélio, encontrados no Sol, e são chamadas "estrelas extremamente pobres em metais". Pertencem a uma das primeiras gerações de estrelas no Universo próximo. Tais estrelas, extremamente raras, são observadas principalmente na Via Láctea.
Os cosmólogos pensam que as galáxias maiores, como a Via Láctea, se formaram a partir da fusão de galáxias mais pequenas. A população de estrelas extremamente pobres em metais ou "primitivas" da Via Láctea deveria estar já presente nas galáxias anãs que lhe deram origem, e por isso, populações similares deveriam estar igualmente presentes noutras galáxias anãs. "Até agora, evidências destas populações têm sido escassas," diz a co-autora Giuseppina Battaglia. "Enormes levantamentos feitos nos últimos anos mostraram continuamente que as populações estelares mais antigas da Via Láctea e de galáxias anãs não coincidem, facto que não é de todo esperado segundo os modelos cosmológicos."
A abundância dos elementos é medida a partir de espectros, que nos fornecem as impressões digitais químicas das estrelas. A Equipa de Abundâncias e Velocidades Radiais de Galáxias Anãs utilizou o instrumento FLAMES montado no Very Large Telescope do ESO para medir o espectro de cerca de 2000 estrelas gigantes individuais em quatro das nossas vizinhas galáxias anãs: Fornax, Escultor, Sextante e Carina. Uma vez que as galáxias anãs estão a distâncias típicas de 300.000 anos-luz - o que corresponde a cerca de três vezes o tamanho da Via Láctea - apenas riscas e bandas intensas no espectro puderam ser medidas, e mesmo estas aparecem como uma impressão digital ténue e esborratada. A equipa descobriu que, de entre a sua grande colecção, nenhuma das impressões digitais espectrais parecia pertencer à classe de estrelas que procuravam, as raras estrelas extremamente pobres em metais encontradas na Via Láctea.
A equipa de astrónomos liderada por Starkenburg conseguiu agora resultados interessantes ao comparar cuidadosamente os espectros com modelos computacionais. Esta equipa descobriu que apenas diferenças muito subtis distinguem a impressão digital química de uma estrela pobre em metais normal e de uma estrela extremamente pobre em metais, e explica porque é que os métodos anteriores não foram bem sucedidos na identificação destas estrelas.
Os astrónomos confirmaram também o quase imaculado estado de várias estrelas extremamente pobres em metais, graças aos espectros muito detalhados obtidos pelo instrumento UVES montado no Very Large Telescope do ESO. "Comparadas com as impressões digitais muito ténues que tínhamos anteriormente, estas assemelham-se à impressão digital vista ao microscópio," explica Vanessa Hill, membro da equipa. "Infelizmente, apenas um pequeno número de estrelas pode ser observado desta maneira devido a esta ser uma observação que demora muito tempo".
"Entre as novas estrelas extremamente pobres em metais descobertas nestas galáxias anãs, três têm uma quantidade relativa de elementos químicos entre apenas 1/3000 e 1/10 000 da que é observada no Sol, incluindo assim a estrela que detém o actual recorde da mais primitiva encontrada fora da Via Láctea," diz Martin Tafelmeyer, membro da equipa.
"O nosso trabalho não só revelou algumas das muito interessantes primeiras estrelas destas galáxias, como ainda fornece uma nova e poderosa técnica de detecção de estrelas deste tipo," conclui Starkenburg. "A partir de agora as estrelas já não têm sítio onde se esconder!"
CASSINI DESCOBRE PLETORA DE PLUMAS E ZONAS QUENTES EM ENCELADO

Imagens recentemente anunciadas do "flyby" da Cassini por Encelado em Novembro passado revelam uma "floresta" de novos jactos expelidos pelas proeminentes fracturas que atravessam a região polar sul e fornecem o mais detalhado mapa de temperaturas, até agora, de uma dessas fracturas.
As novas imagens da equipa de imagem e da equipa do espectómetro infravermelho também incluem a melhor imagem tridimensional já obtida de uma das "listas de tigre," uma fissura que liberta partículas geladas, vapor de água e elementos orgânicos. Existem também imagens de regiões não tão bem mapeadas em Encelado, incluíndo uma região a Sul com padrões tectónicos grosseiramente circulares.
"Encelado continua a surpreender," afirma Bob Pappalardo, cientista do projecto Cassini no JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, EUA. "A cada passagem rasante da Cassini, aprendemos mais sobre a sua actividade extrema."
Para as câmaras da Cassini, o flyby de 21 de Novembro de 2009 forneceu o último olhar sobre a região polar sul de Encelado, antes que essa região da lua entre num ciclo de escuridão de 15 anos, e incluíu também a observação mais detalhada (até agora) dos jactos.
Os cientistas planearam usar esta passagem rasante para procurar jactos novos ou mais pequenos, não visíveis em imagens anteriores. Num mosaico, os cientistas contaram mais de 30 geysers individuais, incluíndo mais de 20 até aí nunca antes vistos. Pelo menos um jacto capturado em imagens anteriores parece agora menos poderoso.
"Este último flyby confirma o que suspeitávamos," afirma Carolyn Porco, líder da equipa de imagem. "O vigor dos jactos individuais pode variar com o tempo, e imensos jactos, grandes e pequenos, entram em erupção ao longo das listas de tigre."
Um novo mapa que combina dados de calor com imagens no visível, mostra um segmento de 40 km da maior lista de tigre, conhecida como Sulco de Baghdad. O mapa ilustra a correlação, à maior resulação já obtida, entre as geologicamente jovens fracturas superficiais e as temperaturas amenas anómalas registadas na região polar sul. As grandes detecções de calor parecem estar confinadas a uma estreita mas intensa região com não mais do um quilómetro ao longo da fissura.
Nestas medições, as temperaturas máximas ao longo do Sulco de Baghdad excederam os 180 Kelvin, e podem até ultrapassar os 200 Kelvin. Estas temperaturas amenas provavelmente resultam do aquecimento dos flancos da fractura pela subida do vapor de água que impulsiona os jactos de partículas geladas observados pelas câmaras da Cassini. Os cientistas vão testar esta ideia ao investigar a correspondência entre estas zonas "quentes" e as fontes dos jactos.
"As fracturas são geladas pelas normas da Terra, mas são um oásis acolhedor quando comparadas com os 50 Kelvin da vizinhança," afirma John Spencer, membro da equipa do espectómetro infravermelho da Cassini. "A grande quantidade de calor libertado das listas de tigre pode ser suficiente para derreter o gelo subterrâneo. Resultados como estes fazem de Encelado um dos locais mais excitantes do Sistema Solar."
Alguns dos cientistas da Cassini deduzem que quanto mais amenas as temperaturas à superfície, maior a possibilidade dos jactos terem uma origem líquida. "E a ser verdade, isto torna o ambiente sub-superficial de Encelado, líquido e rico em elementos orgânicos, a zona aquática extraterretre mais acessível do Sistema Solar," afirma Porco.
O voo rasante de 21 de Novembro foi o oitavo encontro com Encelado. A Cassini passou a cerca de 1600 km da superfície da lua, a aproximadamente 82º sul em latitude.
A "ESTRELA DA TARDE" ESTÁ DE VOLTA: COMO AVISTAR VÉNUS

Desde o Verão passado que os planetas dominantes do céu nocturno têm sido Júpiter e mais tarde Saturno, mas isso agora mudou. Vénus está a emergir.
Vénus está mais perto do Sol do que a Terra, por isso o seu ano - o tempo que leva a dar uma volta ao Sol - é muito mais curto que o nosso. À medida que Vénus orbita o Sol, alterna entre o céu diurno e nocturno.
Após a sua última passagem pelo céu da manhã, Vénus pareceu passar por trás do Sol - o que os astrónomos chamam de "conjunção superior" - no dia 11 de Janeiro. Durante semanas não foi visível, embebido profundamente no brilho do Sol. A cada dia que passava, movia-se um pouco para Este e afastando-se da nossa estrela.
Vénus agora está baixo a Oeste ao pôr-do-Sol, uma "estrela da tarde" que fica mais alta a cada dia que passa. Quem tiver um horizonte limpo a Oeste, pode já avistar Vénus a olho nu, até mais ou menos uma hora após o pôr-do-Sol. Mas, descobri-lo baixo no horizonte e por entre o brilho cada vez menor do Sol, poderá ser complicado.
Continuando a viajar para Este do Sol durante Março, Vénus em breve tornar-se-á bem visível no céu nocturno a Oeste, mesmo até para o mais casual dos observadores. Aparecendo como um objecto "estelar" esbranquiçado de magnitude -3,9, o nosso planeta-irmão põe-se uma hora depois do Sol no dia 4 de Março. Nesta escala de magnitudes, números mais pequenos representam objectos mais brilhantes, e Vénus é o objecto natural mais brilhante no céu, a seguir ao Sol e à Lua.
Vénus continuará a subir a cada noite, durante toda a Primavera e Verão. Na primeira semana de Junho, põe-se mais de duas horas e meia depois do Sol. A maior altitude do planeta ao pôr-do-Sol também será por volta desta altura.
Entre 28 de Março e 12 de Abril, Vénus e Mercúrio vão ser um par atractivo no céu a Oeste após o pôr-do-Sol. Entre estas duas datas, estes dois planetas estão a menos de 5 graus entre si, Vénus estando um pouco mais para a esquerda e para cima do mais ténue Mercúrio. A 3 de Abril, estarão à distância mais pequena, a apenas 3 graus entre si.
E no princípio de Agosto, Vénus será parte um "trio planetário," juntando-se aos mais ténues planetas, Marte e Saturno, baixos no céu a Oeste após o pôr-do-Sol.
Vénus alcança a sua maior elongação - a sua maior distância angular -, 46º Este do Sol, no dia 22 de Agosto.
Vénus estará mais brilhante no princípio do Outono, à medida que se aproxima novamente do Sol, alcançando o seu brilho máximo para esta órbita a 22 de Setembro, uma espectacular magnitude -4,56. Isto torna o planeta Vénus à volta de 20 vezes mais brilhante que Sirius, a estrela mais brilhante do céu nocturno. A partir daí, Vénus rapidamente baixa de magnitude, desaparecendo do céu em meados de Outubro, e passando a conjunção inferior a 28 de Outubro.
Em coisa de uma semana, ressurge como "estrela da manhã" a Sudeste.
Muitas pessoas não se apercebem que Vénus também tem fases, tal como a nossa Lua. Entre agora e Outubro, a observação repetida de Vénus com um pequeno telescópio vai mostrar toda a sua colecção de fases e tamanhos do disco.
O planeta aparece agora praticamente cheio (98% iluminado), e será um disco pequeno e deslumbrante. Ficará com uma forma mais gibosa e maior em tamanho aparente no final da Primavera. No final de Agosto, Vénus finalmente alcança o seu Quarto Crescente.
A partir daí, durante o resto do ano, fica cada vez maior em tamanho aparente e com uma fase mais fina, à medida que passa mais perto da Terra. De facto, se usar um telescópio irá notar que enquanto a distância Terra-Vénus diminui, o tamanho aparente do disco de Vénus aumenta, quase que duplicando o seu tamanho actual em 31 de Julho.
Quando Vénus duplicar novamente de tamanho a 23 de Setembro, a sua fase crescente deverá ser facilmente discernível, mesmo até em simples binóculos com 7x de ampliação.
SISTEMA BINÁRIO MAIS EXTREMO ORBITA A CADA 5 MINUTOS

Uma equipa internacional de astrónomos mostrou que as duas estrelas no sistema binário HM Cancri, orbitam o seu centro de massa em meros 5,4 minutos. Isto torna HM Cancri a estrela binária com o período orbital mais curto. É também a dupla mais pequena conhecida. O sistema binário tem 8 vezes o diâmetro da Terra, o que é equivalente a não mais do que um-quarto da distância da Terra à Lua.
O sistema binário consiste de duas anãs brancas. As anãs brancas são as cinzas queimadas de estrelas como o nosso Sol, e contêm uma forma altamente condensada de hélio, carbono e oxigénio. As duas anãs brancas em HM Cancri estão tão próximas uma da outra que material de uma estrela é transportado para a outra. HM Cancri foi avistado pela primeira vez em 1999 como uma fonte de raios-X e com o tal período de 5,4 minutos, mas durante muito tempo não se sabia se indicava o período orbital real do sistema. Era tão curto que os astrónomos estavam hesitantes em aceitar a possibilidade sem provas concretas.
A equipa de astrónomos, liderada pelo Dr. Gijs Roelofs do Centro para Astrofísica Harvard-Smithsonian, usou o maior telescópio do mundo, o telescópio Keck no Hawaii, para provar que o período de 5,4 minutos era realmente o período binário do sistema. Isto foi feito através da detecção das variações na velocidade observadas nas linhas espectrais da luz de HM Cancri. Estas variações na velocidade são induzidas pelo efeito Doppler, provocado pelo movimento orbital das duas estrelas em órbita uma da outra. O efeito Doppler faz com que as linhas periodicamente oscilem desde o azul para o vermelho e vice-versa.
As observações de HM Cancri foram um desafio devido ao extremamente curto período e ao fraco brilho do sistema binário. À distância de cerca de 16.000 anos-luz da Terra, o binário tem um brilho não maior do que um milionésimo das estrelas mais ténues visíveis a olho nu.
"Este sistema é interessante em muitas maneiras: tem um período extremamente curto; a massa oscila entre uma estrela e colide no equador da outra, onde liberta mais do que o poder total do Sol em raios-X. Poderá ser também um poderoso emitente de ondas gravitacionais, que um dia poderão ser detectadas a partir deste tipo de sistema binário", afirma o professor Tom March da Universidade de Warwick e membro da equipa.
Danny Steeghs, doutorado da mesma Universidade e também pertencente à equipa desta descoberta, afirma: "Há uns anos atrás propusémos que HM Cancri era realmente um binário em interacção, que consistia em duas anãs brancas e que o período de 5,4 minutos era o período orbital. É muito gratificante ver este modelo confirmado pelas nossas observações, especialmente dado que as nossas primeiras tentativas foram impedidas devido ao mau tempo."
O artigo que descreve as observações de HM Cancri será publicado na edição de 10 de Março da Astrophysical Journal Letters.
"Este tipo de observações é realmente o limite do que é actualmente possível. Não só precisamos dos maiores telescópios do mundo, mas também têm que estar equipados com os melhores instrumentos disponíveis," explica o professor Paul Groot da Universidade Radboud em Nijmegen, nos Países Baixos.
"O binário HM Cancri é um grande desafio para o nosso conhecimento da evolução estelar e binária," acrescenta o Dr. Gijs Nelemans da mesma universidade. "Nós sabemos que o sistema deverá ter originado de duas estrelas normais que de algum modo espiralou e formou um binário, provavelmente em episódios mais antigos de transferências de massa, mas a física deste processo é ainda muito pouco conhecida. O sistema é também uma grande oportunidade para a relatividade geral. Deve ser um dos maiores emissores de ondas gravitacionais. Estas distorções do espaço-tempo esperamos detectar directamente com o futuro satélite LISA, e HM Cancri será um sistema decisivo para esta missão."
ASTRÓNOMOS OBTÊM A MELHOR VISTA DE FÁBRICAS ESTELARES NO UNIVERSO DISTANTE

Astrónomos combinaram uma lente gravitacional natural e uma rede sofisticada de telescópios para obter a vista mais detalhada de "fábricas estelares" numa galáxia a 10 mil milhões de anos-luz da Terra. Eles descobriram que a galáxia distante, conhecida como SMM J2135-0102, está a fabricar novas estrelas 250 vezes mais depressa que a nossa Galáxia, a Via Láctea.
Também localizaram quatro regiões discretas de formação estelar dentro da galáxia, cada com mais de 100 vezes o brilho de locais (tais como a Nebulosa de Orionte) onde as estrelas se formam na nossa Galáxia. Esta é a primeira vez que os astrónomos foram capazes de estudar propriedades de regiões de formação estelar individuais numa galáxia tão longe da Terra.
"Para um leigo, as nossas imagens parecem desfocadas, mas para nós, mostram o requintado detalhe de um ovo Fabergé," afirma Steven Longmore do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica (CfA). Longmore é um dos autores do estudo que descreve estes achados, publicado online na edição de 21 de Março da Nature.
Devido ao tempo que demora para a luz chegar até nós, vemos a galáxia como existia apenas 3 mil milhões de anos após o Big Bang. Tinha o tamanho da Via Láctea nessa altura. Se a pudéssemos ver como é agora, 10 mil milhões de anos depois, seria uma gigante galáxia elíptica muito mais massiva que a nossa.
"Esta galáxia é o equivalente a um adolescente atravessando uma fase de crescimento," afirma Mark Swinbank da Universidade de Durham, autor principal do artigo. "Se a pudéssemos ver hoje como um 'adulto', veríamos o equivalente galáctico a um alto jogador de basquetebol."
Do nosso ponto de vista, SMM J2135-0102 está localizada por trás de um enorme enxame de galáxias vizinhas. A gravidade do enxame age como uma lente para ampliar a galáxia mais distante por um factor de 16, tanto em tamanho aparente como em brilho, tornando visíveis detalhes que de outro modo seriam imperceptíveis.
A galáxia, embora altamente obscurecida por poeira em comprimentos de onda visíveis, emite grandes quantidades de radiação em comprimentos de onda submilimétricos (perto da região rádio do espectro). De facto, é a galáxia submilimétrica mais brilhante conhecida, o que a torna num alvo óbvio para o SMA (Submillimeter Array).
O SMA é um interferómetro de 8 elementos que opera nos comprimentos de onda entre 0,3 e 2 milímetros, localizado no topo do Mauna Kea no Hawaii. Combinado com a ampliação natural da lente gravitacional, a rede providenciou observações de extrema alta resolução - o equivalente a usar um telescópio para avistar uma moeda a mais de 600 km de distância. Isto forneceu um nível de detalhe para uma galáxia a 10 mil milhões de anos-luz de distância comparável às melhores observações de galáxias vizinhas, ricas em formação estelar.
Devido à poeira obscurecente, a distância à galáxia não pôde ser determinada por observações no visível. Para essa tarefa, os astrónomos usaram um instrumento único, denominado "Zpectómetro", acoplado ao Telescópio Robert C. Byrd Green Bank do NRAO (National Radio Astronomy Observatory). Este instrumento foi capaz de determinar a distância da galáxia ao medir a emissão de rádio por moléculas de monóxido de carbono. A medição precisa da distância permitiu aos cientistas determinar o "efeito exacto que a lente gravitacional teria na galáxia, e por isso exactamente como a galáxia seria na ausência da lente," de acordo com Andrew Baker, da Universidade de Rutgers.
Os dados do SMA revelaram quatro regiões de formação estelar extremamente brilhantes. As grandes luminosidades, 100 vezes maior que as galáxias vizinhas normais, implicam uma elevada taxa de formação estelar.
"Nós não sabemos com certeza o porquê das estrelas estarem a formar-se tão rapidamente, mas o nosso resultado sugere que as estrelas formaram-se muito mais eficientemente no princípio do Universo do que agora," afirma Swinbank.
Os seus resultados fornecem novos dados sobre uma altura crítica da história do Universo. SMM J2135-0102 é observada aquando do nascimento da maioria das estrelas, e por isso quando muitas das propriedades das galáxias vizinhas foram definidas. Ao estudar esta e outras galáxias distantes no jovem Universo, os astrónomos esperam aprender mais sobre a história da Via Láctea e de outras galáxias vizinhas.
Estudos futuros poderão identificar mais alvos para o SMA e para a próxima geração de telescópios, como o ALMA (Atacama Large Milimeter Array).
"Isto permitir-nos-á testar com exactidão quão genéricos são os nossos resultados: será que a formação estelar que ocorre nestas galáxias é sempre tão vigorosa? Ou estamos apenas a observar uma galáxia numa altura muito especial?" inquire Longmore.
EXPLICADO: PORQUE É QUE TANTOS RASTREIOS DE GALÁXIAS LONGÍNQUAS PERDEM 90% DOS SEUS ALVOS

Os astrónomos sabem desde há muito tempo que, em muitos rastreios do Universo longínquo, uma grande fracção da radiação intrínseca total não é observada. Agora, graças a um rastreio profundo executado com dois dos quatro telescópios gigantes de 8.2 metros que compõem o Very Large Telescope do ESO (VLT) e a um filtro de alta qualidade, os astrónomos determinaram que uma enorme fracção de galáxias cuja luz demorou 10 mil milhões de anos a chegar até nós não foi descoberta. O rastreio ajudou igualmente a encontrar algumas das galáxias menos luminosas alguma vez descobertas nesta fase inicial do Universo.
Os astrónomos utilizam frequentemente a impressão digital forte e característica da radiação emitida pelo hidrogénio conhecida como risca de Lyman-alfa, para investigarem o número de estrelas formadas no Universo longínquo. No entanto, suspeita-se desde há muito tempo que inúmeras galáxias permanecem por descobrir nestes rastreios. Um novo rastreio obtido com o VLT demonstra, pela primeira vez, que é exactamente isso que se passa. A maior parte da emissão de Lyman-alfa fica presa na galáxia que a emite, e por isso 90% das galáxias não aparecem nos rastreios baseados nesta radiação.
"Os astrónomos sempre souberam que estavam a perder uma certa fracção de galáxias nos rastreios de Lyman-alfa," explica Matthew Hayes, autor principal do artigo publicado esta semana na revista Nature, "mas agora e pela primeira vez podemos quantificar essa fracção. O número de galáxias perdido é substancial."
Para determinarem que fracção da radiação total se está a perder, Hayes e a sua equipa utilizaram a câmara FORS montada no VLT e um filtro de banda estreita para medir a radiação de Lyman-alfa, seguindo o procedimento padrão dos rastreios de Lyman-alfa. Seguidamente, usando a nova câmara HAWK-I montada noutro dos telescópios que compõem o VLT, fizeram, na mesma zona do espaço, o mapeamento da risca de H-alfa, radiação emitida a um comprimento de onda diferente, também por hidrogénio brilhante. Procuraram especificamente galáxias cuja luz tivesse viajado durante 10 mil milhões de anos (deslocamento para o vermelho de 2.2), numa zona do céu bem estudada, conhecida como o campo GOODS-South.
"Esta é a primeira vez que observámos uma zona do céu tão profundamente, observando a radiação emitida pelo hidrogénio a estes dois comprimentos de onda tão específicos, o que provou ser crucial," diz Göran Östlin, membro da equipa. O rastreio foi extremamente profundo e por isso mesmo descobriu algumas das galáxias menos luminosas conhecidas nesta fase inicial da vida do Universo. Os astrónomos puderam assim concluir que os rastreios tradicionais baseados na risca de Lyman-alfa vêem apenas uma pequena parte da radiação que é emitida, já que a maioria dos fotões Lyman-alfa são destruídos por interacção com as nuvens interestelares de gás e poeira. Este efeito é dramaticamente mais significativo no caso da radiação Lyman-alfa do que no caso da radiação H-alfa. Como resultado, muitas galáxias, numa proporção tão alta como 90%, não são detectadas destes rastreios." Ou seja, se observamos dez galáxias, podem bem existir cem," diz Hayes.
Diferentes métodos observacionais, tendo como alvo a radiação emitida a diferentes comprimentos de onda, levará sempre a uma visão do Universo que é apenas parcialmente completa. Os resultados deste rastreio alertam de maneira clara os cosmólogos, uma vez que a assinatura de Lyman-alfa é cada vez mais tida em conta quando se trata de examinar as primeiras galáxias que se formaram na história do Universo. "Agora que sabemos quanta radiação temos estado a perder, poderemos começar a criar representações do cosmos muito mais fiáveis, compreendendo melhor quão depressa as estrelas se formaram em diferentes épocas da vida do Universo," diz o co-autor Miguel Mas-Hesse.
Esta descoberta foi possível graças à câmara utilizada. HAWK-I, que viu a primeira luz em 2007, é um instrumento de última geração. "Existem apenas algumas câmaras com um campo de visão maior do que o da HAWK-I, mas encontram-se montadas em telescópios com menos de metade do tamanho do VLT. Por isso, apenas a VLT/HAWK-I é capaz de encontrar de forma eficaz galáxias tão pouco luminosas a estas distâncias," diz o membro da equipa Daniel Schaerer.
ÍCONE DE VIDEOJOGO DOS ANOS 80 BRILHA NUMA LUA DE SATURNO

Um mapa de temperaturas com a mais alta resolução já obtida e imagens da lua gelada de Saturno, Mimas, registadas pela sonda Cassini, revelam padrões surpreendentes na superfície da pequena lua, incluíndo regiões quentes inesperadas que se assemelham com um "Pacman a comer um ponto", e bandas impressionantes de luz e escuridão nas paredes de crateras.
"Outras luas normalmente ganham mais protagonismo, mas ao que parece Mimas é mais bizarra do que pensávamos," afirma Linda Spilker, cientista do projecto Cassini no JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, EUA. "Certamente deu-nos novos puzzles para resolver."
A Cassini recolheu os dados no passado dia 13 de Fevereiro, durante a sua passagem mais rasante pela lua, marcada por uma enorme cicatriz denominada Cratera Herschel que se assemelha com a Estrela da Morte do filme "Guerra das Estrelas."
Os cientistas que trabalham com o espectómetro infravermelho da sonda, o instrumento que mapeou as temperaturas de Mimas, esperavam temperaturas ligeiramente variantes, máximas à tarde perto do equador. Ao invés, a região mais quente o era de manhã, ao longo do terminador do disco da lua, o que compôs uma forma "Pacman" bastante definida, com temperaturas a rondar os 92 Kelvin. As restantes partes da lua eram muito mais frias, por volta de 77 K. Uma mancha mais quente e pequena - o ponto na boca do Pacman - apareceu em torno da Herschel, com uma temperatura por volta dos 84 K.
A mancha quente na cratera faz sentido porque as paredes altas das crateras (cerca de 5 km) podem aí capturar calor. Mas os cientistas ficaram completamente surpreendidos pelo padrão em forma de V.
"Nós suspeitamos que as temperaturas são diferenças reveladoras na textura da superfície," afirma John Spencer, membro da equipa do espectómetro infravermelho da Cassini, do Instituto de Pesquisa do Sudoeste em Boulder, Colorado.
O gelo mais denso rapidamente conduz o calor do Sol para longe da superfície, tornando-a fria durante o dia. O gelo quebradiço é mais isolante e captura o calor do Sol na superfície, por isso ela aquece.
Mesmo que as variações na textura da superfície estejam por trás das diferenças de temperatura, os cientistas ainda não percebem porque é que existem limites tão bem definidos entre as regiões. É possível que o impacto que criou a Cratera Herschel tenha derretido gelo e espalhado água pela lua. O líquido pode ter congelado à superfície num ápice. Mas é difícil compreender o porquê desta camada superior ter permanecido intacta quando os meteoritos e outros detritos espaciais já a deveriam ter pulverizado, realça Spencer.
"Spray" gelado do anel-E, um dos anéis exteriores de Saturno, deve também manter Mimas relativamente clara em termos de cor, mas as novas imagens obtidas no visível pintam uma imagem de contrastes impressionantes. Os cientistas da equipa de imagem da Cassini não esperavam ver riscas escuras nas paredes brilhantes das crateras ou detritos estreitos e concentrados na base de cada parede.
O padrão pode existir devido à maneira como a superfície de Mimas envelhece, afirma Paul Helfenstein, associado da equipa de imagem da Cassini, da Universidade de Cornell em Ithaca, Nova Iorque. Com o passar do tempo, a superfície da lua parece acumular um fino véu de minerais de silicato ou partículas ricas em carbono, possivelmente por causa de poeira meteórica que cai para a lua, ou impurezas já embebidas no gelo superficial.
À medida que os quentes raios solares e o vácuo do espaço evaporam o gelo mais brilhante, o material mais escuro concentra-se e é deixado para trás. A gravidade puxa o material escuro para baixo na cratera, expondo o gelo fresco por baixo. Embora efeitos similares possam ser observados noutras luas de Saturno, a visibilidade destes contrastes numa lua continuamente re-pavimentada com pequenas partículas do anel-E ajuda os cientistas a estimar rácios de mudança noutros satélites.
"Estes processos não são únicos em Mimas, mas as novas imagens em alta-definição são como a Pedra de Roseta da sua interpretação," afirma Helfenstein.
ESTRANHA DESCOBERTA EM TITÃ LEVA À ESPECULAÇÃO DE VIDA EXTRATERRESTRE

Novas descobertas despertaram muitos debates sobre a possibilidade de vida na lua de Saturno, Titã, que algumas fontes noticiosas já sobrevalorizaram como pistas de vida extraterrestre.
No entanto, os cientistas já avisaram que os extraterrestres não têm nada a ver com estes achados.
Toda esta excitação tem por base análises de dados químicos enviados pela sonda Cassini da NASA. Um estudo sugeria que o hidrogénio "escorria" pela atmosfera de Titã e desaparecia na superfície. O astrobiólogo Chris McKay do Centro de Pesquisa Ames da NASA especulou que isto podia ser uma pista tantalizante que o hidrogénio estava a ser consumido por vida.
"É o gás óbvio para a vida consumir em Titã, semelhante ao modo como consumimos oxigénio na Terra," afirma McKay.
Outro estudo que investigava hidrocarbonetos na superfície de Titã descobriu uma escassez de acetileno, um composto que pode ser consumido como alimento para a vida que depende do metano líquido - em vez de água líquida - para viver.
"Se estes sinais são realmente sinais de vida, seria duplamente excitante porque iria representar uma segunda forma de vida independente da vida baseada em água na Terra," afirma McKay.
No entanto, os cientistas da NASA acautelam que os extraterrestres podem não ter nada a ver com isto.
"O conservacionismo científico sugere que a explicação biológica deverá ser sempre a última hipótese a ponderar após todas as explicações não-biológicas serem excluídas," afirma Mark Allen, investigador principal da equipa do Instituto Titan de Astrobiologia da NASA. "Temos muito trabalho pela frente com o intuito de excluír as explicações não-biológicas. É mais provável que um processo químico, sem biologia, explique estes resultados."
"Ambos os resultados são ainda preliminares," afirma McKay.
Até à data, as formas de vida com base no metano são ainda especulação, e McKay propõs um conjunto de condições necessárias para estes tipos de organismos em Titã em 2005. Os cientistas ainda não detectaram este forma de vida em lado nenhum, embora existam micróbios com base em água cá na Terra que floresçam no metano ou que o produzam como resíduo.
Em Titã, onde as temperaturas rondam os -179º C, quaisquer organismos teriam que usar uma substância que é líquida a essa temperatura para processos de vida. A própria água não é possível de usar, pois encontra-se no estado sólido à superfície de Titã. A lista de candidatos líquidos é muito curta -- metano líquido e moléculas relacionadas como o etano. Estudos prévios descobriram que Titã tem lagos de metano líquido.
A escassez de hidrogénio detectada pela Cassini é consistente com as condições que poderiam produzir vida com base em metano, mas não prova conclusivamente a sua existência, avisa o cientista Darrell Strobel, cientista interdisciplinário da Cassini da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, Maryland, EUA, autor do artigo sobre o hidrogénio e que aparece na edição online da revista Icarus.
Strobel estudou as densidades do hidrogénio em diferentes partes da atmosfera e da superfície. Os modelos prévios teorizados pelos cientistas previam que as moléculas de hidrogénio, um subproduto da quebra do acetileno e de moléculas de metano pela radiação ultravioleta na atmosfera superior, deveriam estar razoavelmente bem distribuídas pelas camadas atmosféricas.
As simulações computacionais de Strobel sugerem um fluxo de hidrogénio da atmosfera para a superfície a uma proporção de 1x10^27 moléculas por segundo.
"É como se tivéssemos uma mangueira e esguichássemos hidrogénio para o chão, mas ia desaparecendo," afirma Strobel. "Não estava à espera deste resultado, porque o hidrogénio molecular é extremamente inerte quimicamente na atmosfera, muito leve e flutuante. Deveria 'flutuar' do topo da atmosfera e escapar."
Strobel disse que não é provável que o hidrogénio seja armazenado numa gruta ou num qualquer espaço subterrâneo em Titã. Um mineral desconhecido pode estar a agir como um catalisador na superfície de Titã para ajudar a converter as moléculas de hidrogénio e acetileno de volta a metano.
Embora Allen tenha felicitado Strobel pela descoberta, ele realça a necessidade de um "modelo mais sofisticado para descobrir qual o fluxo de hidrogénio."
Os cientistas também esperavam que as interacções do Sol com os químicos na atmosfera produzissem acetileno que cai e reveste a superfície de Titã. Mas a Cassini mapeou os hidrocarbonetos na superfície de Titã e não detectou qualquer acetileno à superfície - estes resultados encontram-se na edição online da revista Geophysical Research Letters.
Em vez de vida extraterrestre em Titã, Allen diz que uma possibilidade é que a luz solar ou raios cósmicos possam estar a transformar acetileno, em aerosóis gelados na atmosfera, em moléculas mais complexas que caem para o chão sem qualquer assinatura de acetileno.
Em adição, a Cassini detectou uma ausência de água gelada na superfície de Titã, mas muitas quantidades de benzeno e outro material ainda por identificar, que parece ser um composto orgânico. Os investigadores dizem que uma camada de elementos orgânicos estão a cobrir a água gelada que constitui o escudo rochoso de Titã. Esta camada de hidrocarbonetos mede pelo menos alguns milímetros até vários centímetros em espessura, e possivelmente a maiores profundidades em alguns locais.
"A química atmosférica de Titã está a libertar compostos orgânicos que chovem na superfície tão abundantemente que mesmo até à medida que torrentes de metano líquido e etano à superfície lavam estes compostos orgânicos, o gelo rapidamente é coberto novamente," afirma Roger Clark, cientista da equipa da Cassini no USGS em Denver. "Tudo isto implica que Titã é um lugar onde há química orgânica."
Toda esta especulação é excessiva, comenta Allen.
"Normalmente, na pesquisa de vida, procuramos a presença de evidências -- digamos, o metano observado na atmosfera de Marte, que não pode ser feito por processos fotoquímicos normais," acrescenta Allen. "Aqui estamos a falar sobre a ausência em vez da presença de provas - a falta de hidrogénio e acetileno - e muitas vezes existem processos não-biológicos que podem explicar o porquê das coisas não existirem."
Estas descobertas estão ainda "muito longe da prova de vida," afirma McKay. "Mas podem ser interessantes."
SONDA HAYABUSA CHEGARÁ EM BREVE À TERRA

Já passaram vários anos - 29 de Novembro de 2005, para ser exacto - desde que uma sonda japonesa chamada Hayabusa aterrou num pequeno asteróide com esperanças de recolher amostras da sua poeirenta superfície e enviá-las para a Terra. Se a missão tivesse corrido como planeado, as preciosas amostras do asteróide 25143 Itokawa teriam chegado aos cientistas em Junho de 2007.
Mas o voo da Hayabusa, a palavra japonesa para "falcão", foi tudo menos normal. De facto, tem sido mais um desastre.
A sonda quase se perdeu durante o encontro devido a uma série de avarias que a poderiam ter condenado. Mas aguentou-se, apesar de uma grande perda de combustível, da avaria de uma bateria e da perda de comunicações durante dois meses. E depois falhou o seu sistema de controlo de orientação. A perda de três dos seus quatro motores alimentados a xénon significou o atraso da sua chegada à Terra por três anos, seguida cuidadosamente a cada passo pela sua dedicada equipa de engenheiros.
Bem, a Hayabusa está quase aí. As últimas notícias do gestor do projecto, Junichiro Kawaguchi, contam que foi enviado o comando para a sonda desligar o restante motor a 27 de Março, após ter gentilmente acelerado a sonda até 400 m/s no último ano e a ter aproximado duma trajectória que a coloca a vários milhares de quilómetros da Terra. "O que resta é uma série de correcções da trajectória," explica Kawaguchi, "e a equipa do projecto está a finalizar as preparações."
Em meados de Junho, uma pequena cápsula de descida com 18 kg irá separar-se da sonda e entrará na atmosfera por cima da região centro-Sul da Austrália. A sonda maior, entretanto, irá afastar-se para evitar a Terra. Viajando pela escuridão a 12,2 km/s, a cápsula abrirá o seu pára-quedas e aterrará numa zona alvo, medindo 100 por 15 km, na remota região de testes de Woomera.
Após o transporte para uma sala descontaminada na agência espacial japonesa (JAXA), os cientistas irão abrir cuidadosamente a cápsula de 40 cm para descobrir, finalmente, se contém ou não amostras do asteróide. Não se sabe com certeza - embora tivesse aterrado na superfície do Itokawa durante meia-hora, a Hayabusa não conseguiu disparar os dois pequenos chumbos desenhados para levantar material superficial para a sua recolha.
O regresso bem sucedido da Hayabusa é muito importante para o Japão, e até já estão planeadas festas. Kawaguchi tem cuidado em não divulgar publicamente a data exacta, e espera ainda o avalo das autoridades australianas. "Não é no começo de Junho, nem no fim de Junho," afirma.
Dado que as sondas raramente entram pela atmosfera com esta velocidade - os satélites em órbita da Terra caem três vezes mais devagar - há muito interesse científico na própria reentrada. A cápsula deverá criar uma bola de fogo artificial começando a cerca de 200 km de altitude e alcançará um brilho máximo de magnitude -6,7 (várias vezes mais brilhante que Vénus) antes de abrir o seu pára-quedas.
Durante o último ano, o especialista em meteoros Peter Jenniskens do Instituto SETI na Califórnia, tem organizado uma equipa internacional para observar a chegada da cápsula a bordo de um jacto DC-8 repleto de instrumentos, voando perto da zona de recolha. Jenniskens organizou um evento semelhante para a chegada da cápsula de amostras da Stardust em Janeiro de 2006.
Irá a Hayabusa, não obstante os seus problemas, chegar à Terra? Será que a cápsula contém as amostras do asteróide Itokawa? Em breve desenrolar-se-á o último capítulo desta espectacular missão!
"POLUIÇÃO" ESTELAR SUGERE QUE PLANETAS ROCHOSOS SÃO COMUNS

Talvez Frank Drake tenha razão. Há quase meio século atrás, o astrónomo americano postulou que, com base em pura probabilidade estatística, a Via Láctea podia estar repleta de planetas tipo-Terra. Agora, observações de antigas estrelas como o nosso Sol, apelidadas de anãs brancas, sugerem que a esmagadora maioria delas abrigou pelo menos um mundo rochoso. Dado que as estrelas que terminam a sua vida como anãs brancas constituem bem mais de metade da população estelar da Via Láctea (certos estudos apontam para uma percentagem superior a 90%), isto significa que centenas ou até milhares de civilizações podem habitar na nossa Galáxia.
A questão de quantos mundos rochosos existem na Via Láctea desorienta os astrónomos há já quase cem anos. Mesmo hoje em dia, a tecnologia dificulta a pesquisa. Os astrónomos estão ainda a anos de serem capazes de fotografar directamente outra Terra. Os dois métodos de detecção de planetas extrasolares envolvem ou o estudo de pequenas oscilações no movimento de uma estrela, provocado pelo puxo gravitacional dos seus planetas em órbita, ou a observação da diminuição da luz da estrela quando um planeta passa entre esta e o observador terrestre. Ambos os métodos já revelaram centenas de planetas tipo-Júpiter, mas não um gémeo da Terra - embora já tenham sido avistados alguns planetas rochosos gigantes.
Hoje, numa reunião da Sociedade Astronómica Real em Glasgow, Reino Unido, uma equipa de investigadores apresenta um novo método para estimar quantos planetas rochosos podem existir. O estudo centra-se nas anãs brancas. Estes sóis moribundos já brilharam como o nosso, mas no final da sua vida de 9 mil milhões de anos, cresceram e transformaram-se em gigantes vermelhas, estrelas com diâmetros até 200 vezes o do nosso Sol (se isto acontecesse no nosso Sistema Solar, o Sol crescia até para lá da órbita da Terra). Então, gradualmente, estas estrelas inchadas murcham até metade do seu tamanho original, lentamente diminuindo de brilho e ficando rodeadas por uma grande mas fina atmosfera.
De acordo com os cientistas, estas atmosferas podem ser um sinal fácil de ler, um sinal indicador da existência prévia de planetas rochosos em órbita de estrelas mortas. Normalmente, estas atmosferas são dominadas por elementos leves, como o hidrogénio e hélio, pois os elementos mais pesados tendem a caír para o interior da estrela. Mas cerca de 20% das anãs brancas estão poluídas por elementos mais pesados. Uma teoria afirma que estas estrelas recolheram esta poluição ao absorver gás interestelar e poeira. "Esta teoria já existe há muito tempo," afirma Jay Farihi da Universidade de Leicester, Reino Unido. "Mas eu suspeitava que era falsa."
A equipa de Farihi estudou o espectro, assinaturas químicas da luz, em 146 anãs brancas localizadas até várias centenas de anos-luz da Terra, com o SDSS (Sloan Digital Sky Survey). De entre estas estrelas, 109 exibiram espectros que indicavam a presença atmosférica de elementos mais pesados como o cálcio. Os planetas rochosos são as únicas fontes prováveis destes elementos pesados, por isso o espectro mostra que estas estrelas devem ter consumido tais planetas durante o seu estágio de gigante vermelha.
Com base nos dados, a equipa extrapolou que pelo menos 3,5% de todas as estrelas como o Sol na Via Láctea actualmente contêm planetas rochosos. Através de outro cálculo grosseiro, isto significa que a nossa Galáxia teve já, a dada altura, um máximo de mil milhões de planetas rochosos. Uma pequena fracção destes, por sua vez, podem ter sido do tipo Terra, o que significa que preenchiam determinados critérios, como a existência de água e presença na zona habitável do sistema estelar.
O estudo reforça a ideia de que a formação de planetas em torno de outras estrelas "é um resultado comum," afirma o cientista planetário Jonathan Fortney da Universidade da Califórnia, Santa Cruz, EUA. Tão comum, salienta, que o número de estrelas com planetas rochosos é "provavelmente muito maior" que o valor de 3,5% estimado pelos autores. Pode até ser superior a 20%, dado que alguns sistemas planetários são inteiramente destruídos e não deixam traços para poluir a anã branca com elementos mais pesados.
Também interessante é o indício que algum deste material rochoso, poluidor de anãs brancas, continha água. As anãs brancas estudadas tinham atmosferas de hélio, mas mostraram traços de hidrogénio, um dos dois elementos que constituem a água. Se o hidrogénio e os metais forem oriundos de fontes diferentes, as estrelas que contêm ambos devem ser raras, explicou Farihi. Mas na realidade são bastante comuns, sugerindo que o hidrogénio e os metais têm a mesma fonte.
"As rochas que forneceram os metais provavelmente forneceram o hidrogénio," afirma Farihi. O hidrogénio sugere que os minerais que continham metais também continham água, um elemento essencial para a vida como a conhecemos. A descoberta de uma assinatura de oxigénio nas atmosferas destas anãs brancas poderá ajudar a melhorar esta interpretação, mas Farihi afirma que a equipa precisa do Hubble para a descobrir. Pediram tempo de observação e estão à espera da decisão.
MODESTO TELESCÓPIO TERRESTRE FOTOGRAFA TRÊS EXOPLANETAS

Astrónomos capturaram uma imagem de três planetas em órbita de uma estrela para lá do Sistema Solar usando um telescópio terrestre de tamanho modesto. O feito surpreendente foi alcançado por uma equipa do JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, EUA, ao usar uma pequena porção do Telescópio Hale do Observatório Palomar.
Os planetas já tinham sido fotografados por dois dos maiores telescópios terrestres do mundo -- por um dos dois telescópios de 10 metros do Observatório Keck e pelo telescópio de 8 metros do Observatório Gemini Norte, ambos em Mauna Kea, Hawaii. Os planetas, que orbitam a estrela HR 8799, estiveram entre os primeiros a ser observados directamente, numa descoberta anunciada em Novembro de 2008.
A nova imagem dos planetas, obtida, tal como anteriormente, no infravermelho, foi capturada usando apenas uma porção de 1,5 metros do espelho do Telescópio Hale. A equipa de astrónomos fez imensos esforços no desenvolvimento de nova tecnologia, até ao ponto de usarem apenas um telescópio assim tão pequeno. Depois, combinaram duas técnicas -- ópticas adaptivas e um coronógrafo -- para minimizar o brilho da estrela e revelar o brilho dos planetas muito mais ténues.
"A nossa técnica poderá ser usada em telescópios terrestres maiores, para fotografar planetas que estão muito mais perto das suas estrelas-mãe, ou poderá ser usada em pequenos telescópios espaciais para descobrir mundos tipo-Terra perto de estrelas brilhantes," afirma Gene Serabyn, astrofísico do JPL em associação com o Instituto de Tecnologia da Califórnia. Serabyn é o autor principal do artigo científico que reporta as descobertas na edição de 15 de Abril da revista Nature.
Pensa-se que os três planetas, denominados HR8799b, c e d, sejam gigantes gasosos como Júpiter, mas mais massivos. Orbitam a sua estrela a aproximadamente 24, 37 e 68 vezes a distância entre a Terra e o Sol, respectivamente (Júpiter orbita a 5 vezes a distância Terra-Sol). É possível que mundos rochosos orbitem mais perto da estrela, mas com a tecnologia actual, são impossíveis de ver devido ao seu brilho.
A estrela HR 8799 é um pouco mais massiva que o nosso Sol, mas muito mais jovem, com cerca de 60 milhões de anos, em comparação com os mais ou menos 4,6 mil milhões de anos do Sol. Está a 120 anos-luz de distância na direcção da constelação de Pégaso. O sistema planetário desta estrela é ainda activo, com corpos em colisão e expelindo poeira, recentemente detectada pelo Telescópio Espacial Spitzer da NASA. Tal como pão acabado de fazer, os planetas estão ainda quentes da sua formação e emitem suficiente radiação infravermelha para serem observados pelos telescópios.
Para obter uma imagem dos planetas de HR 8799, Serabyn e seus colegas usam ao início um método chamado ópticas adaptivas para reduzir a quantidade de desfocagem atmosférica, ou para retirar o "cintilar" da estrela. Esta técnica foi optimizada ao usar apenas uma pequena parte do telescópio. Após removerem o cintilar, a luz da própria estrela foi bloqueada usando o coronógrafo da equipa, um instrumento que selectivamente tapa a estrela. Um novo "coronógrafo vórtice", inventado pelo membro da equipa Dimitri Mawet do JPL, foi usado neste passo. O resultado final foi uma imagem que mostra a luz dos três planetas.
"O truque está em suprimir a luz estelar sem suprimir a luz planetária," afirma Serabyn.
A técnica pode ser usada para observar o espaço a apenas uma fracção de grau da estrela (cerca de um grau dividido por 10.000). Esta separação angular é mais ou menos a mesma atingida pelo Gemini e pelo Keck -- telescópios que são, respectivamente, cinco e sete vezes maiores.
Manter os telescópios pequenos é muito importante para as missões espaciais. "Este é o tipo de tecnologia que conseguirá fotografar outras Terras," afirma Wesley Traub, líder científico do Programa de Exploração Exoplanetária do JPL. "Estamos a caminho de obter uma imagem de outro pálido ponto azul no espaço."
EXPLICADA A ORIGEM DA MISTERIOSA LUZ ZODIACAL

A origem do misterioso brilho que se prolonga pelo céu nocturno foi identificado por cientistas que examinaram as partículas que compõem a luminosa nuvem de poeira.
Com o nome de Luz Zodiacal, o ténue brilho é provocado por milhões de pequenas partículas ao longo do percurso seguido pelo Sol, pela Lua e pelos planetas, também conhecido como eclíptica.
O brilho ténue e esbranquiçado, que pode melhor ser observado no céu nocturno mesmo depois do pôr-do-Sol ou antes do nascer-do-Sol na Primavera e no Outono, foi pela primeira vez identificado por Joshua Childrey em 1661 como luz solar espalhada na nossa direcção por partículas de poeira no Sistema Solar.
Mesmo assim, a fonte desta espessa nuvem de poeira tem sido tópico de debate.
Num novo estudo, David Nesvorny e Peter Jenniskens descobriram que mais de 85% da poeira zodiacal é oriunda da família de cometas de Júpiter (assim denominados porque as suas órbitas são alteradas pela passagem próxima pelo gigante gasoso, Júpiter), e não de asteróides, como se pensava anteriormente.
"Este é o primeiro modelo inteiramente dinâmico da nuvem zodiacal," afirma Nesvorny, cientista planetário do Instituto de Pesquisa do Sudoeste em Boulder, Colorado, EUA. "Nós descobrimos que a poeira dos asteróides não é agitada o suficiente ao longo da sua vida para tornar a nuvem de poeira zodiacal tão espessa como é. Apenas a poeira de cometas de curto-período é suficientemente dispersada por Júpiter para tal acontecer."
Os investigadores identificaram a poeira oriunda da família de cometas de Júpiter após examinar a forma da nuvem zodiacal, afirma Nesvorny.
"Outros cometas, como os cometas tipo-Halley, têm grandes inclinações orbitais," salienta Nesvorny. "Eles aproximam-se do Sistema Solar interior a partir de todas as direcções, por isso se fossem estes os produtores da nuvem zodiacal, seria quase uma bola e não um disco. Os telescópios como o Spitzer, mostram que a nuvem zodiacal é um disco. Isto aponta para a família de cometas de Júpiter, que têm inclinações mais moderadas."
Estes resultados confirmam o que Jenniskens, um astrónomo do Instituto SETI em Mountain View, Califórnia, há muito suspeitava. Perito em chuvas de meteoros, Jenniskens notou que a maioria delas consiste de poeira que se move em órbitas similares às dos cometas da família de Júpiter.
Jenniskens descobriu um cometa inactivo na chuva de meteoros Quadrântidas em 2003 e desde aí já identificou vários corpos do mesmo género.
Embora a maioria deles estejam actualmente inactivos na sua órbita actual em torno do Sol, todos se fragmentaram violentamente à mesma altura, há milhares de anos atrás, criando detritos na forma de correntes de poeira que agora migraram para a órbita da Terra.
Nesvorny e Jenniskens, com a ajuda de Harold Levison e William Bottke do Instituto de Pesquisa do Sudoeste, David Vokrouhlicky do Instituto de Astronomia da Universidade Charles em Praga, e Matthieu Gounelle do Museu de História Natural em Paris, demonstraram que estas perturbações cometárias explicam a espessura observada na camada de poeira da nuvem zodiacal.
E ao fazê-lo, resolveram outro mistério.
Há muito que se sabe que a neve na Antártica contém uma percentagem notável de micrometeoritos, e que 80-90% destes têm uma composição primitiva peculiar, rara entre os meteoritos maiores que se formaram a partir de asteróides.
"Estes micrometeoritos são pequenos meteoritos com aproximadamente 0,1 mm em tamanho," explica Nesvorny. "São encontrados no gelo da Antártica, e não se sabia porque é que têm uma composição diferente dos maiores meteoritos encontrados noutros lados."
Nesvorny e Jenniskens sugerem que os micrometeoritos da Antártica são na realidade fragmentos de cometas, o que explica a composição diferente dos outros meteoritos que vêm da cintura de asteróides. De acordo com os seus cálculos, os grãos cometários mergulham pela atmosfera da Terra a velocidades baixas o suficiente para sobreviverem e alcançarem o chão.
O estudo encontra-se na edição de 20 de Abril do Astrophysical Journal.
SEGUINDO AS PEGADAS DO HUBBLE: MAIORES E MELHORES TELESCÓPIOS ESPACIAIS

O Hubble celebra por esta altura o seu 20.º aniversário. Mas nem por isso os cientistas deixam de trabalhar na próxima geração de telescópios espaciais, sucessores maiores e mais poderosos que o famoso instrumento orbital.
O Telescópio Espacial Hubble foi lançado no dia 24 de Abril de 1990, com um espelho imperfeito, mas sobreviveu duas décadas em grande parte devido às cinco missões de manutenção e reparação levadas a cabo pelos astronautas a bordo dos vaivéns espaciais. O seu olhar cósmico levou a descobertas sem paralelo acerca do Universo e a espantosas imagens do Cosmos que agora estão embebidas nos corações e mentes do público.
"O Hubble tornou-se num ícone da Ciência porque consegue produzir imagens gloriosas," afirma Rick Fienberg, astrónomo da Sociedade Astronómica Americana.
Mas dentro em breve a Ciência dará outros passos em frente.
O Telescópio Espacial James Webb da NASA tem lançamento previsto para daqui a alguns anos. E outros novos observatórios espaciais estão também a ser considerados, mesmo que ainda não tenham recebido um avale oficial.
A visão colectiva destes telescópios espaciais gigantes cobre um espectro que varia desde o infravermelho até aos raios-X, e poderá permitir aos cientistas ver ainda mais para o passado, na direcção do início do Universo.
"Cada geração de telescópios lançada para o espaço é largamente superior que as anteriores, parcialmente devido à maior abertura mas também a melhores detectores," realça Fienberg.
O muito antecipado Telescópio James Webb (JWST) da NASA representa o próximo sucessor do Hubble, com lançamento previsto para 2014.
Com um espelho primário de 6,5 metros, tem quase sete vezes o poder do espelho do Hubble (2,4 metros). O JWST também bate o seu antecessor com um comprimento de 22 metros, quase o tamanho de um campo de ténis, em comparação com o tamanho de um autocarro escolar, 13,4 metros.
O Hubble observa o Universo principalmente na luz visível e em comprimentos de onda ultravioleta, com também uma pitada de infravermelho. Mas o JWST vai focar as suas observações em maiores comprimentos de onda. Isto significa que o JWST conseguirá ver as primeiras galáxias que se moveram devido à expansão do Universo, dado que a luz emitida por estas galáxias-bebés deslocou-se para a parte mais vermelho do espectro.
Existe um outro sucessor do Hubble e (já) do JWST ainda maior, mas por enquanto apenas em papel. O Advanced Technology Large Aperture (ATLAST) tem um espelho principal de pelo menos 8 metros de diâmetro, mas possivelmente poderá chegar aos 16 m. Este telescópio teórico da NASA representa um dos seus pontos altos para os anos entre 2025 e 2035.
Outros telescópios espaciais poderão complementar os sucessores directos do Hubble e ajudar a substituír outros telescópios espaciais actualmente em órbita como o Observatório de raios-X Chandra, o Telescópio Espacial Spitzer ou o Observatório Espacial Herschel. Tais instrumentos cobrem as periferias mais extremas do espectro, que raramente conseguem atravessar a atmosfera da Terra até telescópios no chão.
A próxima geração do Spitzer e Herschel poderá ser lançada em 2015. O observatório Single Apertur Far-InfraRed (SAFIR) usa um único espelho primário que mede entre 5 e 10 metros de diâmetro, em comparação com os 0,85 metros do Spitzer.
Assim sendo, o SAFIR será 1000 vezes mais sensível que o Spitzer e o Herschel a detectar sinais infravermelhos e microondas.
Outro projecto, o Observatório Internacional de raios-X (IXO), representa um esforço conjunto entre a NASA, a ESA e a JAXA (a agência espacial japonesa). Está desenhado como tendo um espelho raios-X concatenado com cerca de 20 vezes mais área que qualquer outro observatório em raios-X, e com um lançamento possível por volta de 2021.
Mas ao contrário dos telescópios que observam o Universo no infravermelho ou no ultravioleta, o IXO usa espelhos primários e secundários colocados quase de lado na direcção oriunda dos raios-X, para que a radiação ressalte de ambos num ângulo baixo. Isto impede com que os raios-X sejam simplesmente absorvidos pelos espelhos.
Outro projecto implica a construção de um telescópio raios-X numa escala ainda maior que a do IXO. A missão Generation-X tem 500 vezes a área de recolha do Observatório Chandra, e poderá examinar o nascimento e evolução das primeiras estrelas, galáxias e buracos negros.
Ainda outros projectos, como o Terrestrial Planet Finder (TPF) proposto pela NASA, envolvem uma rede de dois ou mais telescópios espaciais. Tais instrumentos podem imitar a resolução angular de lentes telescópicas muito maiores, ou até complementar observatórios na observação de fenómenos diferentes, como é o caso do TPF.
Os astrónomos naturalmente anseiam pela próxima geração de maiores e melhores telescópios espaciais, porque cada destas importantes missões custa para cima de mil milhões de dólares e podem levar entre 10 e 20 anos a desenvolver. As missões de serviço ajudaram o venerável Hubble a exceder o seu tempo esperado de vida, mas a maioria dos instrumentos apenas dura entre 5 e 10 anos.
"Mesmo que se construa um hoje e lance amanhã outro, estamos já a pensar no próximo e a fazer planos," explica Fienberg. "Caso contrário, acabamos com missões separadas por uma década."
Só o JWST vai custar à NASA, à ESA e ao Canadá qualquer coisa como 5 mil milhões de dólares, durante todo o seu ciclo de vida. "De momento, todos estes projectos à excepção do James Webb estão apenas no papel," afirma Fienberg. "O JWST vai ser o maior telescópio em órbita ainda durante algum tempo."
ÁGUA GELADA DESCOBERTA PELA PRIMEIRA VEZ EM ASTERÓIDE

Os asteróides podem muito bem não ser os bocados de rocha inerte que os cientistas há muito pensam que são.
Josh Emery, do departamento de ciências terrestres e planetárias da Universidade do Tennessee, Knoxville, EUA, descobriu evidências de água gelada e material orgânico no asteróide 24 Themis. Estas evidências suportam a ideia de que os asteróides podem ser os responsáveis por trazer água e material orgânico para a Terra.
Os achados estão detalhados na edição de 29 de Abril da revista Nature.
Usando o Telescópio Infravermelho da NASA em Mauna Kea, Hawaii, Emery e Andrew Rivkin da Universidade Johns Hopkins em Laurel, Maryland, EUA, examinaram a superfície de 24 Themis, um asteróide com 200 quilómetros em diâmetro que está situado entre Marte e Júpiter. Ao medir o espectro infravermelho reflectido pelo objecto, os investigadores descobriram que o espectro é consistente com água gelada e determinaram que 24 Themis está permeado com uma fina camada de gelo. Também detectaram material orgânico.
"Os materiais orgânicos detectados parecem ser moléculas complexas. 'Chovendo' numa Terra primitiva como meteoritos, estas podem ter dado o pontapé inicial para o começo da vida," afirma Emery.
Emery notou que a descoberta de gelo na superfície de 24 Themis foi surpreendente porque esta é demasiado quente para o gelo aí ficar durante muito tempo.
"Isto significa que o gelo é muito abundante no interior de 24 Themis e talvez em muitos outros asteróides. Este gelo pode ser a resposta ao puzzle da origem da água na Terra," afirma.
Mesmo assim, a origem da água no asteróide é incerta.
A distância de 24 Themis ao Sol faz com que o gelo vaporize. No entanto, as descobertas dos cientistas sugerem que a vida dos gelos no asteróide varia entre os milhares e os milhões de anos, dependendo da latitude. Por isso, o gelo deverá estar a ser regularmente reabastecido. Os cientistas teorizam que isto é alcançado por um processo de libertação gasosa no qual o gelo enterrado por baixo da superfície lentamente escapa como vapor, migra através de rachas à superfície ou escapa rapidamente e esporadicamente quando 24 Themis é atingido por detritos espaciais. Dado que Themis faz parte de uma "família" de asteróides formada a partir de um grande impacto e subsequente fragmentação de um corpo maior há muito tempo atrás, este cenário salienta que o corpo-mãe também continha gelo e tem profundas implicações para a formação do Sistema Solar.
A descoberta de gelo abundante em 24 Themis demonstra que a água é muito mais comum na cintura principal de asteróides do que se pensava.
"Os asteróides são geralmente vistos como sendo muito secos. Parece agora que quando os asteróides e planetas se formavam no início do Sistema Solar, o gelo prolongou-se para a região da cintura de asteróides," afirma Emery. "Aplicando esta visão para sistemas planetários em torno de outras estrelas, os constituintes da vida - água e material orgânico - podem ser mais comuns perto da zona habitável de cada estrela. Os próximos anos vão ser muito excitantes à medida que os astrónomos investigam para descobrir se estes blocos da vida também aí 'fizeram das suas'."
A descoberta dos cientistas também confunde ainda mais cometas com asteróides. Há muito que os asteróides são considerados rochosos e os cometas gelados. Além do mais, uma teoria afirma que foram os cometas que trouxeram a água para a Terra. Esta teoria foi descartada quando se descobriu que a água dos cometas tem assinaturas isotópicas diferentes que a água na Terra.
Agora, graças às descobertas de Emery e Rivkin, muitos questionam-se se os asteróides poderão ser os responsáveis por polvilhar a Terra com os ingredientes da vida.
AS DISTÂNCIAS NO CÉU NOCTURNO

Por vezes, a distância aparente entre dois objectos celestes - a distância que podemos realmente ver no céu - é indicada em termos de ângulos. Mas estas descrições podem ser como uma língua estrangeira para quem não está habituado. Por isso, aqui fica uma ajudinha.
Se medíssemos a distância em torno do círculo de todo o horizonte - de Norte, passando por Este, Sul, Oeste e Norte outra vez -, totalizávamos 360 graus.
Do horizonte ao ponto directamente por cima das nossas cabeças (o zénite), vão 90 graus; de um ponto no horizonte, passando pelo zénite, e continuando até ao lado do oposto do céu, são 180 graus.
Também pode usar o seu punho fechado como um sextante para medir a altura da Lua, de uma estrela ou planeta por cima do horizonte. Um punho fechado, à distância de um braço esticado, mede aproximadamente 10 graus. Por isso pode usar o seu punho para fazer uma razoável estimativa, quer horizontalmente quer verticalmente.
As próprias estrelas podem servir de réguas no céu. A famosa cintura de Orionte, por exemplo, mede coisa de 3 graus e as estrelas gémeas de Gémeos (Pollux e Castor) estão separadas por pouco mais de 4.
Esta semana, a constelação de Leão situa-se convenientemente alta no céu a Sul ao pôr-do-Sol. O padrão estelar em forma de "ponto de interrogação invertido" forma a cabeça de Leão e mede, de cima para baixo, 14 graus. A distância entre as duas estrelas mais brilhantes de Leão, Régulo e Denébola, é de 24 graus.
Ocasionalmente, dois planetas ou uma estrela e um planeta, parecem excepcionalmente perto um do outro no céu; a sua distância é menor que um grau.
Em tão invulgares casos, podemos medir a distância entre os dois objectos em décimas de grau ou, em casos mais extremos, em segundos de arco. Um grau, por exemplo, equivale a 60 arco-minutos. Meio grau, o tamanho aparente médio da Lua, é equivalente a 30 arco-minutos.
Na Ursa Maior, a estrela no meio da pega da frigideira é Mizar, e tem uma companheira mais ténue com um quinto do seu brilho, conhecida como Alcor.
Mizar e Alcor em tempos medievais testavam a vista dos arqueiros reais (caso conseguissem ver duas estrelas e não apenas uma, seriam aceites), mesmo embora pessoas com falta de vista consigam observá-las. Estão separadas por apenas 0,11º ou 6,6 arco-minutos (396 arco-segundos); se quiser pode observá-las esta noite. De facto, dois planetas brilhantes ou um planeta e uma estrela, separadas por esta distância ou menos, proporcionam uma esplêndida vista astronómica.
Nos próximos 20 anos terão lugar algumas conjunções muito próximas, nas quais dois objectos - ou dois planetas brilhantes ou uma estrela brilhante e um planeta - vão estar separados por menos de 12 arco-minutos. Na tabela abaixo encontram-se cinco exemplos.
DATA OBJECTOS SEPARAÇÂO ALTURA DE OBSERVAÇÂO
03/10/2012 Vénus/Régulo 0,07º Antes do nascer-do-Sol
27/08/2016 Vénus/Júpiter 0,09º Depois do pôr-do-Sol
21/12/2020 Júpiter/Saturno 0,06º Depois do pôr-do-Sol
28/07/2023 Mercúrio/Régulo 0,16º Depois do pôr-do-Sol
02/10/2028 Vénus/Régulo 0,27º Antes do nascer-do-Sol
Os estudiosos da Bíblia e da História terão certamente um interesse especial em observar a conjunção de Vénus/Júpiter em Agosto de 2016, pois há quem teorize que uma aproximação deste género, no céu a Este ao lusco-fusco do dia 3 de Agosto do ano 3 AC, poderia ter sido o que os reis Magos comunicaram ao Rei Herodes como sendo a famosa Estrela de Belém.
Ainda mais intrigante é a conjunção de Júpiter e Saturno no dia 21 de Dezembro de 2020.
As conjunções entre Júpiter e Saturno ocorrem à média de uma a cada 20 anos. Mas a de 2020 será invulgar porque é raro os planetas estarem tão próximos um do outro. Já alguma vez quis observar Júpiter e seus satélites a passarem pelo mesmo campo de visão telescópica que Saturno e o seu sistema de anéis?
Pois bem, será nessa noite! De facto, a última vez que estiveram tão perto foi em Julho de 1623 e só o estarão novamente em Março de 2080. Marque no seu calendário!
Dado que mede meio-grau em tamanho aparente, há quem pense que a Lua pode ser utilizada para medir distâncias angulares, mas tal não é o caso.
Em primeiro lugar, há a famosa ilusão de que o nosso satélite natural parece muito maior em tamanho quando está perto do horizonte. De facto, a Lua ao nascer pode por vezes parecer enorme, e uma ou duas horas depois parecer ter diminuído consideravelmente em tamanho. Este estranho efeito intrigou artistas e confundiu psicólogos durante muitos anos, e encantou pessoas desde tempos longínquos, até personagens famosas como Aristóteles, entre outros.
Ninguém parece saber com exactidão o porquê disto acontecer, embora a explicação mais popular é que a ilusão da Lua é uma ilusão óptica relacionada como a denominada ilusão de Ponzo, na qual a mente humana julga o tamanho de um objecto com base em objectos no pano da frente e de trás, como árvores ou casas, enganando o nosso cérebro a pensar que a Lua é muito maior do que na realidade é.
Mas mesmo quando está alta no céu, a Lua parece "demasiado grande" para medir meio-grau em diâmetro. E esta ilusão não está confinada ao céu, é ainda mais evidente no "Universo faz-de-conta" de um planetário.
Quandos os primeiros projectores foram desenhados e projectaram a imagem da Lua com meio-grau na cúpula de um planetário, tal como aparece no céu, descobriu-se que aparecia demasiado pequena para ser realista, embora tivesse o tamanho angular correcto em relação ao céu de fundo.
Para rectificar este problema, os engenheiros duplicaram o tamanho da imagem projectada da Lua para um grau, o que representa uma aparência muito mais realista; um dos únicos lugares onde a precisão foi sacrificada a favor do realismo.
Similarmente, a Lua parece muito maior contra um céu verdadeiro. Tente esta experiência mental uma destas noites, quando puder ver a Ursa Maior e a Lua no céu ao mesmo tempo.
Primeiro observe Dubhe e Merak, as duas estrelas usadas para apontar para a Estrela Polar. Agora, olhando para a Lua e novamente para Dubhe e Merak, tente estimar quantas Luas caberiam entre as duas estrelas.
Tenha em atenção que estas duas estrelas estão separadas por qualquer coisa como cinco graus e meio. E como já se disse, a própria Lua parece medir meio-grau em diâmetro.
Isto significa que conseguiria encaixar à volta de 11 Luas entre as duas estrelas. É um facto muito difícil de aceitar. Talvez caibam quatro Luas no espaço entre as duas estrelas; cinco no máximo.
Mas 11? O céu nocturno está cheio de surpresas.
UM ENXAME E UM MAR DE GALÁXIAS

Uma nova imagem de grande campo divulgada pelo ESO mostra vários milhares de galáxias longínquas, entre as quais se encontra um grande grupo pertencente a um enxame de galáxias de grande massa conhecido como Abell 315. Embora pareça já bastante denso em termos de objectos, este conjunto de galáxias é apenas a "ponta do icebergue", uma vez que Abell 315 - tal como a maioria dos enxames de galáxias - é dominado por matéria escura. A enorme quantidade de massa deste enxame desvia a radiação emitida pelas galáxias de fundo, distorcendo ligeiramente as suas formas observadas.
Quando observamos o céu a olho nu, vemos principalmente estrelas da nossa Via Láctea e algumas pertencentes às galáxias vizinhas mais próximas. As galáxias mais distantes são muito pouco luminosas para poderem ser observadas a olho nu, mas se as pudéssemos ver, elas cobririam literalmente todo o céu. Esta nova imagem divulgada pelo ESO cobre uma grande região no céu e é simultaneamente muito profunda, ou seja, foi obtida durante um tempo de exposição elevado, revelando assim milhares de galáxias que se amontoam numa área do céu correspondente mais ou menos ao tamanho da Lua Cheia.
Estas galáxias encontram-se a diferentes distâncias da Terra. Algumas estão relativamente perto de nós, e nelas podemos distinguir os seus braços espirais ou os halos elípticos, principalmente na parte superior da imagem. As mais distantes aparecem apenas como pequenas manchas muito pouco luminosas - a sua luz viajou através do Universo durante oito mil milhões de anos ou mais antes de chegar à Terra.
Começando no centro da imagem e estendendo-se para baixo e para a esquerda, uma concentração de cerca de cem galáxias amareladas identifica um enxame de galáxias de grande massa, designado com o número 315 no catálogo compilado pelo astrónomo americano George Abell em 1958. O enxame situa-se entre as galáxias vermelhas e azuis de fraca luminosidade e a Terra, a cerca de dois mil milhões de anos-luz de distância, na Constelação da Baleia.
Os enxames de galáxias são uma das maiores estruturas do Universo ligadas gravitacionalmente. Mas estas estruturas são muito mais do que as galáxias que podemos ver. Na realidade, as galáxias contribuem com apenas 10% da massa, enquanto que o gás quente existente entre as galáxias contribui com mais 10%. Os restantes 80% da massa são compostos por um ingrediente invisível e desconhecido chamado matéria escura que se encontra entre as galáxias.
A presença de matéria escura é revelada através do seu efeito gravitacional: a enorme massa do enxame de galáxias actua na radiação emitida por galáxias que se encontram por trás do enxame tal como uma lupa cósmica, encurvando a trajectória da luz e tornando as galáxias ligeiramente distorcidas. Ao observar e analisar as formas distorcidas destas galáxias de fundo, os astrónomos podem estimar a massa total do enxame responsável por essa distorção, mesmo quando a maior parte da massa é invisível. No entanto, este efeito é normalmente muito pequeno e por isso é necessário medi-lo para um elevado número de galáxias de modo a obter resultados significativos: no caso de Abell 315, foram estudadas as formas de quase 10.000 galáxias de fraca luminosidade desta imagem, de modo a estimar a massa total do enxame, que resulta em cerca de cem biliões de vezes a massa do nosso Sol.
Para complementar a enorme escala de distâncias cósmicas e tamanhos mapeados nesta imagem, estão igualmente espalhados pelo campo um punhado de objectos muito mais pequenos do que galáxias e enxames de galáxias e muito mais próximos da Terra: para além de várias estrelas pertencentes à nossa Galáxia, muitos asteróides aparecem igualmente sob a forma de rastos azuis, verdes ou vermelhos. Estes objectos pertencem à cintura de asteróides principal, situada entre as órbitas de Marte e Júpiter, e as suas dimensões variam desde algumas dezenas de quilómetros, para os mais brilhantes a apenas alguns quilómetros no caso dos menos brilhantes.
Esta imagem foi obtida com o instrumento Wide Field Imager montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros, no Observatório de La Silla, Chile. É uma imagem composta por várias exposições adquiridas em três filtros de banda larga diferentes, num total de quase uma hora para o filtro B e meias horas para os filtros V e R. O tamanho do campo é de 34x33 minutos de arco.
UM ENXAME E UM MAR DE GALÁXIAS

Uma nova imagem de grande campo divulgada pelo ESO mostra vários milhares de galáxias longínquas, entre as quais se encontra um grande grupo pertencente a um enxame de galáxias de grande massa conhecido como Abell 315. Embora pareça já bastante denso em termos de objectos, este conjunto de galáxias é apenas a "ponta do icebergue", uma vez que Abell 315 - tal como a maioria dos enxames de galáxias - é dominado por matéria escura. A enorme quantidade de massa deste enxame desvia a radiação emitida pelas galáxias de fundo, distorcendo ligeiramente as suas formas observadas.
Quando observamos o céu a olho nu, vemos principalmente estrelas da nossa Via Láctea e algumas pertencentes às galáxias vizinhas mais próximas. As galáxias mais distantes são muito pouco luminosas para poderem ser observadas a olho nu, mas se as pudéssemos ver, elas cobririam literalmente todo o céu. Esta nova imagem divulgada pelo ESO cobre uma grande região no céu e é simultaneamente muito profunda, ou seja, foi obtida durante um tempo de exposição elevado, revelando assim milhares de galáxias que se amontoam numa área do céu correspondente mais ou menos ao tamanho da Lua Cheia.
Estas galáxias encontram-se a diferentes distâncias da Terra. Algumas estão relativamente perto de nós, e nelas podemos distinguir os seus braços espirais ou os halos elípticos, principalmente na parte superior da imagem. As mais distantes aparecem apenas como pequenas manchas muito pouco luminosas - a sua luz viajou através do Universo durante oito mil milhões de anos ou mais antes de chegar à Terra.
Começando no centro da imagem e estendendo-se para baixo e para a esquerda, uma concentração de cerca de cem galáxias amareladas identifica um enxame de galáxias de grande massa, designado com o número 315 no catálogo compilado pelo astrónomo americano George Abell em 1958. O enxame situa-se entre as galáxias vermelhas e azuis de fraca luminosidade e a Terra, a cerca de dois mil milhões de anos-luz de distância, na Constelação da Baleia.
Os enxames de galáxias são uma das maiores estruturas do Universo ligadas gravitacionalmente. Mas estas estruturas são muito mais do que as galáxias que podemos ver. Na realidade, as galáxias contribuem com apenas 10% da massa, enquanto que o gás quente existente entre as galáxias contribui com mais 10%. Os restantes 80% da massa são compostos por um ingrediente invisível e desconhecido chamado matéria escura que se encontra entre as galáxias.
A presença de matéria escura é revelada através do seu efeito gravitacional: a enorme massa do enxame de galáxias actua na radiação emitida por galáxias que se encontram por trás do enxame tal como uma lupa cósmica, encurvando a trajectória da luz e tornando as galáxias ligeiramente distorcidas. Ao observar e analisar as formas distorcidas destas galáxias de fundo, os astrónomos podem estimar a massa total do enxame responsável por essa distorção, mesmo quando a maior parte da massa é invisível. No entanto, este efeito é normalmente muito pequeno e por isso é necessário medi-lo para um elevado número de galáxias de modo a obter resultados significativos: no caso de Abell 315, foram estudadas as formas de quase 10.000 galáxias de fraca luminosidade desta imagem, de modo a estimar a massa total do enxame, que resulta em cerca de cem biliões de vezes a massa do nosso Sol.
Para complementar a enorme escala de distâncias cósmicas e tamanhos mapeados nesta imagem, estão igualmente espalhados pelo campo um punhado de objectos muito mais pequenos do que galáxias e enxames de galáxias e muito mais próximos da Terra: para além de várias estrelas pertencentes à nossa Galáxia, muitos asteróides aparecem igualmente sob a forma de rastos azuis, verdes ou vermelhos. Estes objectos pertencem à cintura de asteróides principal, situada entre as órbitas de Marte e Júpiter, e as suas dimensões variam desde algumas dezenas de quilómetros, para os mais brilhantes a apenas alguns quilómetros no caso dos menos brilhantes.
Esta imagem foi obtida com o instrumento Wide Field Imager montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros, no Observatório de La Silla, Chile. É uma imagem composta por várias exposições adquiridas em três filtros de banda larga diferentes, num total de quase uma hora para o filtro B e meias horas para os filtros V e R. O tamanho do campo é de 34x33 minutos de arco.
DESCOBERTO O ENXAME GALÁCTICO MAIS DISTANTE ATÉ AGORA

Uma equipa internacional de astrónomos alemães e japoneses descobriu o enxame galáctico mais distante até agora conhecido - a 9,6 mil milhões de anos-luz. As observações em raios-X e no infravermelho mostraram que o enxame tem predominantemente galáxias velhas e massivas, demonstrando que as galáxias formaram-se quando o Universo era ainda muito jovem. Estas e outras observações similares providenciam novas informações não só sobre a evolução galáctica, mas também sobre a história do Universo como um todo.
Os enxames de galáxias são os maiores aglomerados no Universo. A nossa Galáxia, a Via Láctea, faz parte do enxame de Virgem, que compreende entre 1000 e 2000 galáxias. Ao observar as galáxias e enxames muito distantes da Terra, os astrónomos podem observar o passado, pois a sua luz emitida levou milhares ou milhares de milhões de anos a alcançar os telescópios dos astrónomos.
Uma equipa internacional de astrónomos do Instituto Max Planck para a Física Extraterrestre, da Universidade de Tóquio e da Universidade de Quioto, descobriu o enxame galáctico mais distante já observado. As observações em raios-X feitas pelo Subaru XMM-Newton Deep Field ajudaram a identificar os candidatos, e as observações no infravermelho usando o telescópio Subaru forneceram a informação da distância. Uma particularidade desta descoberta consiste no uso de comprimentos de onda infravermelhos, invisíveis ao olho nu. Isto é ditado pela expansão do Universo, que força as galáxias distantes a terem grandes velocidades, mudando a sua luz visível para comprimentos de onda infravermelhos. O instrumento MOIRCS (Multi-Object Infrared Camera and Spectrometer) acoplado ao telescópio Subaru trabalha em comprimentos de onda quase-infravermelhos, onde as galáxias são mais luminosas.
"O instrumento MOIRCS tem uma capacidade extremamente poderosa de medir distâncias às galáxias. Isto foi o que tornou possível a nossa difícil observação," afirma Masayuki Tanaka da Universidade de Tóquio. "Embora tenhamos confirmado só algumas galáxias massivas àquela distância, existem evidências convincentes de que o enxame é um enxame real e gravitacionalmente ligado."
O facto das galáxias individuais estarem ligadas pela gravidade foi confirmado por observações num comprimento de onda totalmente diferente: a matéria entre as galáxias do enxame é aquecida até temperaturas extremas e emite luz em comprimentos de onda muito mais pequenos que o visível à vista desarmada. A equipa usou por isso o observatório espacial XMM-Newton para observar esta radiação em raios-X.
"Apesar das dificuldades em recolher fotões em raios-X com um telescópio de tamanho similar a um telescópio de quintal, detectámos uma clara assinatura de gás quente no enxame," explica Alexis Finoguenov do Instituto Max Planck para Física Extraterrestre.
A combinação destas observações em diferentes comprimentos de onda levou à descoberta pioneira do enxame galáctico à distância de 9,6 mil milhões de anos-luz - 400 milhões de anos mais para o passado que o enxame que anteriormente detinha este recorde.
A análise dos dados recolhidos acerca das galáxias individuais mostra que o enxame contém já uma abundância de galáxias massivas e evoluídas, formadas qualquer coisa como 2 mil milhões de anos antes. Dado que os processos dinâmicos de envelhecimento galáctico são lentos, a presença destas galáxias requer que o enxame se agregue através da fusão de grupos massivos de galáxias, cada alimentando a sua galáxia dominante. O enxame é por isso um laboratório ideal para o estudo da evolução galáctica, numa altura em que o Universo tinha cerca de um-terço da sua idade actual.
Dado que estes distantes enxames galácticos são importantes exemplos da estrutura a larga-escala e das flutuações de densidade primordial no Universo, observações semelhantes no futuro irão proporcionar importantes informações para os cosmólogos. Os resultados obtidos até agora demonstram que as capacidades infravermelhas actuais conseguem fornecer uma análise detalhada das populações galácticas distantes e que a combinação com dados em raios-X se torna numa nova e poderosa ferramenta. A equipa está, então, à procura de enxames ainda mais distantes.
UM ENXAME E UM MAR DE GALÁXIAS

Uma nova imagem de grande campo divulgada pelo ESO mostra vários milhares de galáxias longínquas, entre as quais se encontra um grande grupo pertencente a um enxame de galáxias de grande massa conhecido como Abell 315. Embora pareça já bastante denso em termos de objectos, este conjunto de galáxias é apenas a "ponta do icebergue", uma vez que Abell 315 - tal como a maioria dos enxames de galáxias - é dominado por matéria escura. A enorme quantidade de massa deste enxame desvia a radiação emitida pelas galáxias de fundo, distorcendo ligeiramente as suas formas observadas.
Quando observamos o céu a olho nu, vemos principalmente estrelas da nossa Via Láctea e algumas pertencentes às galáxias vizinhas mais próximas. As galáxias mais distantes são muito pouco luminosas para poderem ser observadas a olho nu, mas se as pudéssemos ver, elas cobririam literalmente todo o céu. Esta nova imagem divulgada pelo ESO cobre uma grande região no céu e é simultaneamente muito profunda, ou seja, foi obtida durante um tempo de exposição elevado, revelando assim milhares de galáxias que se amontoam numa área do céu correspondente mais ou menos ao tamanho da Lua Cheia.
Estas galáxias encontram-se a diferentes distâncias da Terra. Algumas estão relativamente perto de nós, e nelas podemos distinguir os seus braços espirais ou os halos elípticos, principalmente na parte superior da imagem. As mais distantes aparecem apenas como pequenas manchas muito pouco luminosas - a sua luz viajou através do Universo durante oito mil milhões de anos ou mais antes de chegar à Terra.
Começando no centro da imagem e estendendo-se para baixo e para a esquerda, uma concentração de cerca de cem galáxias amareladas identifica um enxame de galáxias de grande massa, designado com o número 315 no catálogo compilado pelo astrónomo americano George Abell em 1958. O enxame situa-se entre as galáxias vermelhas e azuis de fraca luminosidade e a Terra, a cerca de dois mil milhões de anos-luz de distância, na Constelação da Baleia.
Os enxames de galáxias são uma das maiores estruturas do Universo ligadas gravitacionalmente. Mas estas estruturas são muito mais do que as galáxias que podemos ver. Na realidade, as galáxias contribuem com apenas 10% da massa, enquanto que o gás quente existente entre as galáxias contribui com mais 10%. Os restantes 80% da massa são compostos por um ingrediente invisível e desconhecido chamado matéria escura que se encontra entre as galáxias.
A presença de matéria escura é revelada através do seu efeito gravitacional: a enorme massa do enxame de galáxias actua na radiação emitida por galáxias que se encontram por trás do enxame tal como uma lupa cósmica, encurvando a trajectória da luz e tornando as galáxias ligeiramente distorcidas. Ao observar e analisar as formas distorcidas destas galáxias de fundo, os astrónomos podem estimar a massa total do enxame responsável por essa distorção, mesmo quando a maior parte da massa é invisível. No entanto, este efeito é normalmente muito pequeno e por isso é necessário medi-lo para um elevado número de galáxias de modo a obter resultados significativos: no caso de Abell 315, foram estudadas as formas de quase 10.000 galáxias de fraca luminosidade desta imagem, de modo a estimar a massa total do enxame, que resulta em cerca de cem biliões de vezes a massa do nosso Sol.
Para complementar a enorme escala de distâncias cósmicas e tamanhos mapeados nesta imagem, estão igualmente espalhados pelo campo um punhado de objectos muito mais pequenos do que galáxias e enxames de galáxias e muito mais próximos da Terra: para além de várias estrelas pertencentes à nossa Galáxia, muitos asteróides aparecem igualmente sob a forma de rastos azuis, verdes ou vermelhos. Estes objectos pertencem à cintura de asteróides principal, situada entre as órbitas de Marte e Júpiter, e as suas dimensões variam desde algumas dezenas de quilómetros, para os mais brilhantes a apenas alguns quilómetros no caso dos menos brilhantes.
Esta imagem foi obtida com o instrumento Wide Field Imager montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros, no Observatório de La Silla, Chile. É uma imagem composta por várias exposições adquiridas em três filtros de banda larga diferentes, num total de quase uma hora para o filtro B e meias horas para os filtros V e R. O tamanho do campo é de 34x33 minutos de arco.
HUBBLE OBSERVA ESTRELA A ESCAPAR DE 30 DOURADO

Uma estrela massiva está a fugir de um berçário estelar vizinho a mais de 400.000 km/h, uma velocidade que permite ir à Lua e voltar em menos de 2 horas. Esta fugitiva é o caso mais extremo de uma estrela massiva expelida do seu lar por um grupo de irmãs ainda mais massivas.
Esta estrela vagabunda está situada nos arredores da nebulosa 30 Dourado, um berçário estelar áspero na vizinha Grande Nuvem de Magalhães. A descoberta suporta a ideia de que as estrelas mais massivas no Universo Local residem em 30 Dourado, o que o torna num laboratório único para o estudo de estrelas gigantes. 30 Dourado, também denominado Nebulosa da Tarântula, está a aproximadamente 170.000 anos-luz da Terra.
As tantalizantes pistas são oriundas de três observatórios, incluíndo o recém-instalado instrumento COS (Cosmic Origins Spectrograph) do Telescópio Hubble, e de genuíno trabalho de detective, sugerindo que a estrela poderá ter viajado cerca de 375 anos-luz a partir do seu suspeito lar, um gigante enxame estelar denominado R136. Aninhado no núcleo de 30 Dourado, R136 contém algumas estrelas que ultrapassam as 100 massas solares cada.
As observações também proporcionam informações acerca do comportamento de enxames estelares massivos.
"Estes resultados são de grande interesse porque tais processos dinâmicos em enxames massivos e muito densos, foram previstos teoricamente há já algum tempo, mas esta é a primeira observação directa do processo numa região deste género," afirma Nolan Walborn do Instituto Científico do Telescópio Espacial (STSI) em Baltimore, EUA, e membro da equipa do instrumento COS que observou a estrela irrequieta. "Estrelas fugitivas menos massivas, observadas no Enxame da Nebulosa de Orionte, foram descobertas há mais de meio século atrás, mas esta é a primeira potencial confirmação das previsões mais recentes aplicadas aos enxames mais massivos e jovens."
Este tipo estelar pode existir de dois modos. Uma estrela pode encontrar uma ou duas mais pesadas num enxame massivo e denso, e ser expulsa através de um jogo estelar de pinball. Ou, uma estrela pode levar um 'pontapé' de uma explosão de supernova num sistema binário, no qual a estrela mais massiva explode primeiro.
"É geralmente aceite, no entanto, dado que R136 é suficientemente jovem, com 1 ou 2 milhões de anos, que as estrelas mais massivas do enxame ainda não explodiram como supernovas," afirma Danny Lennon, membro da equipa do COS no STSI. "Isto significa que a estrela só poderá ter sido expelida através de interacções dinâmicas."
A equipa de pesquisa, liderada por Chris Evans do Observatório Real de Edimburgo, publicou os resultados do estudo na edição on-line de 5 de Maio da revista Astrophysical Journal Letters.
Os astrónomos procuravam esta estrela fugitiva desde 2006, quando uma equipa liderada por Ian Howarth da Universidade de Londres a avistou com o Telescópio Anglo-Australiano no Observatório Siding Spring. A observação revelou que a estrela era azul-esbranquiçada, excepcionalmente quente, massiva e relativamente distante de qualquer enxame no qual este género estelar é geralmente encontrado.
Os astrónomos do Hubble encontraram outra pista inesperada quando usaram a estrela para calibrar o instrumento COS, instalado em Maio de 2009 durante a 4.ª Missão de Serviço. As observações espectroscópicas no ultravioleta, feitas em Julho desse ano, mostraram que a estrela desobediente está a libertar uma série de partículas carregadas num dos mais poderosos ventos estelares conhecidos, um claro sinal de que é extremamente massiva, talvez até com 90 vezes a massa do Sol. A estrela, por isso, também deve ser muito jovem, com cerca de 1-2 milhões de anos, pois estas estrelas extremamente massivas vivem apenas poucos milhões de anos.
Pesquisando por entre o arquivo de imagens do Hubble, os astrónomos descobriram outra prova importante. Uma imagem óptica da estrela obtida pela câmara WFPC2 em 1995 revelou que se encontrava no limite de uma cavidade oval. Os limites brilhantes desta cavidade prolongavam-se para trás da estrela e apontavam na direcção da sua anterior casa em 30 Dourado.
Outro estudo espectroscópico feito com o VLT do ESO no Observatório Paranal, Chile, revelou que a velocidade da estrela é constante e não o resultado do movimento orbital num sistema binário. A sua velocidade corresponde a um movimento invulgar relativamente aos arredores da estrela, provando que é uma estrela fugitiva.
O estudo também confimou que a luz oriunda da estrela provém de uma única estrela massiva, em vez da luz combinada de duas estrelas de menor massa. Em adição, a observação estabeleceu que a estrela é cerca de 10 vezes mais quente que o Sol, uma temperatura consistente com um objecto de alta-massa.
As observações do VLT fazem parte de um programa denominado Estudo Tarântula FLAMES (espectrografia multi-objecto do VLT). Este estudo, conduzido por uma equipa internacional liderada por Evans no Observatório Real, compreende mais de 900 estrelas na região de 30 Dourado. Tal como as observações da estrela com o COS, os resultados do FLAMES foram também fortuitas. A estrela está longe da região central da nebulosa, no limite do campo de estudo do FLAMES.
Esta renegada estelar pode muito bem não ser a única na região. Duas outras estrelas massivas e extremamente quentes foram avistadas para lá do limite de 30 Dourado. Os astrónomos suspeitam que estas estrelas foram também expulsas do seu lar. Planeiam analisar as estrelas em detalhe para determinar se 30 Dourado está a expulsar um conjunto de estrelas massivas para a vizinhança em redor.
Esta estrela continuará a viajar pelo espaço, afirma Paul Crowther, da Universidade de Sheffield no Reino Unido e também membro da equipa. Eventualmente, acabará a sua vida numa gigantesca explosão de supernova, provavelmente deixando para trás um buraco negro.
HUBBLE DESCOBRE UMA ESTRELA A COMER UM PLANETA

O planeta mais quente conhecido na Via Láctea pode também ser o seu mundo com a mais curta duração. De acordo com observações feitas por um novo instrumento a bordo do Telescópio Espacial Hubble da NASA, o COS (Cosmic Origins Spectrograph), este planeta condenado está a ser devorado pela sua estrela-mãe. O planeta pode ter apenas 10 milhões de anos antes que seja completamente destruído.
O planeta, denominado WASP-12b, está tão perto da sua estrela tipo-Sol que é superaquecido até mais de 1500º C e esticado na forma de uma bola de futebol americano pelas enormes forças das marés. A atmosfera inchou até quase três vezes o raio de Júpiter e está a libertar material para a estrela. O planeta é 40% mais massivo que Júpiter.
Este efeito de troca de material entre os dois objectos estelares é normalmente observado em sistemas binários, mas é a primeira vez que é tão claramente visto num planeta.
"Nós vemos uma gigantesca nuvem de material em torno do planeta, que está a escapar e que será capturado pela estrela. Identificámos elementos químicos nunca antes vistos em planetas para lá do nosso próprio Sistema Solar," afirma a líder da equipa, Carole Haswell da Universidade Aberta da Grã-Bretanha.
Os resultados de Haswell e da sua equipa científica foram publicados na edição de 10 de Maio da revista Astrophysical Journal Letters.
Um artigo científico teórico publicado na revista científica Nature em Fevereiro passado, por Shu-lin Li do Departamento de Astronomia da Universidade de Pequim, foi o primeiro a prever que a superfície do planeta estaria a ser distorcida pela gravidade da estrela, e que as forças gravitacionais tornavam o interior tão quente que expandia largamente a atmosfera superior do planeta. Agora o Hubble confirmou esta previsão.
WASP-12 é uma estrela anã amarela localizada aproximadamente a 600 anos-luz na direcção da constelação de Cocheiro. O planeta extrasolar foi descoberto pelo WASP (Wide Area Search for Planets) do Reino Unido em 2008. O estudo automatizado procura por uma diminuição periódica das estrelas devido ao trânsito de planetas. O planeta quente está tão perto da sua estrela que completa uma órbita em 1,1 dias.
A sensibilidade sem precedentes do COS no ultravioleta permitiu a medição da diferença na luz entre a estrela e o trânsito exoplanetário. Estas observações espectrais em UV mostraram que as linhas de absorção do alumínio, estanho, manganésio, entre outros elementos, tornavam-se mais nítidas à medida que o planeta passava em frente da estrela, o que significa que estes elementos existem na atmosfera do planeta bem como na da estrela. O facto que o COS pôde detectar estes compostos num planeta proporciona fortes evidências que a atmosfera do planeta está altamente prolongada devido à temperatura.
A espectroscopia UV foi também usada para calcular uma curva de luz com o intuito de mostrar com precisão a quantidade de luz estelar bloqueada durante o trânsito. A profundidade da curva de luz permitiu à equipa do COS medir com exactidão o raio do planeta. Descobriram que a exosfera que absorve UV é muito maior que a de um planeta normal com 1,4 vezes a massa de Júpiter. Estão tão dilatada que o raio do planeta excede o seu lóbulo de Roche, o limite gravitacional para lá do qual o material se perde para sempre da atmosfera do planeta.
SONDA PHOENIX PERMANECE SILENCIOSA, NOVA IMAGEM MOSTRA DANOS

A sonda Phoenix da NASA terminou oficalmente operações após várias tentativas de contacto terem falhado. Uma nova imagem transmitida pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter mostra sinais de grandes danos nos painéis solares provocados por gelo.
"A sonda Phoenix levou a cabo todas as suas investigações e excedeu o seu tempo de vida planeado," afirma Fuk Li, gestor do Programa de Exploração de Marte no JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, EUA. "Embora o seu trabalho tenha terminado, a análise dos dados enviados pela Phoenix vai continuar ainda durante algum tempo."
A semana passada, a sonda Mars Odyssey da NASA voou 61 vezes por cima do local de aterragem da Phoenix, numa tentativa final de comunicar com o "lander". Não foi detectada nenhuma transmissão. A Phoenix também não comunicou durante 150 voos em três campanhas anteriores de escuta.
A pesquisa cá na Terra continua graças às descobertas que a Phoenix levou a cabo durante o Verão no Norte de Marte, quando aí aterrou a 25 de Maio de 2008. O "lander" a energia solar completou a sua missão de três meses e continuou a trabalhar durante outros dois, até que não conseguiu receber energia suficiente para funcionar.
A Phoenix não estava desenhada para sobreviver o Inverno escuro, frio e gelado de Marte. No entanto, a ínfima possibilidade da Phoenix conseguir sobreviver não podia ser eliminada sem tentar ouvir a sonda após o regresso de luz solar abundante.
Uma imagem da Phoenix, obtida este mês pelo instrumento HiRISE, uma câmara a bordo da MRO, sugere que o "lander" já não provoca sombras da mesma maneira que durante o seu tempo de vida.
"As imagens antes e depois são dramaticamente diferentes," afirma Michael Mellon da Universidade do Colorado em Boulder, EUA, membro da equipa científica da Phoenix e da HiRISE. "Parece mais pequena, e apenas uma porção da diferença pode ser explicada pela acumulação de poeira, que torna a Phoenix menos distinguível da superfície em redor."
As mudanças aparentes nas sombras provocadas são consistentes com previsões de como a Phoenix poderia ser danificada pelas rigorosas condições ambientais marcianas. Antecipava-se que o peso acumulado de gelo de CO2 podia dobrar ou até partir os seus painéis solares. Mellon estimou que algumas dezenas de quilos de gelo provavelmente revestiram a Phoenix durante o Inverno.
Durante a sua missão, a Phoenix confirmou e examinou depósitos de água gelada detectada pela Odyssey e identificou um mineral chamado carbonato de cálcio, que sugeria a presença ocasional de água derretida. O "lander" também descobriu uma química no solo com implicações significativas para a vida e observou o caír de neve. A maior surpresa da missão foi a descoberta de percloratos, um químico oxidante cá na Terra que serve de alimento para alguns micróbios e é potencialmente tóxico para outros.
"Descobrimos que o solo por cima do gelo pode agir como uma esponja, e que o perclorato recolhe água da atmosfera e captura-a," afirma Peter Smith, investigador principal da Phoenix na Universidade do Arizona em Tucson. "Podemos ter uma fina camada de água capaz de ser um ambiente habitável. Um micro-mundo à escala de grãos de solo -- é aí que está a acção."
Os resultados da descoberta de percloratos estão a modelar as subsequentes pesquisas da astrobiologia, à medida que os cientistas investigam as implicações das suas propriedades anticongelantes e o uso potencial como uma fonte de energia para micróbios. A descoberta de gelo na camada superior de solo pela Mars Oydessey apontou o caminho para a Phoenix. Mais recentemente, a Mars Reconnaissance Orbiter detectou inúmeros depósitos de gelo a latitudes médias (mas a maiores profundidades) usando radar e expostos à superfície por recentes crateras de impacto.
"Os ambientes ricos em gelo são uma parte ainda maior do planeta do que pensávamos," afirma Smith. "Algures naquela vasta região existem lugares mais habitáveis que outros."
A MRO alcançou o planeta em 2006 para começar uma missão científica principal de dois anos. Os seus dados mostram que Marte teve diversos ambientes molhados em muitos locais durante alturas diferentes da história do planeta, e que os ciclos de mudança climática ainda persistem na era actual. A missão enviou mais dados planetários do que todas as outras missões marcianas combinadas.
A Odyssey já orbita Marte desde 2001. Esta missão também desempenhou importantes papéis ao servir de suporte para os rovers gémeos Spirit e Opportunity.
GALÁXIAS RICAS EM FORMAÇÃO ESTELAR? COMO GRÃOS DE AREIA

Astrónomos usando o Telescópio Herschel da ESA descobriram que as galáxias mais brilhantes tendem a estar nas partes mais movimentadas do Universo. Este bocado crucial de informação permitirá aos teóricos melhorar as suas teorias de formação galáctica.
Durante mais de uma década, os astrónomos coçaram cabeças devido a galáxias estranhas e brilhantes no Universo distante que pareciam estar a formar estrelas a velocidades fenomenais, o que as torna muito difícil de explicar com as teorias convencionais de formação galáctica. Uma questão importante tem sido os ambientes nos quais estão localizadas, tal como a que distância estão umas das outras. O Observatório Espacial Herschel, com a sua capacidade de mapear grandes áreas com extrema sensibilidade, foi capaz de observar milhares destas galáxias e identificar a sua localização, mostrando pela primeira vez que estão muito perto umas das outras, no centro de grandes enxames de galáxias.
Um projecto que usa o instrumento SPIRE a bordo do Herschel tem estudado grandes áreas do céu, actualmente totalizando 15 graus quadrados - cerca de 60 vezes o tamanho da Lua Cheia. As duas regiões mapeadas até agora encontam-se nas constelações da Ursa Maior e Dragão, bem longe da confusão da nossa própria Galáxia. As galáxias mais brilhantes observadas nos comprimentos de onda infravermelhos do Herschel são normalmente vistas tal como eram há cerca de 10 mil milhões de anos atrás - a sua luz viajou até nós desde aí.
Esta imagem em cores-falsas mostra uma pequena porção do céu observado pelo Herschel. Quase cada ponto de luz é uma galáxia inteira, cada contendo milhares de milhões de estrelas. As cores representam os comprimentos de onda infravermelhos medidos pelo Herschel - as galáxias mais avermelhadas estão ainda mais distantes ou contêm poeira mais fria, enquanto as galáxias mais brilhantes estão a formar estrelas mais vigorosamente. Embora à primeira vista as galáxias pareçam estar espalhadas aleatoriamente, de facto não o estão. Um olhar mais cuidado revela que existem regiões com mais galáxias, e regiões com menos. Este aglomerado galáctico no espaço fornece informações acerca do modo como interagem ao longo da história do Universo.
O Dr. David Parker, Director do Departamento de Ciência e Exploração Espacial da Agência Espacial do Reino Unido, afirma: "Estes novos e espectaculares resultados do Herschel são apenas uma amostra do que está para vir, à medida que o Herschel continua a desvendar os segredos dos estágios iniciais de formação estelar e galáctica no nosso Universo."
O Herschel observa material que não pode ser avistado em comprimentos de onda visíveis, nomeadamente gás frio e poeira entre as estrelas. Isto é bem ilustrado ao observar galáxias mais próximas, que podem ser vistas em detalhe. As Galáxias das Antenas, a uns meros 50 milhões de anos-luz de distância, são na realidade duas galáxias no processo de colisão e foram observadas como parte de um programa de observação diferente. O Herschel não observa a luz emitida pelas estrelas, mas as nuvens de poeira nas quais se formam novas estrelas. A colisão destas galáxias provocou uma explosão de formação estelar, mas tais fusões são relativamente raras no Universo hoje em dia. No entanto, há milhares de milhões de anos atrás, quando as galáxias estavam muito mais perto umas das outras, tais eventos eram muito mais comuns.
Apesar da nova janela para o Universo aberta pela radiação infravermelha, o Herschel não consegue ainda ver toda a paisagem. Três-quartos da matéria no nosso Universo é constituída pela misteriosa "matéria escura", que não emite brilho. Dado que não podemos observar a matéria escura, não sabemos ainda a sua constituição, mas podemos medir o seu efeito na matéria em redor. Embora não emita nem absorva luz, a matéria escura interage com o resto do Universo através da gravidade, gradualmente aglomerando grupos de galáxias em grandes enxames durante um período de milhares de milhões de anos. Embora existam hoje em dia muitas simulações computacionais que demonstram este processo, a capacidade de o medir em diferentes alturas da história do Universo permite aos astrónomos comparar as simulações com as medições reais.
Estes últimos resultados do Herschel, parte do programa "HerMES", mostraram que as galáxias mais brilhantes, detectadas com o instrumento SPIRE, preferencialmente ocupam regiões do Universo que contêm mais matéria escura. Isto parece ser especialmente verdade há cerca de 10 mil milhões de anos atrás, quando estas galáxias formavam estrelas a uma velocidade muito maior que a maioria das galáxias actualmente.
A nossa Galáxia, a Via Láctea, reside nos subúrbios de um grande superenxame centrado a aproximadamente 60 milhões de anos-luz de distância. O superenxame galáctico mais próximo do nosso está a cerca de 300 milhões de anos-luz de distância. Em comparação, há 10 mil milhões de anos atrás, as galáxias estavam separadas, em média, entre 20-30 milhões de anos-luz. A sua proximidade significa que muitas das galáxias iriam eventualmente colidir umas com as outras. São estas colisões que agitam o gás e a poeira nas galáxias e que provocam grandes explosões de formação estelar. O professor Asantha Cooray, da Universidade da Califórnia, é um dos astrónomos do HerMES que lidera a investigação, e comentou acerca dos resultados mais recentes: "Graças à soberba resolução e sensibilidade do instrumento SPIRE no Herschel, conseguimos mapear com detalhe a distribuição espacial de galáxias ricas em formação estelar durante as fases mais jovens do Universo. Todos os indícios mostram que estas galáxias estão ocupadas com colisões, fusões e possivelmente estabelecendo-se nos centros de grandes halos de matéria escura."
Foi necessária a sensibilidade e resolução do Hershchel para sermos capazes de identificar as galáxias mais brilhantes e estabelecer o modo como se aglomeram. O Dr. Lingyu Wang, da Universidade do Sussex, disse que "já sabemos há muito tempo que o ambiente desempenha um papel importante na evolução das galáxias. Com o Herschel, somos capazes de atravessar grandes quantidades de poeira e estudar o impacto do ambiente logo desde o início destas galáxias massivas que formam estrelas a velocidades incríveis. Isto permite-nos testemunhar o passado activo das galáxias elípticas e mortas de hoje, em alturas em que estavam em ambientes ricos."
O professor Seb Oliver, da Universidade do Sussex, co-líder do projecto HerMES, apresentou estes resultados a semana passada no Simpósio Primeiros Resultados do Herschel nos Países-Baixos. Ele afirma que "este resultado da equipa de Asantha é fantástico, é exactamente aquilo que esperávamos descobrir graças ao Herschel e que foi apenas possível porque podemos observar tantas galáxias."
Este estudo, parte do Projecto HerMES (Herschel Multi-tiered Extragalactic Survey) da missão Herschel, será publicado na revista Astronomy & Astrophysics, numa edição especialmente dedicada aos primeiros resultados científicos do telescópio espacial. O projecto vai continuar a recolher mais imagens ao longo de maiores áreas do céu com o objectivo de construír uma imagem mais completa de como as galáxias evoluíram e interagiram durante os últimos 10 mil milhões de anos.
EXOPLANETA APANHADO EM MOVIMENTO

Os astrónomos conseguiram, pela primeira vez, seguir o movimento de um exoplaneta, à medida que este move-se de um lado da sua estrela hospedeira para o outro. O exoplaneta tem a mais pequena órbita alguma vez detectada em exoplanetas observados directamente em imagens, situando-se quase tão perto da sua estrela como Saturno está do Sol. Os cientistas pensam que este objecto pode-se ter formado de modo semelhante aos planetas gigantes do Sistema Solar. Uma vez que a estrela é bastante jovem, esta descoberta mostra que planetas gigantes gasosos podem formar-se no interior de discos em apenas alguns milhões de anos, uma escala de tempo curta em termos cósmicos.
Com apenas 12 milhões de anos, ou seja menos que três milésimas da idade do Sol, Beta Pictoris tem 75% mais massa que a nossa estrela. Situada a cerca de 60 anos-luz de distância, na direcção da constelação de Pintor, este objecto é um dos exemplos mais conhecidos de uma estrela rodeada por um disco de poeiras e restos de matéria. Observações anteriores mostraram uma deformação do disco, um disco secundário inclinado e cometas em rota de colisão com a estrela. "Estes eram sinais indirectos, mas indicativos da presença de uma planeta de grande massa e as nossas novas observações demonstram este facto de forma definitiva," diz a líder da equipa Anne-Marie Lagrange. "Uma vez que a estrela é muito jovem, os nossos resultados mostram que planetas gigantes podem formar-se nestes discos em escalas de tempo tão pequenas como alguns milhares de anos."
Observações recentes mostraram que os discos em torno de estrelas jovens se dispersam ao fim de alguns milhões de anos, e que a formação de planetas gigantes deve por isso ocorrer mais depressa do que o que se julgava anteriormente. Beta Pictoris é a prova clara de que isso é efectivamente possível.
A equipa utilizou o instrumento NAOS-CONICA (ou NACO), montado num dos telescópios de 8,2 metros que compõem o Very Large Telescope do ESO (VLT), para estudar a região na imediata vizinhança de Beta Pictoris em 2003, 2008 e 2009. Em 2003 foi observada uma fonte fraca no interior do disco, mas não foi possível excluir a possibilidade de que se poderia tratar de uma estrela de fundo. Em novas imagens tiradas em 2008 e na Primavera de 2009, esta fonte tinha desaparecido! As mais recentes observações, obtidas no Outono de 2009, revelaram o objecto do outro lado do disco, depois de um período em que este se deve ter escondido ou atrás ou à frente da estrela (neste último caso o objecto encontra-se escondido no meio do brilho da estrela). Estas observações confirmaram que esta fonte é efectivamente um exoplaneta em órbita da sua estrela hospedeira. As observações forneceram igualmente informação sobre o tamanho e o tipo de órbita descrita em torno da estrela.
Dispomos de imagens de, aproximadamente, dez exoplanetas, sendo que o que se encontra em torno de Beta Pictoris (designado por "Beta Pictoris b") apresenta a menor órbita conhecida até agora. Encontra-se situado a uma distância da estrela de cerca de 8 a 15 Unidades Astronómicas (UA) - uma UA é a distância que separa a Terra do Sol - o que corresponde mais ou menos à distância de Saturno ao Sol. "O curto período do planeta permitir-nos-á observar uma órbita completa em cerca de 15 - 20 anos, e estudos mais detalhados de Beta Pictoris b fornecer-nos-ão importantes informações sobre a física e química da atmosfera de um planeta gigante jovem," diz o estudante de investigação Mickael Bonnefoy.
O exoplaneta tem uma massa de cerca de nove vezes a massa de Júpiter, dispondo igualmente da massa e localização certas para explicar a deformação observada no interior do disco. Esta descoberta apresenta, por isso, alguma semelhança com a predição da existência de Neptuno pelos astrónomos Adams e Le Verrier no séc. XIX, baseada em observações da órbita de Urano.
"Em conjunto com os planetas descobertos em torno das estrelas jovens de grande massa Fomalhaut e HR8799, a existência de Beta Pictoris b sugere que os super-Jupiteres podem bem ser frequentes produtos derivados da formação planetária feita em torno de estrelas de grande massa," explica Gael Chauvin, membro da equipa.
Tais planetas perturbam os discos que se encontram em torno das estrelas, criando estruturas que deverão ser facilmente observadas com o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), o telescópio revolucionário que se encontra em construção pelo ESO em conjunto com parceiros internacionais.
Obtiveram-se mais algumas imagens de outros candidatos a exoplanetas, mas todos eles se situam mais afastados da sua estrela hospedeira do que Beta Pictoris b. Se estivessem localizados no Sistema Solar, estariam todos próximo ou mesmo para além da órbita do planeta mais afastado do Sol, Neptuno. Os processos de formação destes planetas gigantes são provavelmente muito diferentes dos do nosso Sistema Solar e de Beta Pictoris.
"As imagens directas recentes de exoplanetas - muitas obtidas pelo VLT - ilustram bem a diversidade dos sistemas planetários," diz Lagrange. "Entre todos eles, o caso de Beta Pictoris b é o mais promissor no sentido de poder ser um planeta que se formou de modo muito semelhante aos planetas gigantes do nosso Sistema Solar."
KEPLER DIVULGA DADOS ACERCA DE 306 POTENCIAIS EXOPLANETAS

A missão Kepler da NASA divulgou 43 dias de dados científicos sobre mais de 156.000 estrelas. Estas estrelas estão a ser vigiadas em busca de mudanças subtis no seu brilho como parte de uma pesquisa por planetas tipo-Terra para lá do nosso Sistema Solar.
Os astrónomos vão usar os novos dados para determinar se esses planetas em órbita são os responsáveis pelas variações no brilho em 306 estrelas. Estas estrelas representam uma ordem completa de temperaturas, tamanhos e idades. Muitas delas são estáveis, enquanto outras pulsam. Algumas mostram manchas, parecidas às manchas solares, e outras libertam proeminências que muito possivelmente poderiam esterilizar os seus planetas mais próximos.
Kepler, um observatório espacial, procura por assinaturas de planetas nos dados recolhidos ao medir pequenas variações no brilho das estrelas quando os planetas passam em frente delas, ou transitam. O tamanho do planeta pode ser derivado da mudança de brilho na estrela.
A equipa científica do Kepler, com 28 membros, está também a usar telescópios terrestres e os Telescópios Espaciais Hubble e Spitzer da NASA para realizar observações posteriores num outro conjunto específico de 400 objectos de interesse. O campo estelar observado pelo Kepler nas constelações de Cisne e Lira pode apenas ser observado pelos observatórios terrestres entre a Primavera e o início do Outono. Os dados destas outras observações vão determinar quais dos candidatos podem ser identificados como planetas. Os dados do conjunto de 400 candidatos vão ser anunciados à comunidade científica em Fevereiro de 2011.
Sem informações adicionais, os candidatos que são verdadeiramente planetas não podem ser distinguidos de alarmes falsos, tais como estrelas binárias -- duas estrelas que se orbitam uma à outra. O tamanho dos candidatos planetários pode só ser aproximado até que o tamanho das estrelas que orbitam seja determinado por observações espectroscópicas adicionais feitas por telescópios terrestres.
"Estou ansioso para que a comunidade científica analise os dados e anuncie a descoberta de novos exoplanetas nos próximos meses," afirma Lia LaPiana, do programa Kepler na sede da NASA em Washington, EUA.
"Este é o conjunto de dados de fotometria estelar mais preciso, quase contínuo, mais longo e maior," afirma o vice-investigador principal do Kepler, David Koch do Centro de Pesquisa Maes da NASA em Moffett Field, Califórnia, EUA. "Os resultados só vão ser melhores com a maior duração do conjunto de dados."
O Kepler vai continuar a desempenhar operações científicas até pelo menos Novembro de 2012, pesquisando planetas tão pequenos como a Terra, incluíndo aqueles que orbitam estrelas numa zona habitável amena onde pode existir água no estado líquido à superfície de um planeta. Dado que os trânsitos de planetas na zona habitável de estrelas tipo-Sol ocorrem cerca de uma vez por ano e necessitam de três trânsitos para verificação, espera-se que demore pelo menos três anos a localizar e a verificar um planeta tipo-Terra.
"As observações do Kepler vão dizer-nos se existem muitas estreslas com planetas que possam ter condições para a vida, ou se estamos sozinhos na nossa Galáxia," diz o investigador científico William Borucki, também do Centro Ames.